USO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
1
INTRODUÇÃO À BIO DIVERSIDADE
INTRODUÇÃO À BIO DIVERSIDADE
O crescente
interesse mundial sobre a quantificação da diversidade biológica tem base na
compreensão de que o estado do sistema biológico da Terra é de fundamental
importância para a sociedade humana e de que nossa influência nesse sistema tem
aumentado exponencialmente. Informações recentes estimam que mais da metade da
superfície habitável do planeta foi significativamente alterada pela atividade
humana (Hannah & Bowles, 1995). Essa informação sugere que poderemos estar
provocando extinção de espécies de forma maciça (Myers, 1979; Wilson, 1985).
Essa preocupação é legítima quando percebemos que o nosso conhecimento da
diversidade de plantas, animais, microrganismos e ecossistemas é assombrosamente
incompleto.
O conceito de diversidade biológica como sendo a variabilidade total da vida na Terra, emergiu há cerca de vinte anos, incluindo dois conceitos: variabilidade genética (a variabilidade genética nas espécies) e diversidade ecológica (o número de espécies numa comunidade de organismos) (Lovejoy, 1980; Wilson, 1985; Wilson & Peters, 1988; Chauvet & Oliver, 1993). Embora o termo biodiversidade seja recente, as origens remontam há tempos atrás. A necessidade de separar a diversidade de plantas, animais e microrganismos sobre a terra e nos oceanos em grupos reconhecíveis é uma característica humana e permite-nos achar nosso lugar no planeta em que vivemos. Classificação é um processo essencial da mente humana sendo uma ferramenta para sobrevivência. É necessário, por exemplo, saber quais são as plantas e os animais úteis ou quais fungos são comestíveis ou venenosos. Essa atividade de classificação é conhecida com Taxonomia. A primeira tentativa de produzir uma classificação formal vem de Aristóteles séculos antes da moderna taxonomia biológica surgida em meados do século XVIII.
Nosso conhecimento da diversidade de organismos permanece extremamente limitado, mas, tem aumentado grandemente durante os últimos 200 anos, desde que o mundo foi aberto para exploração, colonização e comércio. Todavia, não temos ainda certeza em relação à magnitude da diversidade biológica. Não sabemos ainda quantas são as espécies que ocupam nosso planeta, embora uma estimativa de 13.000.000 de espécies seja aceita, apenas um oitavo deste número está descrito e catalogado nos museus.
Idéias relativas às ligações e relações bióticas e abióticas, entre as espécies de organismos e seus ambientes (Ecologia), se desenvolveram a partir do século XVIII lideradas por naturalistas como Darwin, Humboldt e Wallace, observando os padrões distribuição das espécies e os tipos de vegetação em seus ambientes naturais. Todavia, a Ecologia desenvolveu ferramentas formais para medir e modelar essas relações na primeira metade do século XX.
A diversidade ecológica se refere ao número de espécies numa dada área, o papel que estas espécies desempenham, o modo como a composição de espécies muda, na medida em que ocorre a exploração da região e o grupamento de espécies que incide em uma dada área particular (campina, floresta, etc.), juntamente com os processos e interações que tomam lugar no interior e entre esses sistemas. Este conceito cobre também a diversidade de ecossistemas nas paisagens, e de paisagens nos biomas e de biomas no planeta.
A idéia sobre a diversidade genética é mais recente e está centrada na preocupação com a perda da variabilidade genética das plantas cultivadas, levando ao desenvolvimento de recursos genéticos o qual lida com amostragem, coleta e estoque da variabilidade genética de cultivares e raças domesticadas (Plucknett et al., 1987; Juma, 1989). A diversidade genética está relacionada à variação intra e inter-populacional de espécies, sendo medida em termos de variação entre genes ou entre seqüência de DNA ou amino ácidos em diferentes populações.
A quantidade de espécies estimadas tem sido alvo de muitas estimativas e, abaixo está uma tabela que ilustra a polêmica, onde estão anotados os números das espécies formalmente descritas e as estimativas totais.
Espécies descritas
|
Número estimado de espécies
|
Número de trabalho
|
Precisão
|
||
alto
|
baixo
|
||||
Virus
|
4.000
|
1.000.000
|
50.000
|
400.000
|
Muito pobre
|
Bactéria
|
4.000
|
3. 000.000
|
50.000
|
1.000.000
|
Muito pobre
|
Fungi
|
72.000
|
2.700.000
|
200.000
|
1.500.000
|
Moderada
|
Protozoa
|
40.000
|
200.000
|
60.000
|
200.000
|
Muito pobre
|
Algae
|
40.000
|
1.000.000
|
150.000
|
400.000
|
Muito pobre
|
Plantas
|
270.000
|
500.000
|
300.000
|
320.000
|
Boa
|
Nematoda
|
25.000
|
1.000.000
|
100.000
|
400.000
|
Pobre
|
Crustácea
|
40.000
|
200.000
|
75.000
|
150.000
|
Moderada
|
Aracnídea
|
75.000
|
1.000.000
|
300.000
|
750.000
|
Moderada
|
Insetos
|
950.000
|
100.000.000
|
2.000.000
|
8.000.000
|
Moderada
|
Moluscos
|
70.000
|
200.000
|
100.000
|
200.000
|
Moderada
|
Cordados
|
45.000
|
55.000
|
50.000
|
50.000
|
Boa
|
outros
|
115.000
|
800.000
|
200.000
|
250.000
|
Moderada
|
Totais
|
1.750.000
|
111.655.000
|
3.635.000
|
13.620.000
|
Muito pobre
|
Fonte:
Global Biodersity Assessment (1995)
Por iniciativa da Organização das Nações Unidas – ONU realizou-se no Rio de Janeiro em 1992 a chamada Convenção da Biodiversidade, reunião que ficou conhecida com a ECO-92. Na ocasião, os países participantes estabeleceram normas para conservação e o uso sustentável da biodiversidade. Foi acordado que os recursos genéticos nos territórios de cada país eram assunto de sua soberania, mas a Eco-92 requereu que todo país signatário tome medidas para preservar a sua diversidade biológica. Em 2002 outra Convenção sobre a biodiversidade aconteceu em Johanesburgo, a chamada Rio+10, e representou novos compromissos assumidos pelos países relativos à conservação da biodiversidade.
