Uma das consequências da
interpretação do sonho de Nabucodonozor , o qual é mencionado em Daniel 2, foi
a proclamação, pela boca do referido rei, das três virtudes do Deus dos céus:
no capítulo 4 do livro de Daniel está a mencionada declaração: “Quão grandes
são os Seus sinais, e quão poderosas, as Suas maravilhas! O Seu reino é reino
sempiterno, e o Seu domínio, de geração em geração” (Dn 4:3). A frase “Quão
grandes são os Seus sinais, e quão poderosas, as Suas maravilhas!” atestam a
onisciência e a onipotência de Deus, enquanto a frase “O Seu reino é reino
sempiterno, e o Seu domínio, de geração em geração” atestam a Sua onipresença.
O cabeça de ouro começa a conhecer Aquele que determina a história. Uma
pergunta aparece quando se lê tal relato: por que o Deus do céu se revela ao
monarca da Babilônia?
Nabucodonozor era o brilhante
imperador a quem Deus entregara o reino de Judá. Os judeus não se tornaram
esclarecidos quanto ao seu papel na primeira vinda do Messias, assim, falharam
em ser a embaixada do governo celeste entre as nações da Terra. Do seu papel de
influenciadores das nações para que estas se submetessem ao governo do
Altíssimo, caíram para influenciados pelas nações pagãs, assim que Deus toma um
rei icônico para que fosse motivo de cópia de outros reinos, e submete o
próprio rei à influência de quatro príncipes israelitas cuja educação religiosa
aprimorada seria influência avassaladora sobre um reino universal.
É de suma importância entender o
ambiente no qual estava Nabucodonozor. Ele havia conquistado um vasto império
e, tal feito o enchia de orgulho. No entanto, Deus o escolheu para ser
protagonista no cenário geopolítico da grande controvérsia por uma
característica: o rei era justo em muitos aspectos, porém, orgulhoso.
Orgulho tem sido um pecado
insuportável porque leva invariavelmente à não dependência de Deus. Através do
profeta Ezequiel, Deus explicou as implicações do orgulho: “Elevou-se o teu
coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do
teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te
contemplem” (Ez 28:17). Há no texto a demonstração da misericórdia de Deus para
com os homens: o anjo rebelde, com o seu orgulho fatal, foi lançado por terra,
diante dos reis, para que seja contemplado e seu exemplo seja um estímulo
grande contra o orgulho. Especialmente nos que amealham algum poder, o orgulho,
ou seja, a independência de Deus, pode se manifestar avassaladora. Somos todos
seres humanos caídos, dependentes de Deus para nossa existência. Esta é a visão
de mundo dos filhos de Deus. Inteligentemente, deve-se perceber que todos os
dons que temos, tudo o que realizamos com esses dons vêm somente de Deus. Portanto,
como ousamos ser orgulhosos, jactanciosos ou arrogantes quando, na realidade, a
humildade deveria dominar tudo o que fazemos? Essa visão de mundo é
diametralmente oposta ao orgulho, ela nos dá a exata perspectiva da mordomia
cristã.
Falando de Satanás, o Senhor
declara que ele não se firmou na verdade, ou seja, para ele o que lhe fora dado
por Deus e que estava à disposição, ele assumiu sendo seu próprio. Ele já foi
belo, radiante de luz; sua vida era a aplicação dos princípios da Lei do céu,
amor a Deus e amor ao próximo. Mas a Palavra de Deus declara a seu respeito:
“Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura” (Ez 28:17). Com este
raciocínio, o inimigo de Deus e dos homens tem proclamado que aquilo que temos,
nossos talentos e aptidões são nossos e, consequentemente, devemos usá-los para
benefício próprio. Tal visão de mundo resultou numa construção social onde a
concorrência e a competição levam à sobrevivência dos mais fortes. Essa era a
visão de mundo de Nabucodonozor.
Deus concedeu a Nabucodonosor um segundo
sonho. Neste, o rei tinha visto uma grande árvore que alcançava o Céu e um ser
celestial ordenando que ela fosse cortada. Somente o toco e as raízes deveriam
ser deixados na terra e seriam molhados com o orvalho do Céu. Mas o que deve
ter perturbado Nabucodonosor foi a parte do sonho em que o ser celestial disse:
“Seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e seja-lhe
dado coração de animal; e passem sobre ele sete tempos” (Dn 4:16). As árvores
são comumente usadas na Bíblia como símbolos de reis, nações e impérios (Ez 17;
31; Os 14; Zc 11:1, 2; Lc 23:31). Portanto, a grande árvore era uma
representação apropriada de um rei arrogante. O Senhor havia concedido a
Nabucodonosor domínio e poder; no entanto, ele persistentemente falhou em
reconhecer que tudo o que possuía vinha de Deus. Nabucodonosor não aceitou a
mensagem enviada do Céu. Um ano depois de ter sido assim advertido, quando
passeava pelo palácio, disse de si para si: “Não é esta a grande Babilônia que
eu edifiquei?” […] O Deus do Céu leu o coração do rei e ouviu os seus murmúrios
de congratulações próprias. […] “Desceu uma voz do Céu: A ti se diz, ó rei
Nabucodonosor: Já passou de ti o reino. Serás expulso de entre os homens, e a
tua morada será com os animais do campo; e far-te-ão comer ervas como os bois,
e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que aprendas que o Altíssimo tem
domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. No mesmo instante, se
cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor” (Dn 4:30-33; Vidas Que Falam [MM 1971],
p. 253).
