O texto de Romanos 12:11-13
mostra um protocolo importante que deve ser utilizado pelos cristãos que
esperam o retorno de Jesus: “Nunca lhes falte o zelo, sejam fervorosos no
espírito, sirvam ao Senhor. Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na
tribulação, perseverem na oração. Compartilhem o que vocês têm com os santos em
suas necessidades. Pratiquem a hospitalidade”. A primeira exigência é: tenham,
os cristãos, zelo, significando afeição viva por algo, cuidado e interesse que
carrega a diligência por qualquer serviço. É claro que há nas fileiras dos que
esperam aqueles que não zelam. Mas, o texto ainda determina fervor no serviço,
ou seja, grande dedicação ou ardor no serviço ao Senhor. Há ainda a assertiva positiva
para que se mantenham a esperança e a paciência, uma vez que estando na
contramão do mundo, virão tribulações e, nestes casos, a oração será o escape.
O serviço é explicitamente explicado como sendo o atendimento das necessidades,
especialmente as dos santos; aqueles irmãos na fé que com dignidade lutam sem
alcançar os meios para resolverem seus próprios questionamentos.
Em resumo, o evangelho de Jesus
não é uma religião intelectual esotérica da mente ou do espírito, de certa
forma separada do corpo ou da vida real. Aguardar a segunda vinda de Jesus não
é ficar num estado passivo, mas é uma postura ativa, na qual manifestamos o
amor de Deus ao mundo de maneira prática. Tiago em sua carta (Tg 2:14-17) diz: “Meus
irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras?
Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem
falta de mantimento quotidiano, E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos
e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que
proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si
mesma”. Não basta apenas crer, pois a crença deverá ser acompanhada de ação;
nossas doutrinas precisam influenciar a maneira pela qual cumprimos a missão
que o Senhor nos confiou.
Jesus explicou a fé que opera
através da parábola do bom samaritano. Nessa história vemos três personagens
cujos procedimentos definem o seu estado de ligação com o Reino de Deus. O
levita e o sacerdote, os quais diziam ser especialmente ligados ao Reino,
agiram de forma a negar a sua ligação. Já o samaritano, o qual era considerado pelos
judeus como fora do Reino, demonstrou sua ligação de forma inequívoca.
Na carta de Tiago vemos que o
sábio demonstra a sua sabedoria no seu procedimento. O autor acrescenta que
devem os cristãos ser praticantes da palavra, e não apenas ouvintes; a fé sem
as obras está morta. Ainda, o próprio Jesus ao pronunciar o sermão do monte
disse: “Assim, brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5:16). Na
verdade, Ele chama seus seguidores de “luz do mundo” afirmando que essa luz não
deveria estar escondida (Mt 5:14). Para Jesus, aqueles que alegam crer nEle
deveriam naturalmente demonstrar sua fé por meio do estilo de vida.
Uma das parábolas mais
explicativas e instigantes sobre o processo da espera pelo retorno de Jesus é a
das dez virgens. Estas esperavam pelo noivo para a festa das bodas. Essa
parábola está ligada à do homem que entrou no ambiente das bodas sem a roupa
adequada. As virgens são separadas em dois grupos: as prudentes e as néscias. Como
demorasse o noivo, todas cansaram e dormiram, no entanto, as prudentes, possuíam
óleo para alimentar suas lâmpadas. Óleo significa o Espírito Santo (Zacarias 4).
Assim, as prudentes estavam cheias com o Espírito. Estar cheias com o Espírito
significa que tinham conhecimento e, por esse motivo, tinham obras. As néscias
(néscio é aquele que não sabe e, portanto, é irresponsável) não possuíam óleo,
ou seja, nunca haviam tido zelo e ardor, estavam próximas da casa do noivo, mas
essa proximidade não lhes conferia qualquer vantagem; não aproveitaram o tempo
para prepararem mudança em seu status quo. Esse grupo representa uma parcela
dos cristãos que estão nas igrejas por causa do convívio social, mas eles
mesmos não aproveitam dessa estrutura para provocar mudanças pessoais.
No capítulo 25 de Mateus, encontramos três parábolas
contadas por Jesus, mas que possuem ensinamentos cumulativos. Jesus destacou como devem os cristãos se ocupar
ou “negociar” enquanto aguardam o Seu retorno. Primeiramente, a parábola das
dez virgens instrui a certificar de que há óleo nas lâmpadas. Não basta apenas
esperar o noivo, tem que haver modificação de comportamento. Em segundo lugar,
a parábola dos talentos ordena a utilizar de maneira sábia os dons que o Senhor
concedeu. A multiplicação dos dons é uma exigência, significando que a ajuda ao
próximo é o grande investimento; influenciar pessoas provoca uma onda de influências
que não para (o outro influencia a outro), fato que multiplica o capital inicial.
Em terceiro lugar, a parábola das ovelhas e dos bodes faz lembrar de que a
verdadeira religião, nas palavras do próprio Tiago, é “cuidar dos órfãos e das
viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1:27). Os
verdadeiros seguidores de Jesus no tempo do fim são descritos como aqueles que
alimentam o faminto, dão água ao sedento, são hospitaleiros com os
estrangeiros, vestem o nu, cuidam dos doentes e visitam os que estão
aprisionados (Mt 25:35, 36).
Em Mateus 24 há uma explicação
sobre como não deve ser o procedimento dos cristãos enquanto esperam. Jesus
descreveu como viviam as pessoas nos dias de Noé. Elas comiam, bebiam e se
casavam – aparentemente alheios ao que estava para acontecer. Em outras
palavras, aquelas pessoas estavam vivendo de modo despreocupado e negligente
(cinco virgens néscias). Jesus disse que as coisas serão exatamente assim pouco
antes de Sua segunda vinda: as pessoas estarão envolvidas em seus próprios
interesses e atividades, esquecendo-se totalmente das necessidades dos seus
semelhantes. Jesus então mandou que Seus discípulos vigiassem e estivessem
preparados (Mt 24:42, 44). Por um lado, isso significa permanecer mentalmente e
espiritualmente alerta ao fato de que Jesus voltará; no entanto, também
significa mais do que isso. O anjo perguntou aos discípulos: “Por que vocês
estão olhando para o céu? ” (At 1:11). Os discípulos tinham mais para fazer do
que apenas ficar parados, olhando para o céu. Eles tinham uma obra a terminar;
deviam cumprir a tarefa deixada por Jesus: “Negociai até que eu venha” (Lc
19:13). Quer significar que tinham de alcançar um caráter semelhante ao dEle e
ensinar outros a buscar o aperfeiçoamento do caráter de acordo com os padrões
celestes. Esta é a principal tarefa para os cristãos hoje.
A igreja cristã é o grande
sistema criado por Deus para o aperfeiçoamento dos que esperam o retorno de
Jesus. Todas as atividades que compõem a dinâmica do culto no cristianismo são
de molde a levar à multiplicação dos dons. Há sempre estímulos para que haja progresso
no conhecimento (conhecimento = graça) sobre Jesus, o modelo, buscando a
formação de discípulos. Há sempre estímulos para ajuda aos necessitados, pois a
fé que vem pelo ouvir deve desembocar em boas obras. As igrejas cristãs são
verdadeiros centros de aprendizado onde cristãos são moldados à semelhança do
Mestre. Uma vez adquirida a semelhança, devem os modificados ajudar na
modificação de outros. Assim, os dons têm papel fulcral no desenvolvimento das comunidades
cristãs, pois promovem complementações que deixam ver, no conjunto das pessoas,
o rosto de Cristo.
Quanto aos pobres no contexto do
Reino de Deus, a escritora Ellen White anota: “ Vi que está na providência de Deus
que as viúvas e órfãos, os cegos, os surdos, os coxos e as pessoas afligidas de
diferentes maneiras foram colocadas em íntima relação cristã com Sua igreja;
isto visa provar o Seu povo e desenvolver-lhe o verdadeiro caráter. Anjos de
Deus estão observando para ver como tratamos essas pessoas que necessitam nossa
simpatia, amor e desinteressada benevolência. Este é o teste de Deus para o
nosso caráter. Se temos a verdadeira religião da Bíblia, haveremos de sentir
ser um débito de amor, bondade e interesse para com Cristo em favor de Seus
irmãos; e não podemos fazer menos que mostrar nossa gratidão por Seu
imensurável amor para conosco quando éramos nós ainda pecadores indignos,
indignos de Sua graça, manifestando profundo interesse e amor altruístico pelos
que são nossos irmãos menos afortunados que nós”. (Beneficência Social, p. 35).
“A verdadeira simpatia entre o homem e o seu semelhante deve ser o sinal
distintivo entre os que amam e temem a Deus e os que são indiferentes a Sua
lei.... Ele foi um poder curador. “Misericórdia quero, e não sacrifício, ”
disse Ele. Este foi o teste que o grande autor da verdade usou para distinguir
entre a verdadeira religião e a falsa”. (Beneficência Social, p. 36).