Manutenção
da biodiversidade
Após a publicação do livro “A Origem das Espécies” por
Darwin em 1859, muitos trabalhos foram publicados explorando as idéias
evolucionistas. Entretanto, a idéia da fixidez da superfície terrestre impunha
um modelo de evolução que previa a ocupação espacial através da dispersão de
espécies que, ao longo do tempo, a partir de centros de dispersão, iam ocupando
novas áreas geográficas. Uma das grandes preocupações da Biogeografia
pós-Darwin era estabelecer as rotas migratórias para as espécies e, conseqüentemente,
orientar as buscas pelos fósseis: a prova definitiva da evolução das espécies.
Mas, em 1929, a superfície da Terra ganhou mobilidade quando Alfred Wegener propôs
a teoria da deriva continental.
Atualmente existem seis continentes, sendo eles: América, África, Ásia,
Oceania, Europa e Antártica. A teoria de Wegener propunha a existência de uma
única massa continental chamada Pangéia, que começou a se dividir há 200
milhões de anos atrás.
Esta idéia foi complementada na época por Alexander Du
Toit, professor sul-africano de geologia, que postulou que primeiro a Pangéia
se separou em duas grandes massas continentais, Laurásia ao norte e Gondwana ao
sul (Dietz et al, 1970).
Posteriormente estas duas massas teriam se dividido em unidades menores e
constituído os continentes atuais. Segundo a teoria da deriva continental, a
crosta terrestre é formada por uma série de "placas" que
"flutuam" numa camada de material rochoso fundido, as chamadas placas
tectônicas. As junções das placas (falhas) podem ser visíveis em certas partes
do mundo, ou estar submersas no oceano. Quando as placas se movem umas ao
encontro das outras, o resultado do atrito é geralmente sentido sob a forma de
um tremor de terra (Ben-Avraham, 1981).
Essa teoria foi muito importante para a compreensão de padrões de distribuição das espécies e contribuiu para mudanças paradigmáticas no pensamento biogeográfico. As semelhanças encontradas na flora e fauna nas áreas tropicais do globo, por exemplo, não era produto da dispersão ou migração das espécies, mas da modificação das populações que estavam presentes na Pangéia que, ao partir-se em dois grandes blocos que migraram na direção norte sul, levaram sobre si parte da biota original que, por sua vez, sofreram pressões seletivas por causa das novas condições geográficas e ambientais, mudando as suas características primitivas. Com a quebra interna da Laurásia e da Gondwana dando surgimento aos atuais continentes, outra vez houve migração das placas continentais até a posição geográfica atual, fato que gerou novas pressões evolutivas sobre as frações da biota que migraram sobre as placas, resultando nas espécies que atualmente colonizam cada continente. Assim, o conceito de que o que acontece na Terra acontece na vida é o que embasa atualmente o pensamento biogeográfico.
Há na literatura informação mostrando que as áreas do globo submetidas a tectonismos mais freqüentes, como por exemplo, o sudeste asiático e América Central, também possuem megabiodiversidade (Levin, 1975). A explicação aceita é que os abalos tectônicos provocam freqüentes quebras de territórios estabelecendo barreiras às populações que estavam em simpatria, obrigando as frações resultantes a viverem em alopatria. Posteriormente, ocorre anagênese, ou seja, a evolução progressiva de espécies que envolve uma mudança na freqüência genética ou alélica de uma população inteira. Quando um número suficiente de mutações atinge a fixação numa população de tal maneira que existe uma diferença significativa em relação à população ancestral, uma nova espécie pode ser designada. Portanto, a população vai se modificando gradativamente, em função de continuas alterações nas condições ambientais e na freqüência alélica, resultando em uma população tão diferente da original que pode ser considerada uma nova espécie (Wiley, 1881; Nelson & Platnick, 1981; Eldredge & Cracraft, 1980).
Agora, surge uma pergunta: como explicar a
megadiversidade amazônica se esta é aparentemente estável do ponto de vista
tectônico?
Estudos geológicos recentes têm demonstrado que o processo
geotectônico gerador das bacias no interior da Placa Sul-Americana durante o
mesozóico, foi caracterizado por intenso magmatismo básico (Almeida, 1967;
Schobbenhaus e Campos, 1984). Isto gerou falhas ou descontinuidades que
drenaram a água que havia no interior amazônico. Igreja (2000) sugere que
Os
modernos estudos do Sistema Neotectônico Amazônico indicam que há a
possibilidade de aplicação de uma nova visão geométrico-evolutiva para o seu
relevo, onde o critério geocinemático seria o componente principal
(morfoestruturas), e numa dinâmica mais “violenta” que antes considerada,
constatada inclusive por importantes sismos... A megaestruturação dos rios
amazônicos, por exemplo, obedecem a uma distribuição ordenada e previsível no
contexto de um grande sistema de falhas transcorrentes destrais.
Por outro lado,
a progressiva implantação da rede de estações sismográficas na região amazônica
vem contribuindo, para melhor investigação dos movimentos geotectônicos lentos,
moderados, rápidos e instantâneos (sismos), permitindo as primeiras
sismodelineação das principais zonas ativas da Amazônia (Veloso et al. 1997). Segundo Igreja (2000) observa-se
neste aspecto que também caiu por terra a concepção de estabilidade tectônica amazônica,
pelo contrário, como já apontavam registros históricos (Sternberg, 1950), a
Geodinâmica Amazônica Cenozóica é intensa, apenas, ainda desconhecida.
