sábado, 16 de fevereiro de 2019

A capacidade humana para atualizar e ampliar o sistema operacional criado por Deus


Sistemas operacionais

Desde que se tornou possível a conexão entre neurociência e inteligência artificial, muito se pode compreender sobre comportamento e relações de causa e efeito. Não é possível dizer que os computadores poderão substituir a inteligência humana, porque os Softwares de Inteligência Artificial tão somente conseguem imitar uma parte restrita do cérebro ligada à compreensão de causa e efeito e entendimento de processos lógicos, desde que sejam alimentados previamente com informações. Contudo, informações são o combustível mais importante para determinar comportamentos. As informações necessariamente precedem as tomadas de decisões, ou seja, um sistema de informações sempre será necessário para gerenciamento de qualquer iniciativa ou ambiente.

No caso dos computadores, os sistemas operacionais são as importantes e imprescindíveis bases para o entendimento e execução dos processos lógicos. Cada sistema operacional carrega uma determinada quantidade de informações utilizáveis para o cumprimento de funções primárias e secundárias. Em muitos casos, não há compatibilidade entre sistemas operacionais. Assim que, diferentes sistemas levam a diferentes resultados.

No caso humano, uma criança já nasce com um sistema operacional mínimo que a mantem interatuando com a lógica de causa e efeito do meio ambiente. Todavia, o complexo meio que a cerca vai, através da aprendizagem, atualizando e conformando o sistema operacional original. Assim, as relações de causa e efeito vão sendo reconhecidas e, na medida em que o tempo passa, será possível entender relações de causa e efeito cada vez mais complexas, o que torna o humano apto a conviver com seu ambiente. Porém, mesmo com a capacidade de entender relações de causa e efeito, essa evolução poderá acontecer ou não na razão direta da quantidade de informação adicionada, daí termos pessoas mais sofisticadas do que outras. Entretanto, é o sistema operacional que determina quais relações de causa e efeito serão compreendidas. Neste domínio, um excelente sistema educacional ajuda muitíssimo.

Os dois sistemas operacionais antagônicos

A visão de mundo judaico-cristã acolhe que nosso orbe, segundo a Bíblia, foi criado por Deus. Isto está fortemente determinado no primeiro capítulo de Gênesis, o primeiro livro da Torá. A descrição da criação grafada por Moisés é um primoroso texto que nos revela o quão capaz era Moisés para lidar com relações de causa e efeito ultra complexas. Assim, ele começa dizendo que Deus criou no princípio e, tal noção leva-nos a ver que a informação necessária para o estabelecimento de relações lógicas foi aportada imediatamente no primeiro dia da criação. A partir dali toda a lógica criacional e a lógica das relações de causa e efeito pode ser racionalizada.

Vamos mirar um pouco o primeiro dia da criação. “E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro”.

Ora, pode haver a possibilidade de Deus criar sem que a perfeição esteja como consequência? Se não, então por que Deus examinou a luz que criara? Ele chega a conclusão “que era boa a luz”. Se a luz era boa, então poderia existir uma luz não boa? Essa questão só poderá ser respondida se soubermos a definição ou o conceito de luz, no contexto da criação, ou seja, no texto bíblico. Assim, será importante verificar como a luz está definida. Chama atenção o fato de Genesis definir luz como dia e as trevas (ausência da luz) como noite. No evangelho de João (8:12) Jesus ensina dizendo: “... Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”. Aqui Ele pondera que o modelo de comportamento que Ele projetava equivalia à luz; o antagonismo ao citado modelo equivalia à treva. Em outro momento, Jesus ensina que (João 9:5) “... Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. Logo, a luz no ambiente bíblico não é o agente físico que permite a visibilidade aos objetos e nem é uma energia eletromagnética radiante que pode ser captada pelo sentido da visão.  Mas sim, um sistema moral que determina comportamentos. Por essa razão, Jesus outra vez distingue também os seus seguidores como “...a luz do mundo” (Mateus 5:14), definindo um sistema moral que deveria estar prontamente visível, pois afirma que “... não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte...”.  Em sua primeira carta (I João 1:5-7) o apóstolo João define claramente o sistema moral dizendo que “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade.  Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”.

O que se pode concluir de Genesis 1 é que a luz do primeiro dia não era energia eletromagnética radiante (esta parece mais explicitada no quarto dia da criação com o surgimento dos astros), mas o sistema operacional necessário para que as relações de causa e efeito posteriores pudessem operar na lógica do céu, ou seja, na lógica da eterna lei da cooperação contida na Torá. Como a criação da Terra aconteceu pós rebelião de Lúcifer e seus anjos, o exame da luz fora necessário. Deus estava diante de uma adulteração do Seu sistema provocada pela rebelião de Lúcifer, consequentemente, precisava examinar para atestar se a luz, ou seja, o sistema moral, estava em conformidade com a Sua lei; uma espécie de acreditação necessária, pois a Terra seria a demonstração universal das virtudes do sistema operacional divino (E.G.White, História da Redenção p.20).

Na Torá está especificado todo o sistema moral desejado por Deus. Todas as ordenanças e estatutos para a convivência social mostram uma única preocupação: a cooperação. Da mesma forma, na narrativa de Genesis capítulo 1, vemos na sequência da criação que cada ato criador pressupõe a existência de um ato anterior, fato observado pelo salmista quando exclama (Salmos 19: 1-4) “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.  Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol...”. A última frase afirma que tudo estava voltado para a luz. Depois, nos versos 7 e 8 o salmista liga a criação com a lei: “A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos”. Novamente, na última frase ele chama o sistema moral de luz que ilumina os olhos, e estes são símbolo de inteligência no ambiente hebraico.

Se uma criança nasce com um sistema operacional mínimo o qual poderá ser aprimorado (Jer. 31:33 Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração), então o cabedal de informações que receberá determinará quais atualizações do seu sistema operacional serão permitidas. Daí o sábio Salomão dizer que se deve ensinar a criança para que, ao se tornar velho, não saia da vereda ensinada.

O sistema operacional de Deus

               Olhando o universo com cuidado vemos um muitíssimo elaborado conjunto de sistemas e subsistemas que formam um todo, cuja finalidade é proporcionar condições para existência da vida. Sistemas são conjuntos de partes ou entes justapostos em ordem única que, regidos por uma ordenação geral, operam de modo a produzir um resultado singular. Assim, no universo, tudo está finamente ajustado com precisão milimétrica, a qual é mantida por constantes primordiais sustentadas inalteradas a despeito de flutuações ambientais provocadas ou não. Por outo lado, observa-se uma misteriosa tendência da matéria para se organizar a si mesma, espontaneamente, para dirigir-se a estados incessantemente mais ordenados e complexos. Isto parece informar que o universo tem um eixo, um sentido. Se há no cosmo uma tendência do heterogêneo para o homogêneo, então há uma causa para essa harmonia topológica de cargas, uma inteligência. Por exemplo, há na química um princípio conhecido como estabilização topológica de cargas. Isto implica que as moléculas que suportam em sua estrutura cadeias de átomos em alternância (especialmente o carbono, o nitrogênio e o oxigênio) formem ao se reunirem, sistemas estáveis. Tais sistemas expõem a mecânica do ser vivo, os aminoácidos. Sempre segundo o mesmo princípio da afinidade atômica, os referidos elemento irão se reunir para formar os peptídeos. Tal processo leva a matéria numa irresistível espiral ascendente. As moléculas nitrogenadas associando-se aos fosfatos e aos açucares elaboram os protótipos dos nucleotídeos que, por sua vez, formam cadeias intermináveis dando emergência ao DNA. Em outras palavras, a natureza produz ordem.

