O Salmo 8 é um dos mais significativos por ser uma análise do
significado do homem:
“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão
admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os
céus! Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos
teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador. Quando vejo os teus
céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem
mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Pois
pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes
com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de
seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves dos
céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares. Ó SENHOR,
Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!”
Ao escrever
este salmo, o poeta bíblico se inspirou na vista do céu noturno com o fulgor do
brilho da lua e das estrelas. Não é mencionado o sol. É provável que o
espetáculo do céu estrelado produza no coração humano maior admiração e
maravilha que o céu diurno, quando os ruídos, a poluição e as cenas da terra
distraem a atenção.
O Seventh Day Adventist Bible Commentary explica que Enosh é
um vocábulo hebraico usado para marcar a fragilidade humana. Quando uma pessoa
contempla a imensidão, o mistério e a gloria dos céus noturnos, reflexiona no
infinito espaço e nos inumeráveis corpos celestes, deve sentir-se como um ponto
infinitesimal no universo.
Se olhar para os céus noturnos deixa uma marcante impressão nos
mortais iletrados, quanto maior não há de ser a admiração dos que, aprovisionados
com a crescente informação da astronomia moderna, contemplam o céu através de
modernos observatórios!
O Seventh Day Adventist Bible Commentary diz que o salmista
usa ainda a expressão o filho do homem, do Hebraico ben-adam, para destacar a natureza terrena do homem, formado
do pó da terra (Gênesis 1: 26; 2: 7). Por causa da sua formação, adverte o
salmista, o que é o homem para que Deus o visite ou que se absorva por ele.
Mas, um Deus essencialmente amoroso há de ter cuidado com o ser humano a
despeito de ser também um Deus para os demais mundos.
Segundo o livro Testemunhos II de Ellen White, a importância do
homem somente é percebida quando se toma em conta a morte de Cristo na cruz. O
valor da alma humana está explícito no calvário (2 Test. p. 634, 635).
Se é importante a revelação de Deus nos fenômenos visíveis da
natureza, mais importante ainda é sua revelação na vida humana. O tamanho e a
extensão não são elementos de juízo suficientes para tributar o valor de alguma
coisa. Tem-se dito que o olho e o cérebro que veem o firmamento são mais
maravilhosos que os céus por eles contemplados através do telescópio mais
poderoso.
Ainda no Seventh Day Adventist Bible Commentary encontramos
que a afirmação do salmista “ser o homem é um pouco menor que os anjos”, no
original hebraico me'elohim, significa literalmente, "um pouco menor que Deus".
Os tárgumes (manuscritos do Velho Testamento em aramaico), a Septuaginta (LXX),
as versões siríacas e a citação desta passagem em Hebreus 2:7 dizem "anjos"
em vez de "Deus". Entretanto, as versões gregas de Aquila, Símaco e
Teodocião, e também a Vulgata, trazem a tradução "Deus". Alguns consideram
que a palavra Elohim poderia aplicar-se também a homens ou a anjos ( Exodo 21:
6; Salmo 82: 1). No entanto, Gesenio, aclamado como o pai dos gramáticos
hebraicos traduz: "O fizeste com que lhe falte pouco de Deus"; vale dizer,
"o fizestes só um pouco inferior a Deus". Não importa se lemos “menor
que os anjos”, ou " menor que Deus"; é evidente que o homem está num
plano muito superior ao do reino animal, devido a sua vinculação com Deus.
Entretanto, no melhor dos casos, o homem finito é inferior ao Deus infinito.
Todavia, na qualidade de senhor da Terra, o homem participa dos atributos de
Deus, o rei do universo. Por isso foi revestido de honra e de glória.
É nesta condição que devemos nos apresentar diante de Deus. Assumindo
posição destacada entre tantos, por causa da nossa origem. Somos elementos da
sociedade humana, com capacidades para assumir posições e, em especial,
comissionados para cuidar da maior responsabilidade dada aos mortais, a do
bem-estar do próximo.
Espera a humanidade que tenhamos obtido conhecimento
suficiente para desempenhar com brilhantismo e profissionalismo, as funções
para as quais estamos aptos segundo os assentamentos bíblicos. Todavia, uma
etapa mais alta deve ser alcançada, a do aperfeiçoamento, etapa na qual nosso
desempenho deve estar focado no aprimoramento e especialização, na construção
de pessoas das quais o mundo venha a se orgulhar e a desejar.
Todos os óbices ou lacunas sociais deverão ser encarados como
desafios estimulantes que esperam por soluções. Nossa geração não poderá passar
sem apresentar soluções, mas sempre haverá novos desafios e novos problemas. O homem
formado à imagem de Deus tem o privilégio de ser um anjo enviado por Deus para
minorar os sofrimentos do corpo e muitas vezes da alma.
A excelência exigirá aplicação aos estudos. Não abrir os
livros, não procurar aperfeiçoamento em novos cursos, impedirá a compreensão do
mundo e, consequentemente, a atuação como agente divino comissionado para
auxiliar a sociedade.
Sendo que Deus deu aos homens honra, conforme nos disse o
salmista, é nossa responsabilidade corresponder a esta honra concedida a priori.
Mas, não somente corresponder à honra concedida, multiplica-la e entrega-la às
gerações que nos sucederem. Nossa influência deverá ser forte o suficiente para
construir uma nova geração ainda melhor que a nossa. O principal legado que
homens podem deixar é a construção de outros homens ainda mais honrados e virtuosos,
cheios de respeitoso espírito de cooperação.
Há algo que necessitamos compreender: a diferença entre dois
conceitos frequentemente confundidos, poder e influência. Tendemos a pensar que
são similares ou idênticos. Pensamos que pessoas de poder têm influência e
pessoas de influência têm poder. Mas não é assim. Os dois são muito distantes e
operam por lógicas muito diferentes.
Imaginemos que temos o poder total. Isto significa que o que nós
dizemos assim será. Então um dia nós decidimos compartilhar nosso poder com
nove outros. Agora, na melhor das hipóteses, temos um décimo do poder anterior.
Agora nós decidimos compartilhar influência com nove dos nossos parceiros. Temos
então dez vezes mais influência do que tínhamos antes, porque ao invés de
somente nós há agora dez pessoas enviando a mesma mensagem.
O Poder trabalha por divisão, a influência por multiplicação.
O Poder, em outras palavras é um jogo de
soma zero: quanto mais compartilhamos, menos temos. A Influência não é um jogo
de soma zero: quanto mais compartilhamos mais nós temos.
Como vimos, há uma demarcação clara entre liderança como
influência e liderança por poder. A Bíblia reconhece e afirma que todo poder
pertence diretamente a Deus. Porém, a real liderança, aceita com louvor pela
Bíblia, está na influência. Esta é a mais revolucionária ideia. Como exemplo, vejamos
o judaísmo. Conforme assinalou o Rabino Jonathan Sacks, em seu livro Lessons in
Leadership, foi a maior civilização a prever sua própria sobrevivência ancorada
na educação, nas casas de estudo, e no aprendizado como experiência religiosa
mais elevada do que a própria oração. A razão é que líderes são pessoas hábeis
a mobilizar outras a agir de certas maneiras. O outro modo de conseguir
liderança é entender as necessidades e aspirações das pessoas e ensina-las como
consegui-las de modo conjunto, como um grupo. Isto é realizado através do poder
da visão, força de personalidade, habilidade para articular compartilhamento de
ideais em uma linguagem com a qual as pessoas estejam identificadas, e a
capacidade de levantar muitos discípulos, os quais continuarão o trabalho no
futuro. O Poder diminui aqueles sobre
quem é exercido. A Influência levanta e desenvolve pessoas.
Nem todos vamos obter poder, porque este é dado por Deus quem
o possui, mas todos podemos ter influência. A mais importante forma de
liderança não vem com títulos, prestígio, posição, roupas oficiais, mas com a
prontidão ao serviço juntamente com outros, para buscar aquilo que não podemos
alcançar sozinhos; falar, ouvir, ensinar, aprender tratar outras pessoas com
respeito, mesmo as que são antagônicas a nós; explicar paciente e
convincentemente por que cremos no que cremos e fazemos o que fazemos;
encorajar outros a realizar os seus melhores esforços, e desafia-los a
realizarem o seu melhor. Sempre escolher a influência antes do que o poder.
Isto ajuda a mudar as pessoas as quais podem mudar outras pessoas; é assim que
podemos mudar o mundo.
Nossa postura diante de Deus deve ser aquela de quem quer ser
uma benção. Ninguém no mundo dos vivos existe somente para si. Por essa razão
vivemos em sociedade; as cidades são formadas por muitas sociedades que
adicionadas formam ambientes de trocas que produzem segurança. Juntos
deslocamos o medo. Estamos mais seguros porque sabemos que há, na grande
associação de pessoas, solução para a maioria os problemas. Neste contexto, a nossa
participação na sociedade local deve considerar primeiramente que o nosso
preparo deve ser esmerado para não diminuir a expectativa da segurança social,
ou seja, devemos realizar o nosso melhor no sentido do serviço ao semelhante, e
somente depois devemos pensar em recompensa, quer no sentido da honra, quer no
sentido monetário. Há na sabedoria indiana o seguinte raciocínio: não corra
atrás do dinheiro, deixe que o dinheiro corra atrás de você! Em outras
palavras, devemos fazer o nosso dever da maneira mais completa e sábia
possível, assim não teremos problemas financeiros.
No entanto, Nosso Mestre, Jesus Cristo, ensinou que para ter
sucesso neste mundo, deveremos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua
justiça, e todas as demais coisas nos serão acrescentadas.
A palavra-chave é justiça. Dar a outros o seu direito
primário. Então temos dois ensinamentos nas palavras do Mestre: buscar o bem-estar
daqueles que nos rodeiam aplicando-lhes a justiça; este é o primeiro ensino. O
segundo é: todas as outras coisas serão acrescentadas.
Que Deus possa abençoar-nos com sabedoria, a primeira das
grandes bênçãos; que Ele nos abençoe com saúde, a maior riqueza desta vida.
Porém, a mais importante das bênçãos é ser aprovado por Deus; Ter diante de nós
o rosto de Deus levantado em nossa direção e ter o sorriso dEle aprovando nosso
dia a dia.