Conforme o acima exposto verifica-se no vasto
território amazônico muito tectonismo; os grandes rios têm seus leitos por
sobre fendas geológicas, sendo as áreas interfluviais placas geológicas
distintas e com biotas específicas.
Hoje são reconhecidas oito áreas de endemismo na Amazônia (Guiana, Imeri, Napo, Inambari, Rondônia, Tapajós, Xingu, Belém) (Silva et al.,2005) baseadas na distribuição de vertebrados, mas coincidentes com distribuições de plantas e insetos, as quais se superpõem aos interfluvios, conforme o mapa abaixo.
A Amazônia não é uma região homogênea ou uma entidade
biogeográfica única, mas um complexo de unidades geológicas que carregam biotas
distintas, sendo por isso, muito diversa e de difícil compreensão.
Fonte: Silva et AL (2005)
CHAVE DE ACESSO À BIODIVERSIDADE
O caminho inteligente para uso da biodiversidade é
através da caracterização e da compreensão da linguagem que dá acesso a
ela. Tal linguagem é a taxonomia, que é
um ramo da sistemática que nomeia, descreve e classifica a espécie (Blackwelder,
1967). Nomes são palavras, uma curta sentença de símbolos que facilitam a descrição
e o reconhecimento. Um nome científico é único, uma chave crítica que abre a
informação sobre tudo o que está conhecido sobre organismos vivos. Os nomes
científicos são mais que nomes, são chaves que guardam e recuperam informações
funcionando como o número do CPF de um cidadão.
Homo sapiens é o único nome
que guarda e recupera informações sobre o homem e, além disso, o coloca numa
ordem hierárquica de classificação.
A classificação biológica está baseada na aceitação de
uma única história comum para a vida e, conseqüentemente, reflete esta história
comum em seu arranjo hierárquico. A
sistemática é a ciência que estuda o sistema vivo, compreendendo e analisando
as espécies e suas relações, buscando ponderar a biodiversidade. A menos que
conheçamos as relações entre as espécies (táxon, taxa), torna-se muito difícil determinar a significância de um
caráter, como por exemplo, uma diferença química. Se soubermos que um táxon
possui um caráter químico de interesse econômico, conhecer quais são os taxa que estão relacionados proximamente
pode expandir a gama de caracteres químicos semelhantes. Através de uma matriz de caracteres pode-se
ler todos os caracteres relevantes de um táxon particular ou qual táxon possui
um caráter especial.
O
VALOR DA BIODIVERSIDADE
De acordo com Norton (1988), às espécies pode-se
atribuir valor de commodity, de amenidade e valor moral. Dizemos que uma
espécie tem valor de commodity se pode ser transformada em produto vendido no
mercado. Neste caso, às espécies são atribuídos valores diretos. Todavia,
pode-se valorar de forma indireta como ocorre na indústria farmacêutica, uma
vez que muitos medicamentos são cópias sintéticas de químicos produzidos
biologicamente (Lewis & Elvin-Lewis, 1977).
Uma espécie tem valor de amenidade se sua existência
ajuda a melhorar a vida, de alguma maneira, não material. Aspectos estéticos ou
espirituais, ou ainda aspectos de entretenimento são algumas formas de atribuir
valor de amenidade. A natureza, em muitos casos, serve como modelo para criação
artística ou mesmo de inspiração na solução de problemas de engenharia que
ajudam a gerar mecanismos, estética, diversão, paisagismo, etc.
Em relação ao valor moral, muitos autores advogam que,
independentemente dos valores e dos usos que a humanidade atribui às espécies,
estas possuem valor em si mesmas. Talvez, seja suficiente dizer que as espécies
possuem valor moral mesmo que o valor moral dependa de conceitos humanos
(Norton, 1988). Thoreau (1942) afirma que a simples observação de outras
espécies nos ajuda a viver melhor. Por outro lado, as espécies podem atuar como
fontes morais aos humanos, ajudando-os a formar, refomar e melhorar seus
próprios sistemas de valores (Norton, 1988). Tanto quanto passa o tempo, nosso
conhecimento sobre as espécies vai sendo incrementado, adicionando também novos
usos às espécies (mais valia no sentido das commodities), novos níveis de
valores estéticos e novos valores morais, os quais não reconhecemos no
presente.
O valor em dólar da diversidade biológica é muito
difuso, ou seja, somente é possível atribuir um valor econômico se se pode de
alguma forma, valorar os usos que uma espécie poderá oferecer. Fisher & Hanemann (1985) valoraram uma
nova gramínea silvestre descoberta no México, como valendo 6.82 bilhões de
dólares, por ser proximamente relacionada com o milho e por oferecer
possibilidade de cruzamentos para fornecer híbridos perenes de milho. Mas, é
preciso, primeiramente conhecer a diversidade, ou seja, quantificá-la e
classificá-la, para depois atribuir valor econômico. Mesmo tendo-se ciência do valor de uma
espécie, explorá-la, nem sempre, é tarefa simples, considerando que espécies
dependem de outras para sua sobrevivência e, conseqüentemente, a domesticação
agronômica pode ser inviável, em alguns casos, ou pode ser que demore anos para
que seja viável economicamente. Há espécies que são criticas em seus
ecossistemas, das quais tantas outras dependem em diferentes graus. Rapidamente
concluímos que o valor da diversidade biológica representa mais do que a
simples soma algébrica de suas espécies.
