BARRADOS PELA CIRCUNCISÃO?!
Em Romanos 4:12 lemos que foi Deus quem pediu a Abraão que aplicasse a circuncisão: E fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão. Se Deus ordenou a circuncisão, este assunto é atual e importante.
Para entendermos a razão da ordem de Deus temos que retornar ao Éden, no período anterior a queda do homem. Ali, a harmonia com a lei eterna de Deus era absoluta, segundo a escritora Ellen White “sendo a lei do amor o fundamento do governo de Deus, a felicidade de todos os seres inteligentes depende da perfeita harmonia, com seus grandes princípios de justiça. Deus deseja de todas as Suas criaturas o serviço de amor, serviço que brote de uma apreciação de Seu caráter” (Patriarcas e Profetas, p.34). Mas, o homem caiu levando-o a um estado de desarmonia com a lei e, consequente separação de Deus. Deus é um soberano (Sal.93), portanto, nossa relação com o seu governo se dá pela observância dos dez mandamentos, a constituição do seu governo.
Na era patriarcal Encontramos Abraão, a quem Deus chama para sair da sua terra e viajar para um lugar que Ele, o Senhor, iria indicar. E como indicativo de sua fé deveria circuncidar-se. E assim foi. Abraão também circuncidou Isaque seu filho, e este circuncidou a Jacó e este aos doze patriarcas (Atos 7:8).
Quando Deus chamou a Moisés para dirigir a saída de Israel do Egito, indo o mesmo a caminho de cumprir a missão, hospedou-se numa estalagem, e alí o Senhor o encontrou e quis mata-lo. A razão é que Moisés não havia circuncidado aos filhos e isto ofendeu a Deus (Ex. 4:22-26). O relato acima é algo preocupante: Se Deus quis matar Moisés por não haver circuncidado aos filhos, então, circuncisão é assunto muito sério. Por qual razão os cristãos modernos não praticam a circuncisão?
O relato histórico informa que no oitavo dia após seu nascimento Jesus fora circuncidado conforme o costume judaico. Novamente, se Jesus foi circuncidado, por que não os cristãos? Sabemos através do relato de Atos 11 ter havido uma polêmica sobre a necessidade da circuncisão e Paulo, o apóstolo responsável pela transição entre o judaísmo e o cristianismo, advoga que os gentios não estavam obrigados ao rito circuncidatório. Todavia, o que motivou o apóstolo a se inclinar por esta postura? A explicação está em Isaías 9:6 “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”.
Um filho se nos deu é a frase mais importante no verso acima, significando que Jesus é filho do homem, isto é, um de nós. Acrescente-se que sobre ele estava o principado ou a representação humana aquele que deverá operar em favor do homem o que este não tem capacidade para operar por si mesmo. O príncipe, o principal, aquele que importa. Este conceito é fundamental e por ele entenderemos algo extraordinário: “Cerca de quarenta dias depois do nascimento de Cristo, José e Maria levaram-nO a Jerusalém, para O apresentar ao Senhor, e oferecer sacrifício. Isso estava de acordo com a lei judaica e, como substituto do homem, Cristo Se devia conformar com a lei em todos os particulares. Já havia sido submetido ao rito da circuncisão, como penhor de Sua submissão à lei”. Desejado de Todas as Nações, p.50.
