Cristãos envolvidos na pregação
do segundo advento de Jesus Cristo, entendem que é sua missão pregar essa
mensagem. Nas palavras do Pastor Erton Köhler “Há uma bênção especial no
envolvimento missionário e essa não é uma descoberta recente nem o resultado de
alguma estratégia nova. É a mensagem da Bíblia e o enfoque de um ministério de
70 anos e 100 mil páginas manuscritas de Ellen White. Essas mensagens
inspiradas ainda ajudam a igreja a se lembrar de que tudo o que possuímos e
somos deve ser usado na preparação de pessoas para que se encontrem com o
Senhor”.
Conforme o entendimento de
Köhler, a preparação de pessoas para o retorno de Jesus passa pelo envolvimento
dos membros na missão missionária e, citando Ellen White alerta que “A eles foi
confiada a última mensagem de advertência a este mundo a perecer”.
Percebe-se que há necessidade de
avisar o mundo de um iminente perigo, posto que está a perecer. Se o mundo
agoniza, está gravemente ameaçado. Seria a volta de Jesus uma ameaça? Em muitos
sentidos sim. Todavia, qual é o problema ameaçando ao mundo? Por que o regresso
de Jesus é perigoso para o mundo? Qual a advertência dada pela Bíblia a qual se
tornou a missão dos crentes?
Para boa parte dos cristãos,
incluindo o clero, deve-se intensificar o proselitismo, a catequese. Almas se
perderão se não forem batizadas. Até aqui, nenhuma observação equivocada, uma
vez que o evangelista Marcos afirma que “quem crer e for batizado será salvo;
mas quem não crer será condenado” (Marcos 16:16). Porém, a questão colocada por
Marcos não se exaure no batismo, mas se cumpre no crer, e Marcos considera que
o não crer condena. Logo, a advertência ou missão dada aos crentes é a de
produzir pessoas que creem. A pergunta seguinte é: crer em que? Se tal pergunta
fosse dirigida aos crentes e ao clero, apressadamente responderiam que a crença
é em Cristo. Certamente estariam seguros. Mas, o crer que Cristo existe, e que
está nos céus e retornará é o suficiente?
Há uma ameaça pairando sobre o
mundo. Em Apocalipse 14:7, há um aviso muito enfático soando: “Dizendo com
grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo.
E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”. O
texto expõe firmemente a necessidade de temer a Deus por causa do juízo. Então,
a ameaça que desestabiliza o mundo não é o regresso de Jesus propriamente dito,
e sim o juízo.
A principal causa para uma
condenação é que o mundo não adorou aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e
as fontes das águas. Em Apocalipse 19:5 há outra advertência: “E saiu uma voz
do trono, que dizia: Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que
o temeis, assim pequenos como grandes”. Aqui o adorador é advertido sobre o
louvor. Portanto, a ameaça que paira sobre o mundo está ligada ao temer Deus e ao
dar glória, porque é vindo o juízo. Então, é a missão dos crentes ensinar ao
mundo ameaçado, como temer a Deus e dar-lhe glória. Neste contexto, o batismo
apenas não nos parece suficiente.
Quando alguém é levado a juízo é
necessária a clara demonstração de que tal pessoa cometeu um crime, o qual é
tipificado como toda ação cometida com dolo, ou infração contrária aos
costumes, à moral e à lei. Um crime se estrutura por seus elementos material
(objetivo) e moral (subjetivo). O elemento material evidencia-se na ação; o
elemento moral na culpa do ato praticado, com o qual se violou a lei. No caso
do juízo aplicado por Deus, o elemento material é o ato de o mundo não ter
agido na demonstração do temor a Deus, sendo que se violou o primeiro artigo da lei do céu: “não terás outros deuses diante de mim”. Logo, o elemento moral
é a culpa por ter outros deuses como objeto de temor. Assim, a ameaça pairando
sobre o mundo é demonstrada e deve ser intensamente alardeada, pois há um juízo
necessário prestes a acontecer.
A palavra adoração no hebraico é עֲבוֹדָה
(AVODAH). A raiz da palavra “avodah” é AVOD, que significa “servir, serviço,
trabalhar”. A palavra para “adorar a Deus é a mesma para Trabalho”. O que quer
dizer que adoração é SERVIÇO A DEUS, trabalhar para Deus. Logo, o juízo investigará
e tornará culpado aquele que não trabalhou para Deus. Então, é necessário
definir o trabalho a Deus.
A adoração é todo serviço que as
criaturas fazem para Deus. E quando é que operamos em favor de Deus? Quando cuidamos
dos nossos filhos, cuidamos do nosso trabalho, cuidamos do nosso semelhante, tudo
isso é adoração. É exatamente o que recomenda a Torá. As leis sociais que
ordenavam a convivência social israelita tinham a preocupação da aplicação da
justiça em relação aos pobres e desafortunados, além dos deveres para com Deus.
O profeta Isaías no capítulo 58 adverte enfaticamente sobre a adoração, quando
salienta que Deus requer o serviço social e a guarda do sábado. Ali o profeta
demonstra a lógica da adoração e os algoritmos (para usar um termo moderno) que
devem ser entendidos para ultimar a adoração. Isto parece ratificado por Tiago
1:27 “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os
órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.