AS ÁREAS MEGADIVERSAS
Uma tendência de aumento da biodiversidade com o
decréscimo da latitude pode ser observada para vários grupos de animais; mais
espécies vivem em determinada área dos trópicos do que em áreas de mesmo tamanho
nas zonas de mais altas latitudes. Esse
padrão tem se verificado para mamíferos (Simpson, 1964), pássaros (Cook, 1969),
répteis e anfíbios (Kiester, 1971) e insetos (Stork, 1988), entre outros. Não é,
entretanto, a latitude o fator que determina a diversidade, mas outros fatores
potencialmente importantes, tais como a temperatura, a precipitação total, a
variação sazonal na precipitação e o fluxo de energia no ecossistema determinam
o padrão de distribuição da biodiversidade (Stork, 1995).
Outra variável que certamente exerce um papel decisivo
na distribuição dos táxons é o tectonismo. Fonseca (1988) estudando coleópteros
da família Passalidae (INSECTA, SCARABAEOIDEA) verificou que nas áreas de maior
intensidade tectônica a diversidade de gêneros é maior do que naquelas de maior
estabilidade. Um exemplo que sobressai é o número de gêneros de besouros
Passalidae no continente africano (três) contra o número de gêneros do mesmo
grupo na ilha de Madagascar (seis) e Sudeste asiático (vinte e dois), ambos com
forte tectonismo. O mesmo ocorre na América do Sul, onde o referido grupo está
representado por oito gêneros, contrastando com a America Central com vinte
gêneros. Este padrão parece ser recorrente para outros grupos de insetos,
considerando a quantidade de endemismos nestas áreas de alta tensão tectônica.
ESPÉCIES
CONHECIDAS
A avaliação da
diversidade biológica é complexa e varia de acordo com os objetivos definidos.
Usualmente, consideram-se quatro razões para fazer avaliações da diversidade
(Burley & Gauld, 1994; Bachmann, Köhl, Päivinen, 1998):
a. Para
compreensão científica da estrutura, função e evolução dos ecossistemas,
necessário para basear o manejo de recursos;
b. Para
conservação e desenvolvimento de germoplasma para melhoramento genético de espécies
para florestas plantadas e agrofloresta;
c. Para
monitorar as mudanças naturais e antropogênicas na diversidade biológica
provocadas pelo impacto do manejo da terra;
d. Para
decidir áreas prioritárias para conservação da biodiversidade por razões
éticas, estéticas, religiosas, culturais, científicas ou para futura
prospecção.
Qualquer que seja o índice ou indicador requerido, e qualquer que seja a escala ou intensidade de amostragem usada, a avaliação da biodiversidade emprega muitos métodos. Esses incluem a expansão do tradicional inventário florestal para inventário multitaxon baseado em sítios de amostragem temporários ou permanentes, ou ainda sítios de pesquisa ecológica de longa duração adotados pela UNESCO, Smithsonian Institution, FAO e outras agências internacionais. Tais inventários são facilitados e incrementados por sensoriamento remoto e sistemas de bancos de dados e informação geográfica. Métodos bioquímicos modernos estão se tornando de amplo uso para avaliações rápidas e precisas da diversidade genética, sistemática e populações genéticas no nível do DNA e da proteína (Glaubitz & Moran, 2000).
O conhecimento do número de espécies que vivem no nosso planeta é parcial, porque muitas espécies ainda não foram descritas; incorreto, porque existem erros de julgamento taxonômico e de outros tipos, sendo que para alguns grupos o número apresenta melhor acuidade do que para outros. Além de serem incompletos, para muitos grupos os dados sobre espécies descritas são pobremente organizados, de modo que o número de espécies reconhecidas é uma aproximação. Não é de estranhar que os números de espécies descritas informadas por autores de renomada competência variam consideravelmente (Hammond, 1995; Gaston, 1991). No entanto, foram descritas aproximadamente 1,7 milhões de espécies, dessas, cerca de 1.300.000 são animais, conforme tabela abaixo.
BACTÉRIA
(bacteria, cyanobacteria, algas verdes
e azuis, etc)
|
[c. 4.000]†
|
ANIMALIA
|
1.320.000
|
ARCHEA
(halobacteria, methanogens, eocytes,
etc)
|
METAZOA
|
1.320.000
|
|
EUKARIA
|
Porifera (esponjas)
|
10.000
|
|
PROCTISTA
(protozoa, algae,etc)
|
80.000
|
Cnidaria (hidras, corais, águas
marinhas
|
10.000
|
Actinopoda
|
6.000
|
Plathyhelmintes (vermes achatados)
|
20.000
|
Foraminifera
|
10.000
|
Nematoda
(vermes arredondados)
|
25.0000
|
Cilophora
|
8.000
|
Echinodermata (ouriço do mar)
|
6.000
|
Sporozoa
|
5.000
|
Chordata (peixes, aves, mamíferos,
etc)
|
45.000
|
Rhodophyta
(alga vermelha)
|
5.000
|
Arthropodas (caranguejos, aranhas,
insetos, etc)
|
1.085.000
|
Gamophyta
(alga verde)
|
10.000
|
Mollusca
(Caracol, lula, etc)
|
70.000
|
Bacillariophyta (diatomaceae)
|
12.000
|
Anellida
(vermes segmentados)
|
12.000
|
PLANTAE
|
270.000
|
VIRUS
|
[c.4.000]
|
Musgos,
hepáticas
|
16.000
|
||
Pteridófitos
|
10.000
|
||
Spermatophyta
(plantas com semente)
|
240.000
|
||
FUNGI
|
72.000
|
Fonte: Global Biodiversity
Assessment (1995)
Entre os animais, os artrópodes são os mais numerosos sendo que alguns grupos são hiperdiversos, tais como: Diptera (120.000 espécies); Hymenoptera (130.000 espécies); Lepidoptera (150.000 espécies) e Coleoptera (400.000 espécies).
A taxa de
descrições de novas espécies está na casa de 13.000 por ano e tem se mantido
assim nas ultimas duas décadas. Entretanto, apesar da alta taxa de descrição,
os incrementos em espécies válidas têm sido baixos, especialmente para os
grupos pouco conhecidos.