O ato da circuncisão representava a garantia de que o circuncidado estaria submetido à observância da lei. Doar o prepúcio a Deus simbolizava um compromisso de observar a lei, e tal rito era muito importante no período pré-Messiânico, considerando que aquele que tornaria possível a todos os homens guardarem a lei ainda não tinha vindo. Note-se que o reino da graça – o qual havia sido inaugurado após a queda no Éden – ainda não estava totalmente implantado. Jesus, o nosso exemplo, estava por vir e neste cenário, a aliança feita conosco era que devíamos ser “uma benção”, todavia o único parâmetro para comparação era a lei à qual todo filho de Deus estaria submetido, sendo a prova da submissão a circuncisão. Com a vinda do Príncipe dos homens, essa necessidade da circuncisão desaparece em virtude de que Jesus, a luz do mundo, veio para cumprir os reclamos da lei, morrendo e ressuscitando, além de deixar-nos o exemplo de como devem viver àqueles que desejam estar ligados ao céu. A imitação do comportamento e do caráter de Jesus por seus seguidores é o caminho seguro para a guarda da lei e, nestas circunstâncias, a garantia não é mais o prepúcio, mas, Cristo.
O Seven Day Adventist Bible Commentary diz o que segue: “Era chegado o tempo para ser introduzida pela igreja de Cristo uma fase de trabalho inteiramente nova. A porta que muitos dos judeus conversos haviam fechado aos gentios devia agora ser aberta de par em par. E os gentios que aceitassem o evangelho deviam ser tidos no mesmo pé de igualdade com os discípulos judeus, sem a necessidade de observar o rito da circuncisão. Os gentios, e especialmente os gregos, eram extremamente licenciosos, e havia o perigo de que alguns, não convertidos de coração, fizessem uma profissão de fé sem renunciar as suas más práticas, Os cristãos judeus não podiam tolerar a imoralidade, que nem mesmo era considerada crime pelos pagãos. Os judeus, portanto, consideravam como altamente próprio que a circuncisão e a observância da lei cerimonial fossem impostas aos conversos gentios como um teste de sua sinceridade e devoção. Isto criam eles, poderia impedir que se aliassem à igreja os que, adotando a fé sem verdadeira conversão de coração, pudessem mais tarde trazer opróbrio sobre a causa por imoralidade e excesso. Nesta ocasião parece ter sido escolhido Tiago para anunciar a decisão tomada pelo concílio. E sua sentença foi que a lei cerimonial, e especialmente a ordenança da circuncisão, não deveriam ser impostas aos gentios, ou a eles sequer recomendadas. Tiago procurou impressionar a mente de seus irmãos com o fato de que, em se convertendo a Deus, os gentios tinham feito grande mudança em sua vida, e que se deveria usar muita cautela para não perturbá-los com assuntos embaraçantes e duvidosos de somenos importância, para que não desanimassem em seguir a Cristo. Os conversos gentios, porém, deviam abandonar os costumes incoerentes com os princípios do cristianismo. Os apóstolos e anciãos, portanto, concordaram em instruir por carta os gentios a se absterem de carnes sacrificadas aos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Deviam ser instigados a guardar os mandamentos, e a levar vida santa. Deviam também estar certos de que os que declaravam ser a circuncisão obrigatória não estavam autorizados a fazê-lo em nome dos apóstolos”.
Pelo acima exposto, podemos entender o que o apóstolo Paulo afirmou quando disse “Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?” Rom. 2:26. E depois quando ensinou que “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor”. Gál. 5:6. Na verdade, a circuncisão era um ato de fé no vindouro Messias. Sendo que o Messias veio e habitou conosco, mostrou-nos como entrar e permanecer no reino de Deus, consolidando o reino da graça (graça significa conhecimento), sendo ele mesmo a maior graça recebida pelos humanos, nossa conformidade com a lei passa a ser garantida pela imitação do caráter do Messias, o qual é a expressão dos princípios da lei. Assim, nossa garantia de conformidade com lei não depende do ato da circuncisão física como prova de fé (Rom.2:25), mas, depende do ato da circuncisão espiritual pela imitação do comportamento de Cristo, conforme Paulo descreve em Rom. 2:28 e 29 e 3:30, a circuncisão do coração. Assim, a observância da lei por meio de Cristo se torna a circuncisão atual (I Cor.7:19) para a qual todo professo filho de Deus deve se submeter. O resultado da circuncisão espiritual pode-se ver no diagrama abaixo: