Sistemas operacionais
Desde que se tornou possível a conexão
entre neurociência e inteligência artificial, muito se pode compreender sobre
comportamento e relações de causa e efeito. Não é possível dizer que os
computadores poderão substituir a inteligência humana, porque os Softwares de
Inteligência Artificial tão somente conseguem imitar uma parte restrita do
cérebro ligada à compreensão de causa e efeito e entendimento de processos
lógicos, desde que sejam alimentados previamente com informações. Contudo,
informações são o combustível mais importante para determinar comportamentos. As
informações necessariamente precedem as tomadas de decisões, ou seja, um
sistema de informações sempre será necessário para gerenciamento de qualquer iniciativa
ou ambiente.
No caso dos computadores, os
sistemas operacionais são as importantes e imprescindíveis bases para o
entendimento e execução dos processos lógicos. Cada sistema operacional carrega
uma determinada quantidade de informações utilizáveis para o cumprimento de
funções primárias e secundárias. Em muitos casos, não há compatibilidade entre
sistemas operacionais. Assim que, diferentes sistemas levam a diferentes
resultados.
No caso humano, uma criança já
nasce com um sistema operacional mínimo que a mantem interatuando com a lógica
de causa e efeito do meio ambiente. Todavia, o complexo meio que a cerca vai,
através da aprendizagem, atualizando e conformando o sistema operacional
original. Assim, as relações de causa e efeito vão sendo reconhecidas e, na
medida em que o tempo passa, será possível entender relações de causa e efeito
cada vez mais complexas, o que torna o humano apto a conviver com seu ambiente.
Porém, mesmo com a capacidade de entender relações de causa e efeito, essa
evolução poderá acontecer ou não na razão direta da quantidade de informação
adicionada, daí termos pessoas mais sofisticadas do que outras. Entretanto, é o
sistema operacional que determina quais relações de causa e efeito serão
compreendidas. Neste domínio, um excelente sistema educacional ajuda
muitíssimo.
Os dois sistemas operacionais
antagônicos
A visão de mundo judaico-cristã
acolhe que nosso orbe, segundo a Bíblia, foi criado por Deus. Isto está
fortemente determinado no primeiro capítulo de Gênesis, o primeiro livro da
Torá. A descrição da criação grafada por Moisés é um primoroso texto que nos revela
o quão capaz era Moisés para lidar com relações de causa e efeito ultra
complexas. Assim, ele começa dizendo que Deus criou no princípio e, tal noção
leva-nos a ver que a informação necessária para o estabelecimento de relações
lógicas foi aportada imediatamente no primeiro dia da criação. A partir dali
toda a lógica criacional e a lógica das relações de causa e efeito pode ser racionalizada.
Vamos mirar um pouco o primeiro
dia da criação. “E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as
trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a
manhã, o dia primeiro”.
Ora, pode haver a possibilidade
de Deus criar sem que a perfeição esteja como consequência? Se não, então por que
Deus examinou a luz que criara? Ele chega a conclusão “que era boa a luz”. Se a
luz era boa, então poderia existir uma luz não boa? Essa questão só poderá ser
respondida se soubermos a definição ou o conceito de luz, no contexto da
criação, ou seja, no texto bíblico. Assim, será importante verificar como a luz
está definida. Chama atenção o fato de Genesis definir luz como dia e as trevas
(ausência da luz) como noite. No evangelho de João (8:12) Jesus ensina dizendo:
“... Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz
da vida”. Aqui Ele pondera que o modelo de comportamento que Ele projetava
equivalia à luz; o antagonismo ao citado modelo equivalia à treva. Em outro
momento, Jesus ensina que (João 9:5) “... Enquanto estou no mundo, sou a luz do
mundo”. Logo, a luz no ambiente bíblico não é o agente físico que permite a
visibilidade aos objetos e nem é uma energia eletromagnética radiante que pode
ser captada pelo sentido da visão. Mas
sim, um sistema moral que determina comportamentos. Por essa razão, Jesus outra
vez distingue também os seus seguidores como “...a luz do mundo” (Mateus 5:14),
definindo um sistema moral que deveria estar prontamente visível, pois afirma
que “... não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte...”. Em sua primeira carta (I João 1:5-7) o
apóstolo João define claramente o sistema moral dizendo que “E esta é a
mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele
trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas,
mentimos, e não praticamos a verdade.
Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”.
O que se pode concluir de Genesis
1 é que a luz do primeiro dia não era energia eletromagnética radiante (esta
parece mais explicitada no quarto dia da criação com o surgimento dos astros),
mas o sistema operacional necessário para que as relações de causa e efeito
posteriores pudessem operar na lógica do céu, ou seja, na lógica da eterna lei da
cooperação contida na Torá. Como a criação da Terra aconteceu pós rebelião de
Lúcifer e seus anjos, o exame da luz fora necessário. Deus estava diante de uma
adulteração do Seu sistema provocada pela rebelião de Lúcifer, consequentemente,
precisava examinar para atestar se a luz, ou seja, o sistema moral, estava em
conformidade com a Sua lei; uma espécie de acreditação necessária, pois a Terra
seria a demonstração universal das virtudes do sistema operacional divino
(E.G.White, História da Redenção p.20).
Na Torá está especificado todo o
sistema moral desejado por Deus. Todas as ordenanças e estatutos para a
convivência social mostram uma única preocupação: a cooperação. Da mesma forma,
na narrativa de Genesis capítulo 1, vemos na sequência da criação que cada ato
criador pressupõe a existência de um ato anterior, fato observado pelo salmista
quando exclama (Salmos 19: 1-4) “Os céus declaram a glória de Deus e o
firmamento anuncia a obra das suas mãos.
Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra
noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se
estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. Neles pôs uma
tenda para o sol...”. A última frase afirma que tudo estava voltado para a luz.
Depois, nos versos 7 e 8 o salmista liga a criação com a lei: “A lei do SENHOR
é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria
aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o
mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos”. Novamente, na última frase
ele chama o sistema moral de luz que ilumina os olhos, e estes são símbolo de
inteligência no ambiente hebraico.
Se uma criança nasce com um
sistema operacional mínimo o qual poderá ser aprimorado (Jer. 31:33 Porei a
minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração), então o cabedal de
informações que receberá determinará quais atualizações do seu sistema
operacional serão permitidas. Daí o sábio Salomão dizer que se deve ensinar a
criança para que, ao se tornar velho, não saia da vereda ensinada.
O sistema operacional de Deus
Olhando
o universo com cuidado vemos um muitíssimo elaborado conjunto de sistemas e
subsistemas que formam um todo, cuja finalidade é proporcionar condições para
existência da vida. Sistemas são conjuntos de partes ou entes justapostos em
ordem única que, regidos por uma ordenação geral, operam de modo a produzir um
resultado singular. Assim, no universo, tudo está finamente ajustado com precisão
milimétrica, a qual é mantida por constantes primordiais sustentadas
inalteradas a despeito de flutuações ambientais provocadas ou não. Por outo
lado, observa-se uma misteriosa tendência da matéria para se organizar a si
mesma, espontaneamente, para dirigir-se a estados incessantemente mais
ordenados e complexos. Isto parece informar que o universo tem um eixo, um
sentido. Se há no cosmo uma tendência do heterogêneo para o homogêneo, então há
uma causa para essa harmonia topológica de cargas, uma inteligência. Por
exemplo, há na química um princípio conhecido como estabilização topológica de
cargas. Isto implica que as moléculas que suportam em sua estrutura cadeias de
átomos em alternância (especialmente o carbono, o nitrogênio e o oxigênio) formem
ao se reunirem, sistemas estáveis. Tais sistemas expõem a mecânica do ser vivo,
os aminoácidos. Sempre segundo o mesmo princípio da afinidade atômica, os
referidos elemento irão se reunir para formar os peptídeos. Tal processo leva a
matéria numa irresistível espiral ascendente. As moléculas nitrogenadas
associando-se aos fosfatos e aos açucares elaboram os protótipos dos
nucleotídeos que, por sua vez, formam cadeias intermináveis dando emergência ao
DNA. Em outras palavras, a natureza produz ordem.