USO
DA BIODIVERSIDADE ANIMAL PELO HOMEM
AQÜICULTURA
AQÜICULTURA
A produção
mundial de pescado através de pesca e aqüicultura é de aproximadamente 142
milhões de toneladas por ano, segundo os dados da FAO (2006), correspondendo ao
consumo per capita de 16,6 Kg. Desse total aqüicultura responde por 43%. De toda proteína animal consumida
mundialmente, o pescado representa, pelo menos, 20% da média per capita. Entre
2004 e 2005 houve um acréscimo de um milhão de toneladas na produção. Tal
produção representa uma estimativa de US$84.9 bilhões.
Fonte: FAO
Aqüicultura tem crescido mais rapidamente do que qualquer outro tipo de produção animal, com média de 8,8% ao ano desde 1970. A pesca cresceu 1,2% enquanto que o sistema de produção terrestre de carne cresceu 2,8%.
A pesca de fauna
aquática quer de água doce, quer marinha, para a América do Sul está resumida
na tabela abaixo, onde o Chile e o Peru aparecem como os maiores produtores:
PAÍSES
|
PEIXES DE ÁGUA DOCE
|
PEIXES DE MAR
|
CRUSTACEOS
|
MOLUSCOS
|
CEFALÓPODES
|
ARGENTINA
|
37
|
761
|
29
|
50
|
77
|
BOLIVIA
|
6
|
1
|
|||
BRASIL
|
420
|
436
|
137
|
19
|
4
|
CHILE
|
569
|
4563
|
20
|
178
|
177
|
COLOMBIA
|
93
|
97
|
22
|
0
|
0
|
EQUADOR
|
8
|
333
|
58
|
0
|
0
|
GUYANA
|
1
|
38
|
19
|
0
|
0
|
PARAGUAY
|
24
|
0
|
0
|
0
|
0
|
PERU
|
44
|
9239
|
14
|
52
|
284
|
SURINAME
|
0
|
19
|
14
|
0
|
0
|
URUGUAY
|
2
|
110
|
3
|
3
|
5
|
VENEZUELA
|
55
|
356
|
46
|
54
|
2
|
Fonte
FAO (toneladas x 1000)
A produção
brasileira de pescado, segundo dados da FAO para o ano de 2004 foi da ordem de
856 mil toneladas, sendo que foram pescadas 137 mil toneladas de crustáceos
(camarões de caranguejos), 19 mil toneladas de moluscos (conchas) e 4 mil
toneladas de cefalópodes (polvos e lulas).
Para a região
norte do Brasil, a produção de alimentos a partir da aqüicultura representou
(IBAMA, 2005) 8,1% da produção nacional (257.780,0 toneladas), ou seja, 19.984,5
toneladas, sendo que a produção do Estado do Amazonas 5.515,0 toneladas,
perfazendo 9,1% da produção estadual, onde a pesca artesanal (90,9% da
produção) foi de 55.412,5 toneladas.
Produção estimada relativa à pesca
extrativa industrial, artesanal e aqüicultura, no Brasil e nos Estados da
região Norte para o ano de 2005.
UF
|
Pesca
Extrativa
|
Aqüicultura
|
Total
|
||||
Industrial
|
%
|
Artesanal
|
%
|
Total
|
%
|
t
|
|
BRASIL
|
232.429,
|
23,0
|
518.863,5
|
51,4
|
257.780,0
|
25,5
|
1.009.073,0
|
REGIÃO
NORTE
|
16.115,0
|
6,6
|
209.164,0
|
85,3
|
19.984,5
|
8,1
|
245.263,5
|
Rondônia
|
0,0
|
0,0
|
2.329,0
|
35,9
|
4.151,0
|
64,1
|
6.480,0
|
Acre
|
0,0
|
0,0
|
1.487,5
|
42,4
|
2.023,0
|
57,6
|
3.510,5
|
Amazonas
|
0,0
|
0,0
|
55.412,5
|
90,9
|
5.515,0
|
9,1
|
60.927,5
|
Roraima
|
0,0
|
0,0
|
783,0
|
28,5
|
1.967,0
|
71,5
|
2.750,0
|
Pará
|
16.022,0
|
10,9
|
128.523,0
|
87,5
|
2.350,5
|
1,6
|
146.895,5
|
Amapá
|
93,0
|
0,5
|
18.907,0
|
97,6
|
378,0
|
2,0
|
19.378,0
|
Tocantins
|
0,0
|
0,0
|
1.722,0
|
32,4
|
3.600,0
|
67,6
|
5.322,0
|
Fonte: IBAMA (2005)
O setor
pesqueiro nacional representa em média R$ 5 bilhões do Produto Interno Bruto
(PIB) relativo à pesca e gera cerca de 3,5 milhões de empregos diretos e
indiretos.
O consumo de peixes no Brasil é de aproximadamente 7 Kg por habitante/ano, segundo estudo do IBGE (2006), sendo que a média mundial é de 16 Kg/hab/ano e o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 12Kg/hab/ano. Alguns Estados do país, tal como o Amazonas, têm o peixe como base da alimentação, mas outros têm consumo abaixo da média nacional.
Vida silvestre como fonte de alimentos
O consumo de
proteína animal oriunda da vida silvestre varia muito através dos continentes.
Na África, uma importante fonte de proteína animal vem da caça de espécies das
savanas, mormente ruminantes, porcos, macacos e roedores, entre outros (FAO,
2007). A variação de espécies de relativa importância tem sido documentada para
algumas áreas do continente e variam de localidade para localidade, dependendo
da disponibilidade e das restrições legais em muitos países.