Essa regulagem de precisão vertiginosa resulta de uma inteligência que transcende nossa realidade. Tudo o que se pode entender é que a mais simples obra da criação é formada por vários sistemas que, desempenhando funções diversas produzem um efeito que estava previsto para finalidade objetiva. A somatória dos vários sistemas da mesma espécie produz outro efeito com finalidade prevista. As várias espécies de sistemas formam gêneros e famílias de sistemas cada vez mais complexos e que, em cada nível de universalidade produzem efeitos também complexos e com finalidades vertiginosamente ou intencionalmente previstas. Há um conceito por traz de todos esses sistemas que monta a mais complexa unidade jamais vista. A isto chamamos universo.

Na superfície da Terra encontramos dois sistemas que chamamos de litosfera e biosfera e, acima destes sistemas está a atmosfera. São sistemas que interagem entre si de forma integral. A litosfera produz efeitos que agenciam a biosfera e ambas interferem na atmosfera. Um dos exemplos destas interações são os aerossóis, ou partículas sólidas que estão em suspensão na atmosfera. Essas partículas são oriundas da litosfera e da biosfera e causam a aglutinação de minúsculas gotas de água, em forma de vapor, que vão se unindo aos aerossóis para formar as nuvens. O pólem das plantas é um importante componente dos aerossóis. Onde a litosfera não está coberta pelo verde as chuvas são mais escassas. Como vimos, a interação entre os sistemas faz funcionar ciclos vitais, como o da água. É importante salientar que há um juízo de engenharia muito complexo, o qual muito dificilmente resultou do acaso, mas, foi produzido por uma inteligência que objetivou o conceito de unidade, o qual dá surgimento à cooperação.

O corpo humano é outro extraordinário exemplo de sistemas montados e finamente ajustados para produzir vida. Ali não são permitidas hipertrofias ou hipotrofias de quaisquer ordens, seja das células, dos órgãos ou dos sistemas. É necessariamente importante que todos operem harmoniosamente através de constantes, sem as quais não pode haver o que chamamos saúde. Tal conformidade não resulta do acaso. Há muita engenharia, o que pressupõe inteligência. Um pássaro, por exemplo, é um produto único de engenharia, onde todas as suas partes foram pensadas para produzir um efeito, o vôo. Todos os sistemas no corpo de um pássaro estão ajustados para que voe. Ossos leves com sacos aéreos, sistema circulatório com um coração capaz de bombear sangue para manter a musculatura das asas em ação, penas de vários formatos nas asas que, justapostas como são, facilitam o vôo ajudando na sustentação, além de permitirem as manobras no ar. Uma peça de engenharia ajustada de forma milimétrica para permitir o vôo, tudo negando peremptoriamente o efeito do acaso. Nos exemplos citados há insofismável demonstração de uma intenção para produzir cooperação e harmonia, o que pressupõe inteligência.

O sistema operacional de Deus no antigo Israel

Podemos enxergar unidade no sistema proposto à socio-economia israelita. Havia instruções, estatutos e leis para que a justiça fosse necessariamente presente nas relações sociais. Por exemplo, no sistema shemita (lê-se shemitá e significa deixar livre), a contagem de tempo obedecia ao sistema septuagenal.  Havia o shemita semanal, no qual cada sétimo dia da semana era deixado livre, assim como o shemita anual, no qual em cada sete anos o sétimo era deixado livre. Também, havia o shemita para períodos de 49 anos, ou seja, sete períodos de sete anos; o quinquagésimo ano era o jubileu e, portanto, deixado livre. Em todos esses shemitas no sétimo período algo era devolvido a Deus e aos semelhantes. Assim, a cada sete anos, no sétimo ano havia perdão de dívidas e libertação de escravos, além disso, os campos passavam ao domínio público durante o sétimo ano, significando que não haveria novo plantio com vistas ao comércio, mas a produção espontânea do que já estava era de todos; também a cada jubileu, todas as terras vendidas durante o período de 49 anos, voltavam aos donos originais, uma espécie de preservação do direito de uso à terra pela nova geração que não usufruiu do direito porque seus ancestrais a tinham vendido. Esse sistema de administração agrária promovia unidade entre a terra e as próximas gerações da família daquele que a possuía originalmente.