Essa regulagem de precisão vertiginosa
resulta de uma inteligência que transcende nossa realidade. Tudo o que se pode
entender é que a mais simples obra da criação é formada por vários sistemas
que, desempenhando funções diversas produzem um efeito que estava previsto para
finalidade objetiva. A somatória dos vários sistemas da mesma espécie produz
outro efeito com finalidade prevista. As várias espécies de sistemas formam
gêneros e famílias de sistemas cada vez mais complexos e que, em cada nível de
universalidade produzem efeitos também complexos e com finalidades
vertiginosamente ou intencionalmente previstas. Há um conceito por traz de
todos esses sistemas que monta a mais complexa unidade jamais vista. A isto
chamamos universo.
Na superfície da Terra
encontramos dois sistemas que chamamos de litosfera e biosfera e, acima destes
sistemas está a atmosfera. São sistemas que interagem entre si de forma integral.
A litosfera produz efeitos que agenciam a biosfera e ambas interferem na
atmosfera. Um dos exemplos destas interações são os aerossóis, ou partículas
sólidas que estão em suspensão na atmosfera. Essas partículas são oriundas da
litosfera e da biosfera e causam a aglutinação de minúsculas gotas de água, em
forma de vapor, que vão se unindo aos aerossóis para formar as nuvens. O pólem
das plantas é um importante componente dos aerossóis. Onde a litosfera não está
coberta pelo verde as chuvas são mais escassas. Como vimos, a interação entre
os sistemas faz funcionar ciclos vitais, como o da água. É importante salientar
que há um juízo de engenharia muito complexo, o qual muito dificilmente
resultou do acaso, mas, foi produzido por uma inteligência que objetivou o
conceito de unidade, o qual dá surgimento à cooperação.
O corpo humano é outro
extraordinário exemplo de sistemas montados e finamente ajustados para produzir
vida. Ali não são permitidas hipertrofias ou hipotrofias de quaisquer ordens,
seja das células, dos órgãos ou dos sistemas. É necessariamente importante que
todos operem harmoniosamente através de constantes, sem as quais não pode haver
o que chamamos saúde. Tal conformidade não resulta do acaso. Há muita
engenharia, o que pressupõe inteligência. Um pássaro, por exemplo, é um produto
único de engenharia, onde todas as suas partes foram pensadas para produzir um
efeito, o vôo. Todos os sistemas no corpo de um pássaro estão ajustados para
que voe. Ossos leves com sacos aéreos, sistema circulatório com um coração
capaz de bombear sangue para manter a musculatura das asas em ação, penas de
vários formatos nas asas que, justapostas como são, facilitam o vôo ajudando na
sustentação, além de permitirem as manobras no ar. Uma peça de engenharia ajustada
de forma milimétrica para permitir o vôo, tudo negando peremptoriamente o
efeito do acaso. Nos exemplos citados há insofismável demonstração de uma
intenção para produzir cooperação e harmonia, o que pressupõe inteligência.
O sistema operacional
de Deus no antigo Israel
Podemos enxergar unidade no
sistema proposto à socio-economia israelita. Havia instruções, estatutos e leis
para que a justiça fosse necessariamente presente nas relações sociais. Por
exemplo, no sistema shemita (lê-se shemitá e significa deixar livre), a contagem
de tempo obedecia ao sistema septuagenal.
Havia o shemita semanal, no qual cada sétimo dia da semana era deixado
livre, assim como o shemita anual, no qual em cada sete anos o sétimo era
deixado livre. Também, havia o shemita para períodos de 49 anos, ou seja, sete
períodos de sete anos; o quinquagésimo ano era o jubileu e, portanto, deixado
livre. Em todos esses shemitas no sétimo período algo era devolvido a Deus e
aos semelhantes. Assim, a cada sete anos, no sétimo ano havia perdão de dívidas
e libertação de escravos, além disso, os campos passavam ao domínio público
durante o sétimo ano, significando que não haveria novo plantio com vistas ao
comércio, mas a produção espontânea do que já estava era de todos; também a
cada jubileu, todas as terras vendidas durante o período de 49 anos, voltavam
aos donos originais, uma espécie de preservação do direito de uso à terra pela
nova geração que não usufruiu do direito porque seus ancestrais a tinham
vendido. Esse sistema de administração agrária promovia unidade entre a terra e
as próximas gerações da família daquele que a possuía originalmente.