Espécies de mamíferos usados como fonte de
alimento em relação ao ambiente
PAÍS
|
POVO INDÍGENA
|
AMBIENTE
|
NÚMERO DE ESPÉCIES
|
Zaire
|
Mbuti
|
Floresta
|
57 (60)
|
Zaire
|
BaMbote
|
Floresta
|
35 (90)
|
Kenya
|
Dorobo
|
Floresta/Savana
|
26 (41)
|
Botswana
|
Kung
|
Savana seca
|
28 (58)
|
Tanzania
|
Tongwe
|
Floresta
|
37 (91)
|
Kenya
|
Rendille
|
Semi-deserto
|
7 (29)
|
Kenya
|
Turkana
|
Savana seca
|
44 (56)
|
Fonte: Ichikawa
(1993)
Há estudos
mostrando a composição da dieta de alguns grupos étnicos que vivem no oeste
africano (Takeda & Sato, 1993; Takeda, 1990)
Números de espécies de diferentes grupos
faunísticos usados com fonte de alimento entre três grupos étnicos africanos
GRUPO
|
HORTICULTURISTAS
|
CAÇADORES
|
|
BOYELA
|
NGANDU
|
MBUTI
|
|
Mamíferos
|
52
|
62
|
57
|
Pássaros
|
38
|
46
|
113
|
Répteis
|
14
|
20
|
7
|
Anfíbios
|
8
|
2
|
2
|
Peixes
|
51
|
104
|
22
|
Insetos
|
22
|
51
|
29
|
Estes números
apenas exemplificam como a fauna silvestre ainda é utilizada como fonte
alimentícia em certas regiões do mundo, mas não iremos nos alongar com outros
exemplos, embora se saiba que a caça é ainda utilizada nas regiões mais
abastadas em recursos financeiros e de informações, para o preparo de iguarias
exóticas e, às vezes, consideradas sofisticadas.
De outro lado,
a produção de proteína animal através da atividade de pecuária ao redor do
mundo é muito expressiva, sendo da ordem de 260 mil toneladas em 2004, segundo
os dados produzidos pela FAO. Na America do Sul o Brasil é de longe o maior
produtor, representando 7,66% da produção mundial, seguido pela Argentina,
Colômbia, Chile e Venezuela, conforme a tabela abaixo:
PRODUÇÃO DE CARNE (1000
TON.)
AREA/
TEMPO
|
2003
|
2004
|
% NO MUNDO 2004
|
ARGENTINA
|
3.762
|
4.175
|
1.61
|
BOLIVIA
|
440
|
446
|
0.17
|
BRASIL
|
18.388
|
19.919
|
7.66
|
CHILE
|
1.041
|
1.126
|
0.43
|
COLOMBIA
|
1.494
|
1.587
|
0.61
|
EQUADOR
|
579
|
591
|
0.23
|
GUYANA
|
27
|
27
|
0.01
|
PERU
|
939
|
958
|
0.37
|
PARAGUAY
|
351
|
414
|
0.16
|
SURINAME
|
9
|
9
|
0.00
|
URUGUAY
|
530
|
602
|
0.23
|
VENEZUELA
|
1.238
|
1.170
|
0.45
|
MUNDO
|
253.688
|
260.098
|
Fonte: FAO
Os números indicam o papel desempenhado pelas espécies da fauna domesticada na produção de riqueza para os países. No caso brasileiro, tal produção representou para o ano de 2005 recursos da ordem de 35 bilhões de dólares.
RIQUEZA
PRODUZIDA NA AMERICA DO SUL ADVINDA DA DIVERSIDADE ANIMAL ($1000)
AREA/
TEMPO
|
2004
|
2005
|
ARGENTINA
|
9.729.364
|
9.399.912
|
BOLIVIA
|
786.655
|
774.246
|
BRASIL
|
37.214.120
|
34.929.980
|
CHILE
|
1.990.255
|
1.960.493
|
COLOMBIA
|
4.147.992
|
4.068.392
|
EQUADOR
|
1.422.021
|
1.314.944
|
GUIANA
FRANCESA
|
2.870
|
2870
|
GUYANA
|
41.805.
|
41.805
|
PARAGUAY
|
840.625
|
840.334
|
PERU
|
1.215.513
|
1.700.932
|
SURINAME
|
16.200
|
16.200
|
URUGUAY
|
1.539.206
|
1.537.569
|
VENEZUELA
|
2.412.409
|
2.272.120
|
Fonte: FAO
Tomando-se
uma fotografia da produção pecuária no Brasil, nos últimos cinco anos, tem-se
um quadro de aumento significativo para o rebanho bovino, mas certa
estabilidade para outros tipos de rebanhos e, até mesmo para galináceos e
coelhos, conforme os dados produzidos pelo IBGE para o período 2000/2005:
Efetivo dos Rebanhos -
Cabeças
|
||||||
Brasil
|
||||||
Tipo de Rebanho
|
2000
|
2001
|
2002
|
2003
|
2004
|
2005
|
Bovino
|
169.875.524
|
176.388.726
|
185.348.838
|
195.551.576
|
204.512.737
|
207.156.696
|
Eqüino
|
5.831.817
|
5.801.055
|
5.774.493
|
5.828.376
|
5.787.250
|
5.787.249
|
Bubalino
|
1.102.551
|
1.118.823
|
1.113.400
|
1.148.808
|
1.133.622
|
1.173.629
|
Asinino
|
1.242.177
|
1.239.025
|
1.217.122
|
1.208.660
|
1.196.324
|
1.191.533
|
Muar
|
1.347.855
|
1.345.656
|
1.339.161
|
1.345.389
|
1.358.419
|
1.388.665
|
Suíno
|
31.562.111
|
32.605.112
|
31.918.749
|
32.304.905
|
33.085.299
|
34.063.934
|
Caprino
|
9.346.813
|
9.537.439
|
9.429.122
|
9.581.653
|
10.046.888
|
10.306.722
|
Ovino
|
14.784.958
|
14.638.925
|
14.277.061
|
14.556.484
|
15.057.838
|
15.588.041
|
Galos, frangas, frangos e pintos
|
659.245.547
|
692.654.775
|
703.718.166
|
737.523.096
|
759.512.029
|
812.467.900
|
Galinhas
|
183.494.626
|
190.233.644
|
180.427.006
|
183.799.736
|
184.786.319
|
186.573.334
|
Codornas
|
5.775.181
|
6.045.342
|
5.575.068
|
5.980.474
|
6.243.202
|
6.837.767
|
Coelhos
|
375.573
|
348.779
|
337.135
|
335.555
|
324.582
|
303.640
|
Fonte: IBGE, Pesquisa Pecuária Municipal
(PPM)
|
Quando olhamos o tamanho do rebanho bovino brasileiro, da ordem de 207 milhões de cabeças, na perspectiva da ocupação espacial das regiões do país, verificamos que a região norte é a segunda maior produtora com 41 milhões de cabeças, e o Estado do Amazonas colabora com 1.197.171, representando 28,85% do rebanho regional, de acordo com os dados do IBGE para 2005.
