Todo ser humano na posse do seu
arbítrio busca saber a verdade. Sempre que nos referimos à verdade, a primeira noção que salta no
pensamento é a religiosa. Mas, a verdade é ainda mais abrangente, significa
entender a real situação, as propriedades e os modos da realidade que nos
cerca. A busca pela verdade é a incessante procura na qual a alma humana se
aplica para entender o seu papel ou a sua função num mundo muito complexo.
Neste sentido, torna-se a busca mais importante.
As religiões se utilizam desta necessidade
para atrair prosélitos. Todas dizem esclarecer ou responder aos questionamentos
da alma na busca do nexo da vida. Mas, a experiência relatada por maciça parte
dos religiosos informa que permanece um vazio não preenchido pelas chamadas
verdades teológicas. Por que os códigos de ética religiosos não preenchem o
vazio?
Primeiramente, para o mundo
cristão, a Bíblia é a escritura sagrada onde estão assentados os princípios que
devem ser consultados quando se busca a verdade. Para o ambiente judaico a Bíblia
(Torá) contém os oráculos divinos e deve ser compreendida e obedecida. Assim,
em Deuteronômio 32:4 lemos “Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos
os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e
reto é”. A fonte da verdade, de acordo com o texto, é Deus. Se é assim, é fácil
compreender a razão pela qual a teologia disponível na maioria das religiões
não preenche o vazio. Tal teologia está repleta de verdades humanas e conforme Jeremias
17:9 “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso[...]”, ou
seja, não poderá haver verdade em códigos éticos que brotam de corações
enganosos. As tradições humanas não conseguem traduzir as propriedades e os
modos da realidade que cerca a sociedade. A causa disso é a ausência de justiça
nas ações humanas. Religiões baseadas em “verdades” humanas não alcançam o
padrão de justiça requerido pela verdade ontológica do universo.
Alguns textos bíblicos são
explicativos: “Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me redimiste, SENHOR
Deus da verdade” (Salmos 31:5). “Tu estás perto, ó SENHOR, e todos os teus
mandamentos são a verdade. A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a
verdade” (Salmos 119:151-2). “Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus
vivo e o Rei eterno; ao seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar
a sua indignação” (Jeremias 10:10). Se Deus é a verdade, se os mandamentos são
a verdade, qualquer sistema religioso que propõe outro código de ética baseado
em tradições humanas, não pode pretender ser a verdade.
Em Salmos 146:6 lemos: “O que fez
os céus e a terra, o mar e tudo quanto há neles, e o que guarda a verdade para
sempre”. Vejamos, se Deus é a verdade, e se foi Ele quem criou tudo, então
poderemos encontrar a verdade na sua criação.
A escritora Ellen White (A Caminho
do Lar, p.41) demonstra que “Há maravilhosas verdades na natureza. A terra, o
mar e o céu estão cheios de verdade. São nossos professores. A natureza
proclama a sua voz em lições de sabedoria celestial e de verdade eterna”. De
outra forma, ela confirma o que segue: “Visto que o livro da natureza e o da
revelação apresentam indícios da mesma mente superior, eles não podem deixar de
estar em harmonia. Com diferentes métodos e linguagens, dão testemunho das
mesmas grandes verdades. [...] O livro da natureza e a palavra escrita lançam
luz um sobre o outro. Servem para nos familiarizar com Deus, ensinando-nos algo
das leis por meio das quais Ele opera” (Educação, p.128). Ora se é através da
natureza que se pode aprender sobre as leis por meio das quais Deus opera,
então teremos que ir até lá.
Vamos usar o raciocínio dedutivo
para analisar alguns aspectos dos sistemas naturais. Quando olhamos o universo
com a sua organização, com suas galáxias, vemos uma densíssima massa de corpos
celestes em estreita cooperação uns com os outros. As grandes galáxias são
centros de gravitação em torno dos quais orbitam galáxias menores. Dentro das galáxias
estão os sistemas planetários com uma estrela como centro gravitacional e
planetas girando em suas órbitas e equilibrando-se gravitacionalmente uns nos
outros.
Se descermos até o microuniverso,
encontrando a estrutura atômica, veremos o mesmo sistema cooperativo em
atuação. O núcleo com os prótons e nêutrons circundado por uma coroa onde vemos
os elétrons mantidos em suas órbitas pela força eletrostática, um incrível
sistema de cooperação. São rodas dentro de rodas. Semelhante estrutura aparece
na musculatura circular que regula a abertura da pupila ocular.