Vemos um complexo e inteligente
sistema de unidade e justiça, quase inconcebível nos dias atuais, nos quais
unidade é palavra em desuso, imperando a competição e separação por
cobiça. Todo a sistema religioso
israelita tinha como pano de fundo a unidade entre os cidadãos e entre os
cidadãos e Deus. Também o sistema comercial era gerenciado com a premissa da
unidade. Por exemplo, era vedado emprestar dinheiro a juro, porque entre irmãos
não era permitido exploração e ganância. Durante o reinado de Davi e nos
primeiros anos do reinado de Salomão, o sistema de justiça estava em operação,
produzindo anos de muita prosperidade. As tribos de Israel formavam um sistema de
cooperação inteligente o qual era capitaneado pelo líder político, pelos líderes
religiosos e pelos cabeças das famílias.
A igreja cristã atual
e os dois sistemas operacionais
Na medida em que somos vítimas ou
parceiros dos sistemas, há um perigo real quando tentamos operar sistemas
operacionais excludentes. Esse é o caso da igreja cristã atual. Esta parece
querer viver um sincretismo desastroso que traz um amalgama fatal de sistemas. Ratificamos
aqui que sistemas são um conjunto de elementos que, unidos por um fio condutor,
são mantidos conectados para provocar um determinado efeito. Assim, sistemas
geralmente são excludentes por natureza, mas podem cooperar se os efeitos
quando somados produzirem um bem superior. Esse tipo de cooperação somente é
possível com sistemas baseados em princípios comuns. Se eventualmente se
aproximam dois ou mais sistemas que não atuam por princípios únicos, a
tendência é entropia e falência. Desta forma, o sincretismo religioso não pode
ser prestigiado. Os princípios cristãos são diferentes dos princípios das
religiões afro-asiáticas, e diferente das religiões de origem muçulmanas, etc.,
o que torna sua proximidade e cooperação inexistente. Neste aspecto, códigos
morais, visões sociais e políticas divergem frontalmente. Ecumenismo será uma
situação inaplicável e já temos um bom vislumbre através da incompatibilidade
entre cristianismo e islamismo. Uma parcela considerável do terrorismo mundial
provém dessa fundamental divergência.
Quanto ao cristianismo, sua
premissa é amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-40). Cada cristão é um
elemento de um grande sistema cujo fio condutor é o amor e que, se bem
compreendido, deverá produzir o excelente efeito da cooperação ou reprodução do
caráter do criador. Assim, vemos, por exemplo, o efeito dessa cooperação no
matrimonio. Um casal se une para produzir uma família, e esta é a base
fundamental do sistema operacional da cooperação. Quando os filhos se casam,
unem-se a outras famílias dando ensejo à multiplicação da cooperação. Quando os
netos se casam aumentam muito o sistema familiar, ampliando a complexidade da
cooperação que, ao longo dos anos e das gerações formam extensas cadeias
multilaterais de cooperação. São dezenas de famílias, centenas de pessoas
unidas. Dessa cooperação se origina o desenvolvimento, mas essa compreensão
quase se perdeu. As religiões não cristãs também adotam o amor como premissa,
porém buscam o amor como forma de desenvolvimento individual.
Na verdade, Deus criou seres
inteligentes e (no caso do homem, muito semelhantes a Ele) com a capacidade de atualizar
e ampliar o sistema operacional criado por Deus, tornando possível que a
autoridade de Deus e a replicação do Seu caráter se consolidasse em todos os
quadrantes do universo.
Na igreja cristã estão em
mediação, desafortunadamente, dois sistemas operacionais. O de Deus, a
cooperação, e o sistema proposto por Lúcifer, a competição. Neste, os elementos
sempre conflitam. Tal concepção pressupõe que o choque gera o progresso. A
igreja que deveria ser pura no tocante a um sistema , admite o sincretismo; a
cooperação existe, mas em meio ao confronto. Eis a razão para tantas derivações
cristãs. Mesmo em situações onde há maior entendimento das advertências dos
profetas sobre unidade, a confrontação acaba sobrepujando a cooperação,
tornando inaplicável o desenvolvimento por multiplicação cooperativa. Aliás, as
muitas facções cristãs tem em comum uma origem por disputas filosóficas,
doutrinárias ou até de poder.