Efetivo dos rebanhos (Cabeças)
|
||
Rebanho Bovino
|
||
Ano 2005
|
||
#
|
Brasil, Região Geográfica e Unidade da Federação
|
|
1
|
Brasil
|
207.156.696
|
2
|
Centro-Oeste
|
71.984.504
|
3
|
Norte
|
41.489.002
|
4
|
Sudeste
|
38.943.898
|
5
|
Sul
|
27.770.006
|
6
|
Nordeste
|
26.969.286
|
7
|
Amazonas
|
1.197.171
|
Fonte: IBGE
A fauna pode ser ainda avaliada considerando outras variáveis ou produtos que são considerados como tendo relevância como bens de consumo, logo, considerados de mais valia para o comércio nacional e internacional. Na tabela abaixo (IBGE,2005) vemos alguns quantitativos para o Brasil, para a região norte:
Produção de origem animal
|
|||||
Ano 2005
|
|||||
Brasil, Região Geográfica e Unidade
da Federação
|
Tipo de produto
|
||||
Brasil
|
Leite (Mil litros)
|
24.620.859
|
|||
Ovos de galinha (Mil dúzias)
|
2.773.429
|
||||
Ovos de codorna (Mil dúzias)
|
117.638
|
||||
Mel de abelha (Quilograma)
|
33.749.666
|
||||
Casulos do bicho-da-seda (Quilograma)
|
7.448.904
|
||||
Lã (Quilograma)
|
10.777.534
|
||||
Norte
|
Leite (Mil litros)
|
1.743.253
|
|||
Ovos de galinha (Mil dúzias)
|
75.758
|
||||
Ovos de codorna (Mil dúzias)
|
1.378
|
||||
Mel de abelha (Quilograma)
|
653.467
|
||||
Casulos do bicho-da-seda (Quilograma)
|
-
|
||||
Lã (Quilograma)
|
-
|
||||
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal
|
|||||
Um
sobrevôo sobre o dados mostram que para a região Norte existem ainda lacunas
que poderiam ser preenchidas, pois seriam alternativas que gerariam mais renda,
considerando as peculiaridades locais. Uma delas é a produção de mel de
abelhas, representando atualmente apenas uma tonelada/ano. Para essa atividade
seriam necessários recursos financeiros para dar o chamado “startup”,
significando cursos de treinamento para a criação e manejo das colméias, bem
como para o gerenciamento comercial. Parece-nos outra lacuna a exploração da
seda, uma atividade nula na região norte. Há muitas espécies de Lepidoptera
(borboletas) nativas que produzem seda, todavia, a domesticação dessas espécies
demanda estudos científicos para dominar o manejo, mas, além disso, estudos de
melhoramento genético para aumentar a produtividade dos insetos, ou seja, tempo,
preparação de recursos humanos e principalmente perseverança.
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal |
BIODIVERSIDADE
AMAZÔNICA
A Amazônia detém cerca de 1/10 da biota universal e, conseqüentemente,
é um gigantesco banco genético. Essa heterogeneidade típica dos ambientes
tropicais gera problemas para a ocupação humana e para exploração dos recursos
naturais, considerando que a baixa densidade demográfica e ausência de
tecnologia apropriada para extração e exploração industrial, aliada ao alto
custo operacional aumentam a distancia entre a Amazônia e o chamado primeiro
mundo. Apesar do grande potencial econômico não há ainda ciência local para a
transformação da rica diversidade genética em bens de consumo. Por isso,
precisamos de mais ciência e biotecnologia no nível micro, macro e mega, para
que possamos utilizar inteligentemente esses recursos da flora e fauna, sem
destruir as opções do futuro.
Salati et al
(1998) chamam atenção para o problema da diminuição da biodiversidade, o qual
está relacionado com os processo de redução da variabilidade genética. Assim, o
uso dos recursos naturais vivos passa pela resposta a algumas questões de
fundo: 1) Como cada população é regulada, isto é, qual a amplitude da taxa de
nascimento e morte dos indivíduos?; 2)Até que nível cada população é regulada
e/ou dependente do comportamento de cada indivíduo?; 3) Como as espécies interagem
entre si como mutualistas, competidoras ou na relação predador-presa?; 4) Como
a cadeia alimentar determina a estrutura de uma comunidade, e se a extinção de
uma determinada espécie afeta a existência de outras espécies?; 5) Como as
mudanças ambientais afetam os organismos, do nível individual ao nível do
ecossistema.