Vemos um complexo e inteligente sistema de unidade e justiça, quase inconcebível nos dias atuais, nos quais unidade é palavra em desuso, imperando a competição e separação por cobiça.  Todo a sistema religioso israelita tinha como pano de fundo a unidade entre os cidadãos e entre os cidadãos e Deus. Também o sistema comercial era gerenciado com a premissa da unidade. Por exemplo, era vedado emprestar dinheiro a juro, porque entre irmãos não era permitido exploração e ganância. Durante o reinado de Davi e nos primeiros anos do reinado de Salomão, o sistema de justiça estava em operação, produzindo anos de muita prosperidade. As tribos de Israel formavam um sistema de cooperação inteligente o qual era capitaneado pelo líder político, pelos líderes religiosos e pelos cabeças das famílias.

A igreja cristã atual e os dois sistemas operacionais

Na medida em que somos vítimas ou parceiros dos sistemas, há um perigo real quando tentamos operar sistemas operacionais excludentes. Esse é o caso da igreja cristã atual. Esta parece querer viver um sincretismo desastroso que traz um amalgama fatal de sistemas. Ratificamos aqui que sistemas são um conjunto de elementos que, unidos por um fio condutor, são mantidos conectados para provocar um determinado efeito. Assim, sistemas geralmente são excludentes por natureza, mas podem cooperar se os efeitos quando somados produzirem um bem superior. Esse tipo de cooperação somente é possível com sistemas baseados em princípios comuns. Se eventualmente se aproximam dois ou mais sistemas que não atuam por princípios únicos, a tendência é entropia e falência. Desta forma, o sincretismo religioso não pode ser prestigiado. Os princípios cristãos são diferentes dos princípios das religiões afro-asiáticas, e diferente das religiões de origem muçulmanas, etc., o que torna sua proximidade e cooperação inexistente. Neste aspecto, códigos morais, visões sociais e políticas divergem frontalmente. Ecumenismo será uma situação inaplicável e já temos um bom vislumbre através da incompatibilidade entre cristianismo e islamismo. Uma parcela considerável do terrorismo mundial provém dessa fundamental divergência.

Quanto ao cristianismo, sua premissa é amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-40). Cada cristão é um elemento de um grande sistema cujo fio condutor é o amor e que, se bem compreendido, deverá produzir o excelente efeito da cooperação ou reprodução do caráter do criador. Assim, vemos, por exemplo, o efeito dessa cooperação no matrimonio. Um casal se une para produzir uma família, e esta é a base fundamental do sistema operacional da cooperação. Quando os filhos se casam, unem-se a outras famílias dando ensejo à multiplicação da cooperação. Quando os netos se casam aumentam muito o sistema familiar, ampliando a complexidade da cooperação que, ao longo dos anos e das gerações formam extensas cadeias multilaterais de cooperação. São dezenas de famílias, centenas de pessoas unidas. Dessa cooperação se origina o desenvolvimento, mas essa compreensão quase se perdeu. As religiões não cristãs também adotam o amor como premissa, porém buscam o amor como forma de desenvolvimento individual.

Na verdade, Deus criou seres inteligentes e (no caso do homem, muito semelhantes a Ele) com a capacidade de atualizar e ampliar o sistema operacional criado por Deus, tornando possível que a autoridade de Deus e a replicação do Seu caráter se consolidasse em todos os quadrantes do universo.
Na igreja cristã estão em mediação, desafortunadamente, dois sistemas operacionais. O de Deus, a cooperação, e o sistema proposto por Lúcifer, a competição. Neste, os elementos sempre conflitam. Tal concepção pressupõe que o choque gera o progresso. A igreja que deveria ser pura no tocante a um sistema , admite o sincretismo; a cooperação existe, mas em meio ao confronto. Eis a razão para tantas derivações cristãs. Mesmo em situações onde há maior entendimento das advertências dos profetas sobre unidade, a confrontação acaba sobrepujando a cooperação, tornando inaplicável o desenvolvimento por multiplicação cooperativa. Aliás, as muitas facções cristãs tem em comum uma origem por disputas filosóficas, doutrinárias ou até de poder.

