As religiões cristãs têm muita dificuldade quando lidam com
assuntos teológicos básicos e geralmente confundem religiosidade com beatice ou
misticismo. Questões elementares como fé, são tratadas de forma confusa, sendo
que tal confusão é consequência do abandono dos ensinamentos do Antigo
Testamento, baseados na premissa de que o Antigo Testamento fora escrito para
os judeus.
Há, além disso, a incompreensão do papel da igreja cristã no
contexto universal do desenvolvimento do plano da redenção, o qual foi explicado
por Jesus especificamente no famoso sermão da montanha. O cristianismo não
anula o judaísmo e não é diferente de seus pressupostos, mas, é a própria
evolução do judaísmo, conforme explicou o apóstolo Paulo, quem entendeu que os
judeus deveriam evoluir para o cristianismo, tendo trabalhado intensamente na
transição do sistema judaico para o sistema cristão.
Como mencionado acima, a questão da fé ficou incompreendida
por várias razões: a) misticismo oriundo do judaísmo; b) misticismo ratificado
pela incorporação de pressupostos pagãos; c) misticismo aprofundado por causa
da incompreensão dos reclamos de Deus no Velho Testamento.
Aos israelitas fora ensinado que a lei dos dez mandamentos
tem dois princípios: amor a Deus (Dt.6:5) e amarás ao teu próximo (Lv. 19:18).
Tais princípios foram ratificados por Jesus (Mc.12:30,31) e, consequentemente,
estão em uso pelos chamados cristãos.
As religiões cristãs, permitiram que os princípios do Antigo
Testamento fossem substituídos por pressupostos pagãos e, principalmente, por
tradições humanas, as quais levaram ao desentendimento de assuntos basilares,
sendo que a compreensão do que seja fé ficou mesclada com intenções místicas
causadas pelo abandono da lei dos dez mandamentos e de seus princípios.
Ora, se os cristãos têm que amar a Deus e ao próximo como a
si mesmos, a fé passa a ser um ato primeiramente de confiança e depois de
justiça. Assim, quando a justiça está em evidência, a preocupação passa a estar
centrada na pessoa do semelhante e não em nós mesmos.
Acontece que a fé cristã não obedece aos pressupostos
cristãos. Aqueles que aderem ao cristianismo, na sua esmagadora maioria, buscam
aos seus próprios interesses. Demonstrações de fé no seio das igrejas cristãs
tem sempre que ver com aquisições pessoais, graças alcançadas, bênçãos
recebidas, ostentação de privilégios, e por aí vai. Tais demonstrações são
contrárias aos ensinamentos de Cristo e ao próprio procedimento dEle enquanto
viveu entre os homens. Se a igreja cristã segue o seu líder Cristo, então deveria
fazer as obras que ele fez. Por esse ângulo, na igreja cristã as demonstrações
de fé deveriam estar relacionadas ao amor ao próximo.
É neste raciocínio que o apóstolo Tiago em sua epístola no capítulo
2:26 afirma: “Assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras
é morta”. O que materializa a fé cristã é o fazer as boas obras copiando o
modelo que é Cristo. Se temos fé em Jesus faremos as obras que ele fez ,
segundo Atos 10:38 “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e
com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo,
porque Deus era com ele”. Jesus buscava constantemente o ambiente da justiça,
exatamente como lemos em Isaías 58:6-11 onde o profeta recomenda o efetuar de boas
obras: “Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da
impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e
despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o
faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o
cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua
cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do
SENHOR será a tua retaguarda. Então clamarás, e o SENHOR te responderá;
gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender
do dedo, e o falar iniquamente; E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares
a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como
o meio-dia. E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares
áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um
manancial, cujas águas nunca faltam.
A escritora Ellen White no seu livro Para Conhecê-lo (p.331)
produz a seguinte afirmação: “Quando perante Deus se passarem em revista os
casos de todos, não se fará a pergunta: Que professaram? mas sim: Que fizeram
eles? foram praticantes da Palavra? Viveram apenas para si mesmos? ou se
tornaram hábeis em obras de beneficência, em atos de bondade, em amor,
preferindo os outros a si mesmos e negando-se a si próprios a fim de que fossem
uma bênção aos outros? Se o registro mostrar que essa foi sua vida, que seu
caráter foi assinalado pela ternura, renúncia e beneficência, receberão então
de Cristo a bendita declaração: “Bem está.” “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí
por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” Mateus
25:23, 34.
Devemos realizar as mesmas obras que Cristo realizou, mas, é
imprescindível ter fé nEle. Na medida em que vamos conhecendo Jesus vamos acumulando
confiança e, consequentemente, aumentando nossa fé, passando sem que percebamos
a realizar as obras de justiça. Aqueles
que estarão aptos no segundo advento de Jesus terão necessariamente fé em Jesus
(Apocalipse.14:12), ou seja, estarão operando as obras que ele realizou.
Agora, queremos mostrar a transformação ou a transição do
judaísmo para o cristianismo realizada pelo próprio Cristo quando, durante a
última páscoa antes do seu sacrifício, estabeleceu a santa ceia. Para o
judaísmo a mais alta demonstração de fé se dava quando um homem tomava um
cordeiro e oferecia seu sacrifício no templo, demonstrando fé no sacrifício
vindouro do Messias. Assim foi na saída do Egito quando os chefes de famílias
judeus pintaram os umbrais das portas com sangue de cordeiro. Também Raabe, quando
os israelitas tomaram Jericó, pendurou um cordão vermelho na janela
demonstrando fé no Messias salvador. Com a morte de Jesus os sacrifícios
perderam seu significado, considerando que o tipo encontrou o antítipo, ou
seja, o verdadeiro sacrifício, uma vez ocorrido, prescrevera o sistema
simbólico de sacrifícios animais. Por esse motivo, deveria haver outra
demonstração de fé, sendo assim estabelecida por Cristo a santa ceia na qual o
vinho simboliza o sangue que, agora de uma forma mais viva, é passado nos
umbrais da alma humana. Esta é a evolução experimentada pelo cristianismo em
relação ao judaísmo. A ceia estabelecida por Jesus tornou-se a maior e mais
profunda demonstração de fé que um homem pode oferecer a Deus. Tal raciocínio
está explícito em Lucas 22:20
que diz: “Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice
é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós". Assim, se o vinho representa
a nova vontade/testamento de Jesus no seu próprio sangue e, se da mesma forma o
sangue de animais representava o de Jesus, então a santa ceia é a
demonstração mais elevada de fé pós sacrifício de Cristo. Por outro lado, em I Corintios 11:26 vemos que
Jesus recomendou aos cristãos a constante demonstração de fé participando da
ceia: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice
anunciais a morte do Senhor, até que venha". Anunciar a morte significa crer nela como
sacrifício plenipotenciário para assegurar a própria vida e a salvação. Jamais
deveriam os crentes deixar de participar deste rito. Conforme vimos, o
cristianismo é a evolução do judaísmo, mas os cristãos necessitam saber disso.