ESPÉCIES CONHECIDAS (TIPOS NAS
COLEÇÕES)
O estado atual do conhecimento sobre a biodiversidade
amazônica mostra um grau acentuado de incertezas. No entanto alguns números
estimam a riqueza em espécies, como por exemplo:
427 espécies de mamíferos
1249 espécies de aves
378 espécies de repteis
427 espécies de anfíbios
3000 espécies de peixes
40000 espécies de plantas
Estima-se ainda que a Amazônia albergue de 20 a 100 mil espécies de
microrganismos;1 a 10 milhões de espécies de invertebrados e 5 a 7
mil espécies de vertebrados.
Considerando a história, dois fatos colaboraram para o
incremento da coleta e catalogação de organismos vivos: a descoberta de novos
continentes no final do século XV e início do século XVI e a invenção do
microscópio. No Brasil, há coleções biológicas desde o século XIX e,
especificamente na Amazônia, há coleções nas principais instituições de ensino
e pesquisa, sendo a coleção do Museu Paraense Emílio Goeldi a mais antiga. No
caso das instituições oficiais, estas coleções têm sido reunidas por inúmeros
especialistas, desde os primeiros viajantes naturalistas aos pesquisadores
atualmente em atividade.
A importância de coleções está no fato de que
“concentram as informações sobre as espécies que, incorporadas a bancos de
dados eficientemente, podem gerar uma série de benefícios (Brandão et al., 1998). Canhos (2004) assinala
que as coleções biológicas não devem ser consideradas como meros depositórios
de espécimes mortos, para mera
constatação da sua existência em determinado momento do tempo, mas que a missão
dessas coleções é de documentar, compreender, educar o mundo sobre a vida em
nosso planeta , passado e presente. Além disso, salienta ainda que devem conter
informações em quantidade e qualidade, de forma que sejam capazes de promover
pesquisas, sendo base de dados importantes para nortear programas de
preservação da diversidade biológica, tornando-se fatos sociais estratégicos
para orientar tomadas de decisões.
As coleções demandam iniciativas multi e
interdisciplinares, requerendo ambientes de cooperação nacional e
internacional, de modo a formar um conjunto de informações comparativas. Na
verdade, as coleções são repositórios de recursos genéticos que podem ser úteis
às atividades econômicas, especialmente no caso amazônico, onde, devido as suas
características, há forte tendência para o desenvolvimento da biotecnologia.
As instituições de pesquisas locais, embora
conscientes do valor da biodiversidade, e a despeito de esforços recentes do
governo federal, ainda não receberam recursos suficientes para manterem
programas estáveis de coleta e catalogação das espécies regionais. A ausência
de uma política regional ou mesmo institucional de coletas revela-se através
das coleções zoológicas mantidas por elas, onde o material testemunho da
diversidade faunística não representa, talvez, um terço da riqueza genética
disponível. Nota-se que os acervos estão relacionados à presença de
especialistas, uma vez que não há representatividade de todos os grupos,
conforme mostram as tabelas abaixo:
Acervo
faunístico (número de exemplares)nas coleções do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Instituto
de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) (Fonte:
Páginas das instituições na internet) spp = número de espécies.
INPA
|
MPEG
|
IEPA
|
|
INSETOS
|
330.201
|
2000.000
|
30.000
|
ARTRÓPODES
|
3.800
|
10.000
lotes
|
10.000
51 spp
|
MOLUSCOS
|
|||
MAMIFEROS
|
5.237
|
36.000
|
1.100
120 spp
|
AVES
|
700
|
80.000
|
1.372
300 spp
|
ANFÍBIOS E RÉPTEIS
|
16.500
|
60.000
|
|
PEIXES
|
25.500 Lotes
|
10.000
lotes
|
Exemplares tipos (Holótipos e Parátipos) depositados nas coleções do INPA, MPEG e IEPA (Fonte: Páginas das instituições na internet) spp = número de espécies.
INSTITUIÇÕES
|
TIPOS
|
||||||
INVERTEBRADOS
|
VERTEBRADOS
|
||||||
INSECTA
|
ARTRÓPODES
|
MOLUSCOS
|
MAMIFEROS
|
AVES
|
ANFÍBIOS E RÉPTEIS
|
PEIXES
|
|
INPA
|
1.500
|
?
|
0
|
42
|
0
|
10
|
348
|
IEPA
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
MPEG
|
2.200
+ 300
spp
|
73
16 spp
|
0
|
50
|
0
|
244
36 spp
|
79
10 spp
|
No que tange à diversidade das copas das árvores,
ambiente considerado a última fronteira a ser explorada, alguns autores (Erwin,
1982; 1983a,b; 1989; Adis et al., 1997,
1998a) já demonstraram a riqueza de artrópodes em florestas amazônicas. Hurtado
et al. (2003), estudou, na Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada na
rodovia AM-010, Km 25, Manaus, Amazonas, a densidade de artrópodes nas copas de
três espécies de árvores da família Sapotaceae e seis espécies da família
Lecytidaceae, encontrando média de 325,34 indivíduos/m2, cifras
superiores a quaisquer outras já levantadas nos trópicos do mundo.
BIOPROSPECÇÃO
A bioprospecção pode ser definida como o método ou
forma de localizar, avaliar e explorar sistemática e legalmente a diversidade
de vida existente em determinado local, e tem como objetivo principal a busca
de recursos genéticos e bioquímicos para fins comerciais.
O século XXI parece definir-se como o século da
Biologia, desde o final dos anos 1990 que a biotecnologia vem despertando o
interesse dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo a agronomia o
ramo de atividade onde a biotecnologia tem maior expressividade, uma vez que
aumenta o interesse pela agregação de valor na forma de novos alimentos,
fibras, aromas, novos materiais biológicos, além de sistemas produtivos que
garantam sustentabilidade e segurança ambiental. A perspectiva que a
biotecnologia disponibiliza permite vislumbrar oportunidades de inovação nas
áreas de saúde, maio ambiente, ciências da vida. