O sábado é um marco muitíssimo importante
constituindo um ponto de partida estabelecido por Deus logo na criação. O
primeiro mandamento explicitamente exigido do homem recém criado foi o quarto
mandamento (Êxodo 20:8-11), o shabat - termo que significa parada – sendo que o
homem havia sido criado imediatamente antes do dia sétimo e, portanto, não
necessitava de uma parada para descansar, conforme a maioria dos eruditos
entende. Mas, se a palavra shabat significa parada ou descanso, é necessário
verificar o que deve estar parado.
Segundo a Torá, um povo necessita seguir
alguns princípios para que possa formar associações e estar unido: justiça,
liberdade, uma lei, respeito à vida (falamos da santidade da vida), a dignidade
humana. Tais princípios são encontrados nas regiões celestes onde não entrou o
pecado e, considerando que o decálogo expressa o ambiente legal do céu, então
no sábado encontramos os mesmos princípios.
Estamos acostumados a uma sociedade que
está submetida a hierarquias e poderes que se impõem pela força, e que dividem a população em duas classes: os livres e os escravos. Mas, o céu propõe um
outro tipo de política baseada não na força, mas, na aliança. Neste caso, nós
consentimos livremente que Deus tem a soberania e permitimos a submissão. E
este é o raciocínio que está expresso na guarda do sábado. Nele há igualdade e
justiça, igualdade que dignifica o ser humano. O grande princípio do sábado é
que nele todos são iguais, todos param o trabalho, significando que os poderes
sociais cessam não havendo dominadores e dominados, uma aliança acatada. Este é
o mais refinado ambiente de justiça. Até mesmo os animais experimentam
dignidade porque também não trabalham. É um ambiente de mutualidade, todos
consentem na liberdade, e na justiça. A mutualidade ou reciprocidade é a
condição para que possa haver a justiça; todos tem direito a tudo.
A vida de Jesus mostra claramente o
espírito do sábado. Seus mais significativos milagres ocorreram no sábado, e a
razão é que neste dia a justiça e a dignidade humana são alçadas. No milagre
realizado no homem que jazia enfermo por trinta e oito anos junto ao tanque de
Betesda (João 5) vemos Jesus demonstrando o raciocínio exposto. Era sábado, e
Jesus aproximou-se daquele enfermo sem que o mesmo lhe pedisse, e disse-lhe:
queres ficar são?
O homem explicou-lhe que não havia nenhum
homem que o pusesse no tanque quando as águas eram agitadas. O pobre homem
esperara por trinta e oito anos que alguém usasse de justiça e observasse nele
uma pessoa digna. Disse-lhe Jesus: Levanta, toma a tua cama e anda. O que
aconteceu ali foi a aplicação do princípio do sábado. Todos têm direito a tudo
porque são iguais, ao ser humano seja dada dignidade.
Tal qual hoje, os judeus da época não
assimilaram os princípios da lei e, consequentemente, não entendiam como
proceder no sábado. Disseram que não é lícito levar o leito no sábado e, além
disso, acusaram Jesus de quebrar a guarda do sábado.
O descanso sabático confere ao ser humano
sua mais alta dignidade. Confere ao povo de Deus o mais elevado senso de
justiça. Todos têm direito a tudo. Há o descanso porque cessam as hierarquias; todos deverão ter suas necessidades supridas.
Em Hebreus 4:9 lemos que “portanto, resta
ainda um repouso para o povo de Deus”. No verso 11 lemos “Procuremos, pois,
entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência”.