Um dos conceitos mais
devastadores no ambiente celeste é o da iniquidade. Esse substantivo significa:
Que é contrário à justiça e à equidade; o antônimo de equidade é injustiça,
parcialidade, tendenciosidade, desigualdade, arbitrariedade, partidarismo,
facciosismo, facciosidade. Então, como o céu lida com os iníquos?
A resposta aparece em muitos textos bíblicos, mas, aqui
vamos ver apenas alguns:
O homem mau, o homem iníquo tem a
boca pervertida (Provérbios 6:12). A justiça dos virtuosos os livrará, mas na
sua perversidade serão apanhados os iníquos (Provérbios 11:6). Ai dos que puxam
a iniquidade com cordas de vaidade, e o pecado com tirantes de carro! (Isaías
5:18). Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; até
na terra da retidão ele pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do
SENHOR (Isaías 26:10). Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o
vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos
ouça (Isaias 59: 2).
No último texto bíblico acima há a
retumbante advertência sobre a pior das situações, a separação de Deus; a causa
da mortalidade. Essa terrível condição não parece tão avassaladora àqueles que
nascem sob o jugo (domínio) das leis morais impostas pelo pecado. Ser desigual,
diferente, parcial etc., é o normal no mundo. Todos lutam e usam os talentos –
dados por Deus – para se sobressaírem dos demais e serem notados e admirados. O
sistema educacional mundial, necessariamente, espera que nos tornemos
vencedores (desiguais) e alcancemos o hall da fama, de modo que sejamos
diferentes dos demais. Por esse motivo lutamos para conseguir fama e fortuna.
Qualquer objeto que possamos adquirir para nos tornar únicos transforma-se em
nossa vitória.
O conceito do reino dos céus é o
oposto. Jesus o definiu dizendo: “Mas não sereis vós assim; antes o maior entre
vós seja como o menor; e quem governa como quem serve” (Lucas 22:26). O que
está em análise aqui é a diminuição das desigualdades. Todas as vezes que
trabalhamos para erguer desiguais estamos contemplando a Cristo, estamos
atuando no ministério da redenção, estamos revelando a bondade de Deus, mas,
especialmente, estamos trilhando o caminho do arrependimento.
Desafortunadamente, os crentes,
de modo geral, não entendem o princípio fundamental do cristianismo, o serviço.
Muitos usam o ambiente eclesial para aperfeiçoar o sofisma do serviço ególatra travestido
de ministério cristão. Usam os dons distribuídos pelo Santo Espírito, como se
foram de sua propriedade pessoal, tornando-se diferentes e sobressaindo-se atraindo
aplausos. No afã de servirem ao ego, mas, como atores disfarçam que servem ao
próximo, trazem para dentro das igrejas a divisão e a luta pela desigualdade.
Fazem sempre confusão e partidarismos, portanto, promovem a iniquidade.
Um dos setores eclesiais que mais
facilmente adere à iniquidade é o da música. Tudo começa com o inocente desejo
de tocar um instrumento ou de cantar louvores. Na medida em que vão
desenvolvendo suas habilidades, vão acumulando elogios que, ao invés de serem
dirigidos a quem os dotou de talentos, são adicionados ao eu. Se há vários músicos
talentosos numa congregação, o inimigo planta o desejo do aplauso. Juntam-se os
talentos para o suposto trabalho missionário, mas, o inimigo astuto, impõe os
princípios do sistema oposto ao de Deus e o coração iníquo se robustece.
Em conjuntos vocais essa prática
de juntar os melhores (algo que aparenta ser muito bom e especial) logo
determina uma separação entre os que podem e os que ouvem. Os que podem impõem seu
gosto musical e seus modos, levando cativos os mais fracos para imitá-los. Bom
seria que os mais aptos se unissem para ajudar a desenvolver os dons nos menos
aptos e, como consequência de uma visão de serviços, a eventual união dos
talentos. Porém, há necessariamente uma segregação e os mais aptos se separam e
servem a si mesmos. Tornam-se admiráveis e, como resultado, iníquos.
Se é assim na música, é assim com
outros dons. O fariseu orava dizendo que agradecia a Deus por não ser igual aos
demais (Lucas 18:11). Todavia, quando os homens são convertidos e olham para
Jesus, o modelo, o sol da justiça passa a brilhar nos seus corações. Justiça é
muito diferente de iniquidade. Observar o amor de Deus demonstrado no
procedimento diário de Jesus fará com que o espírito egoísta nos entristeça e
passemos a desempenhar o papel de servos. Todo serviço na igreja deve ser
motivado pelo amor para diminuição das desigualdades. Não esqueçamos que são as
desigualdades que nos separam de Deus.
Terminamos com a seguinte reflexão: “Ainda que se mostre
favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; até na terra da retidão ele
pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do SENHOR” (Isaías 26:10). Ímpio
cristão? Infelizmente os há. Mas, graças a Deus por Jesus Cristo, o justo.