Este episódio é altamente
informativo. Nossa inteligência é uma dádiva de Deus. Por essa razão, a
inteligência pode ser retirada por Deus. À luz da eternidade, será visto que
Deus lida com os homens de acordo com a momentosa questão da obediência ou
desobediência (Este Dia Com Deus [MM 1980], p. 350).
Mais uma vez o profeta Daniel é
chamado para interpretar ao rei o sonho. Ele não apenas interpretou, mas também
indicou uma solução: “Aceita o meu conselho e põe termo, pela justiça, em teus
pecados e em tuas iniquidades, usando de misericórdia para com os pobres; e
talvez se prolongue a tua tranquilidade” (Dn 4:27). Em outra versão lemos “Renuncia
a teus pecados e à tua maldade, pratica a justiça e tem compaixão dos
necessitados. Talvez, então, continues a viver em paz”. Compreender estas
coisas, isto é, que “a justiça exalta as nações” (Pv 14:34); que “com justiça
se estabelece o trono” (Pv 16:12), e “com benignidade” ele se “sustém” (Pv
20:28); reconhecer a ação desses princípios na manifestação de Seu poder que
“remove os reis, e estabelece os reis” é compreender a filosofia da história.
Só na Palavra de Deus é que isso
é claramente estabelecido. Nela é mostrado a nós que a força tanto das nações
quanto dos indivíduos não se encontra nas oportunidades ou facilidades que
parecem torná-los invencíveis, nem na grandeza de que tanto se orgulham. Ela é
medida pela fidelidade com que eles cumprem o propósito de Deus (Profetas e
Reis, p. 502).
O eloquente exemplo do nosso
salvador é contrastante com a visão de mundo que estamos acostumados: Humilde,
gentil, terno e compassivo, Ele andava fazendo o bem, alimentando os famintos,
erguendo o abatido, confortando os tristes. Ninguém que a Ele viesse em busca
de auxílio saía desapontado. […] Ele viveu a vida que quer que vivam todos os
que creem Nele. Sua comida e bebida era fazer a vontade de Seu Pai. A todos que
a Ele vinham buscar ajuda Ele comunicava fé, esperança e vida. Aonde quer que
fosse levava bênção. A terna simpatia de nosso Salvador foi despertada em favor
da humanidade caída e sofredora. Se vocês desejam ser Seus seguidores, devem
cultivar a compaixão e a simpatia. A indiferença para com os infortúnios
humanos deve ceder lugar ao vivo interesse pelos sofrimentos dos outros. As
viúvas, os órfãos, os enfermos e os que estão a perecer, sempre necessitarão de
auxílio. Eis uma oportunidade para proclamar o evangelho – para exaltar Jesus,
a esperança e consolação de todos os homens. Quando o sofrimento do corpo é aliviado,
abre-se o coração, e vocês podem derramar nele o bálsamo celestial. Se estão
olhando para Jesus, e Dele tirando conhecimento, força e graça, podem comunicar
a outros a Sua consolação, pois o Consolador está com vocês (Minha Consagração
Hoje [MM 1953, 1989], p. 230).
Deus permitiu que Nabucodonosor fosse acometido por uma doença estranha, mas no fim Ele prontamente o restaurou a um estado mental sadio. Curiosamente, tudo mudou quando, ao final dos sete anos preditos pelo profeta, o rei enfermo levantou os olhos para o Céu (Dn 4:34). Numa proclamação pública admitiu sua culpa e a grande misericórdia de Deus em sua restauração” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 520). Como o caso de Nabucodonosor ilustra, Deus concede uma chance após outra para nos restaurar a um relacionamento justo com Ele. Como Paulo escreveu muitos séculos depois, o Senhor “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2:4). Vemos nessa história um exemplo poderoso dessa realidade.
Por meio de Jesus, foi a
misericórdia divina manifesta aos homens; a misericórdia, no entanto, não pôs
de parte a justiça. A lei revela os atributos do caráter de Deus, e nem um jota
ou til da mesma se podia mudar, para ir ao encontro do homem em seu estado caído.
Deus não mudou Sua lei, mas sacrificou-Se a Si mesmo em Cristo, para redenção
do homem. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5:19; O
Desejado de Todas as Nações, p. 761, 762). Deve o povo de Deus adquirir
experiência mais profunda e mais vasta nos assuntos da religião. Cristo é o
nosso exemplo. Se, mediante fé viva e santificada obediência à Palavra de Deus,
manifestamos o amor e a graça de Cristo, se demonstramos raciocínio afinado com
as providências com que Deus dirige a Sua obra, manifestaremos ao mundo um
poder convincente. Não é a posição elevada que nos confere valor aos olhos de
Deus. O homem é medido pela sua consagração e fidelidade no cumprimento da
vontade divina. Se o remanescente povo de Deus andar perante Ele com humildade
e fé, Deus, por meio deles executará Seu eterno propósito, capacitando-os para
trabalhar em harmonia para dar ao mundo a verdade tal qual é em Jesus (Testemunhos.,
v. 9, p. 274).