O sistema proposto por Lúcifer foi o do desenvolvimento individual. Cada qual torne-se melhor que o outro, fato que deveria gerar progresso. Assim, o conceito do que é  melhor significa aquele que é mais forte, o mais sagaz, o mais ardiloso, o mais competitivo. A propósito, no mundo no qual vivemos, a competição, em muitos episódios, pode significar progresso. As empresas comerciais por causa da competição são capazes de gerar melhores serviços. A tecnologia avançou por causa das disputas políticas e militares, mas também por causa das disputas comerciais. A ciência tem seu principal motor na busca por novas formas de aproveitamento das riquezas naturais, impulsionada por ganas de maior poder para as nações. Portanto, uma nação é tanto mais poderosa quanto mais competitiva se torna.

O sistema da competição está demonstrado nas principais teorias antropológicas que assentem o que chamamos de ciência. A sobrevivência dos mais aptos é a premissa de vários saberes, incluindo a economia. Para o nosso planeta, competição é sinônimo de evolução que, por sua vez, gera sobrevivência. Estamos completamente envolvidos e acostumados a esse sistema que o queremos conosco em todo as atividades.

A força da competição como um sistema supostamente melhor para seres inteligentes foi exposta por Lúcifer quando apresentou os resultados a Jesus na terceira tentação ali no deserto. Os reinos foram exibidos a Cristo com todo seu esplendor, ou seja,  toda a sua capacidade de competição. Reinos são mais fortes na medida em que têm capacidade de absorver outros reinos. Foi como se o inimigo estivesse demonstrando um resultado francamente vitorioso e muito melhor. O principal argumento é que a cooperação gera igualdade, enquanto a competição gera progresso. Todavia, a competição também gera a morte. Tal consequência expõe a desigualdade dos dois sistemas. A morte é o resultado da competição fazendo cessar qualquer possibilidade de interação para que não haja outra vez competição e possibilidade de superação. Aquele concorrente está eliminado. Poderá haver outro concorrente, o qual deverá ser, da mesma forma, eliminado. Já no sistema de cooperação o progresso e a estabilidade está na associação que, quanto mais complexa, mais eficaz e mais justo se torna o sistema. Na cooperação, quanto mais cooperadores mais progresso, mais resistência e mais justiça.
O sistema da cooperação não tem como fazer sinergia com o da competição. Ambos operam através de princípios excludentes, gerando resultados não complementares. Deste modo, em ambientes onde um está o outro está proibido.

A cooperação gera um tipo de progresso muito diferente, no qual as pessoas constroem a si mesmas e tornam-se agentes cooperadores com independência. Poderemos entender melhor analisando ajudas fornecidas a refugiados. Crianças filhas de pais migrantes quando acolhidas e expostas a oportunidades de educação, tornam-se cooperadoras que aportam mais segurança socioeconômica. A UNESCO (OECD/ILO (2018), How Immigrants Contribute to Developing Countries' Economies, ILO, Geneva/OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/9789264288737-en.) demonstrou estatisticamente que pessoas oriundas de movimentos migratórios são positivamente cooperativas na economia dos países que as acolhem. Migrantes com altas aptidões educacionais ou não, tornam-se bem sucedidos, cooperam com o produto interno bruto dos países acolhedores, não causam impactos negativos nas oportunidades de empregos aos nativos, e abrem novas oportunidades para outros que também necessitam de ajuda. Isso demonstra que a competição é muito inferior em seus resultados (pois tem como produto final a morte) do que a cooperação que edifica indivíduos tornando-os capazes para ascensão social com consequente adensamento econômico e promoção de justiça social. Há sempre mais segurança na cooperação. Em ambientes tais, os mais fracos tem oportunidades para tornarem-se fortes e não serem eliminados. Um indivíduo transformado em forte adiciona mais estabilidade e resiliência ao sistema, podendo ele próprio ajudar outros indivíduos fracos.