Quando o mundo dá maior
importância às obras humanas, cultuando-as - entendendo que ídolos esculpidos e
venerados como deuses são obras humanas – quer seja o conhecimento gerado nos
ambientes acadêmicos, quer seja o conhecimento gerado nos porões religiosos,
incorporando-os às liturgias eclesiásticas, então, o Senhor dos Céus, Jeová, é
preterido e substituído. O profeta Jeremias, falando como arauto de Deus
avisou: “E eu pronunciarei contra eles os meus juízos, por causa de toda a sua
malícia; pois me deixaram, e queimaram incenso a deuses estranhos, e se
encurvaram diante das obras das suas mãos” (Jeremias 1: 16). Na sequência, o
profeta informa que não há inteligência, mas que Deus providenciará
conhecimento: “E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos
apascentarão com ciência e com inteligência” (Jer. 3:15). Importante que se demarque
ciência e inteligência oriundas da Torá. Além disso, o profeta alerta sobre a
ausência da justiça quando diz: “Dai voltas às ruas de Jerusalém, e vede agora;
e informai-vos, e buscai pelas suas praças, a ver se achais alguém, ou se há
homem que pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei[...]
Engordam-se, estão nédios, e ultrapassam até os feitos dos malignos; não julgam
a causa do órfão; todavia prosperam; nem julgam o direito dos necessitados. Porventura não castigaria eu por causa destas
coisas? diz o SENHOR; não me vingaria eu de uma nação como esta? Coisa
espantosa e horrenda se anda fazendo na terra.” (Jeremias 5:1; 28-30).
Destacamos a última frase do
texto de Jeremias acima. Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra.
Esse é o perigo que paira sobre o mundo; se estriba no conhecimento humano e
não pratica a justiça. Obviamente que se o juízo é por causa desses crimes, o
regresso de Jesus não será um evento feliz para os que não forem avisados, mas
também para os que mesmo avisados não levaram a advertência a sério.
Por seu turno, o profeta Ezequiel
analisa o não cumprimento da missão dada aos crentes. “Quando eu disser ao
ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o
ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá
na sua iniquidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei” (Ez.3: 18). O
texto está mostrando que o proselitismo, como um fim, não é suficiente, sendo
necessário que os crentes ensinem o que o céu exige para que os homens sejam
salvos. Ter o nome no rol de uma igreja não torna seguro ninguém, em relação ao
juízo. Entretanto, às igrejas será atribuída a culpa por não terem realizado a
missão de ensinar a justiça, quer seja aos membros, quer seja aos não crentes.
Aliás, o apóstolo Pedro insiste
em que a missão dos crentes não é apenas fazer prosélitos, quando diz: “ Mas
vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (Pedro 2:9). Novamente, a missão é anunciar as virtudes, ou
seja, o caráter impressionantemente glorioso de Deus. Ele adquiriu a igreja
como sua especial possessão, a fim de que seus membros possam refletir seus
preciosos traços de caráter em suas vidas, e possam proclamar a bondade e a
misericórdia de Deus a todos os homens, da mesma forma como Jesus o fez.
Antes do regresso de Jesus haverá
um julgamento, conforme Apocalipse 14:7 divulga. O resultado desse julgamento
será uma ação de selamento naqueles que não serão atingidos pela ira de Deus,
do mesmo modo que os israelitas foram poupados no dia em que saíram do Egito.
Antes de qualquer juízo da parte de Deus há sempre uma investigação e uma ação
de selamento. O profeta Ezequiel mostra o que determina o selamento: “Então me
gritou aos ouvidos com grande voz, dizendo: Fazei chegar os intendentes da
cidade, cada um com as suas armas destruidoras na mão. E eis que vinham seis
homens a caminho da porta superior, que olha para o norte, e cada um com a sua
arma destruidora na mão, e entre eles um homem vestido de linho, com um
tinteiro de escrivão à sua cintura; e entraram, e se puseram junto ao altar de
bronze. E a glória do Deus de Israel se levantou de sobre o querubim, sobre o
qual estava indo até a entrada da casa; e clamou ao homem vestido de linho, que
tinha o tinteiro de escrivão à sua cintura. E disse-lhe o SENHOR: Passa pelo
meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos
homens que suspiram e que gemem por causa de todas as
abominações que se cometem no meio dela.
E aos outros disse ele, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele, e feri;
não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, jovens, virgens,
meninos e mulheres, até exterminá-los; mas a todo o homem que tiver o sinal não
vos chegueis; e começai pelo meu santuário. E começaram pelos homens mais
velhos que estavam diante da casa” (Ezequiel 9:1-6). Os selados serão aqueles
“que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no
meio dela”. Agora faça uma ligação desta lógica com a de Jeremias 5, citada acima.
Estamos vivendo em tempos nos
quais há muitíssima confiança nas tradições dos homens e no conhecimento
científico. Nas congregações, a contaminação da verdade com as tradições
tornou-se lugar comum. Há inversões do tipo usar dos costumes dos ímpios para
atrair ímpios. Todavia, esta metodologia está provocando adesão dos crentes às
tradições; deriva de foco, perigo assustador. Uma fonte estatística oficial diz
que em 2018, 44% dos batizados deixaram a congregação. Os números representam
muitas variáveis, porém, podem estar dizendo que tal desistência pode estar
relacionada com a falta de novidade de vida. Se tudo é igual ao mundo, por que
assumir responsabilidades com regras, sendo que se parecem com o restante da
sociedade? Talvez, aquele que nos
comprou e nos tirou das trevas, faça uma intervenção, para que não resulte o
que disse o profeta Jeremias: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos
salvos” (Jeremias 8:20).