Dentro das células encontramos uma organela, a
mitocôndria, onde ocorre a respiração celular. Nela ocorre o complicado ciclo
de Krebs, uma rota anfibólica, ou seja, uma série de reações catabólicas e
anabólicas , com a finalidade de oxidar a acetil-CoA (acetil coenzima A), que
se obtém da degradação de carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos a duas
moléculas de CO2. Na verdade, um incrível sistema de cooperação onde ocorrem
vários deslocamentos de moléculas de hidrogênio que vão pulando de um lado para
outro com a finalidade de produzir energia. Por outro lado, os principais
ciclos da natureza, tal como o das águas, é demonstrativo de como a cooperação
é o motor da dinâmica física natural. Na biosfera podemos ver como plantas e
animais estão em intima associação para dar continuidade ao ciclo de nutrientes
e à própria reprodução. Todos esses aspectos demonstram o que a Bíblia
identifica como a justiça de Deus.
Se Deus é a verdade e a sua lei é
a verdade, então pode-se concluir através da observação do sistema natural que
a verdade é um sistema universal de cooperação.
Olhando melhor o comportamento de
Jesus relativo aos sistemas religiosos, não encontramos nenhuma iniciativa para
formar uma dissidência do judaísmo ou fundar uma nova religião. A verdade não
tem uma relação direta com as religiões, mas, conforme vimos, é um importante
sistema de cooperação que aparece subjacente a toda criação. Tal sistema foi
referendado por Jesus inúmeras vezes.
No evangelho de Mateus (capítulo
19) vemos que o jovem rico foi instado a entrar no sistema universal de
cooperação: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos
pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me”. Também vemos o mesmo
ensinamento no milagre da multiplicação do alimento. Jesus diz aos discípulos
quando O interpelaram reivindicando que o povo estava exausto e com fome (Lucas
9:13) “Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e
dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo”.
Depois o próprio Jesus demonstrou o sistema celeste (Lucas 9:16) “tomando os
cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e
deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão”.
De outro lado, após a ascensão de
Jesus quando da descida do Santo Espírito durante o Pentecoste, os discípulos
enxergaram o sistema celeste e estruturam a igreja cristã como um sistema de
cooperação que está descrito em Atos capítulo 2:42-44 “E perseveravam na
doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em
toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos
apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum”. O que
vimos acima são apenas alguns exemplos demonstrativos do grande ensinamento
contido na Torá, mas os profetas falaram muito sobre o sistema de cooperação,
instando para todos entrassem nele.
Desde a igreja cristã primitiva
até o presente, ocorreram alterações substantivas da realidade demonstrada por
Cristo. A própria igreja encheu-se da tradição humana e voltou-se para uma
“verdade” que tem origem no coração dos homens, o qual é enganoso, cobiçoso e
egoísta. Não mais foi ensinado o grande princípio escrito na Torá e alertado
por Paulo (Atos 20:35) “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é
necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse:
Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. Os sistemas religiosos
cristãos têm ensinado uma nova teologia repleta de ensinos humanos, enganando a
muitos com ensinamentos que definem “bênçãos” através de aquisições egoístas.
Assim como os judeus pensavam que a posse de bens materiais traduzia a benção
de Deus, os cristãos assumiram o mesmo desejo e querem fugir da verdade
buscando um evangelho que lhes seja propício ao egoísmo.
A verdade não está em qualquer
sistema religioso, mas consiste num grande sistema universal de cooperação.
Qualquer sistema religioso que não ensine que “mais bem-aventurada coisa é dar
do que receber”, não pode pretender ter a verdade. Assim, cuidado com a busca
da prosperidade como um fim. Considere que Deus é justo e espera que seus filhos
pratiquem a justiça. Esta se define como sendo a atribuição do que é devido a
cada um, ou seja, equidade.
Quando Jesus regressar e concluir
o processo de expiação (que está em andamento), então estabelecerá novos céus e
nova Terra, onde habitará a justiça. Por enquanto, até chegarmos ao grande dia
do Senhor, nosso dever é seguir o que exorta Deuteronômio 16:20 :“A justiça,
somente a justiça seguirás; para que vivas, e possuas em herança a terra que te
dará o SENHOR teu Deus”. Também devemos lembrar que “cada um deve contribuir
segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque
Deus ama ao que dá com alegria” (II Coríntios 9:7). No sistema universal de
cooperação, recebemos para dar.