O sistema proposto por Lúcifer
foi o do desenvolvimento individual. Cada qual torne-se melhor que o outro,
fato que deveria gerar progresso. Assim, o conceito do que é melhor significa aquele que é mais forte, o mais
sagaz, o mais ardiloso, o mais competitivo. A propósito, no mundo no qual
vivemos, a competição, em muitos episódios, pode significar progresso. As
empresas comerciais por causa da competição são capazes de gerar melhores
serviços. A tecnologia avançou por causa das disputas políticas e militares, mas
também por causa das disputas comerciais. A ciência tem seu principal motor na
busca por novas formas de aproveitamento das riquezas naturais, impulsionada
por ganas de maior poder para as nações. Portanto, uma nação é tanto mais poderosa
quanto mais competitiva se torna.
O sistema da competição está
demonstrado nas principais teorias antropológicas que assentem o que chamamos
de ciência. A sobrevivência dos mais aptos é a premissa de vários saberes,
incluindo a economia. Para o nosso planeta, competição é sinônimo de evolução
que, por sua vez, gera sobrevivência. Estamos completamente envolvidos e
acostumados a esse sistema que o queremos conosco em todo as atividades.
A força da competição como um
sistema supostamente melhor para seres inteligentes foi exposta por Lúcifer
quando apresentou os resultados a Jesus na terceira tentação ali no deserto. Os
reinos foram exibidos a Cristo com todo seu esplendor, ou seja, toda a sua capacidade de competição. Reinos
são mais fortes na medida em que têm capacidade de absorver outros reinos. Foi
como se o inimigo estivesse demonstrando um resultado francamente vitorioso e
muito melhor. O principal argumento é que a cooperação gera igualdade, enquanto
a competição gera progresso. Todavia, a competição também gera a morte. Tal
consequência expõe a desigualdade dos dois sistemas. A morte é o resultado da
competição fazendo cessar qualquer possibilidade de interação para que não haja
outra vez competição e possibilidade de superação. Aquele concorrente está
eliminado. Poderá haver outro concorrente, o qual deverá ser, da mesma forma,
eliminado. Já no sistema de cooperação o progresso e a estabilidade está na
associação que, quanto mais complexa, mais eficaz e mais justo se torna o
sistema. Na cooperação, quanto mais cooperadores mais progresso, mais
resistência e mais justiça.
O sistema da cooperação não tem
como fazer sinergia com o da competição. Ambos operam através de princípios
excludentes, gerando resultados não complementares. Deste modo, em ambientes
onde um está o outro está proibido.
A cooperação gera um tipo de
progresso muito diferente, no qual as pessoas constroem a si mesmas e tornam-se
agentes cooperadores com independência. Poderemos entender melhor analisando
ajudas fornecidas a refugiados. Crianças filhas de pais migrantes quando
acolhidas e expostas a oportunidades de educação, tornam-se cooperadoras que
aportam mais segurança socioeconômica. A UNESCO (OECD/ILO (2018), How
Immigrants Contribute to Developing Countries' Economies, ILO, Geneva/OECD Publishing,
Paris, https://doi.org/10.1787/9789264288737-en.)
demonstrou estatisticamente que pessoas oriundas de movimentos migratórios são positivamente
cooperativas na economia dos países que as acolhem. Migrantes com altas
aptidões educacionais ou não, tornam-se bem sucedidos, cooperam com o produto
interno bruto dos países acolhedores, não causam impactos negativos nas
oportunidades de empregos aos nativos, e abrem novas oportunidades para outros
que também necessitam de ajuda. Isso demonstra que a competição é muito
inferior em seus resultados (pois tem como produto final a morte) do que a
cooperação que edifica indivíduos tornando-os capazes para ascensão social com
consequente adensamento econômico e promoção de justiça social. Há sempre mais
segurança na cooperação. Em ambientes tais, os mais fracos tem oportunidades
para tornarem-se fortes e não serem eliminados. Um indivíduo transformado em
forte adiciona mais estabilidade e resiliência ao sistema, podendo ele próprio
ajudar outros indivíduos fracos.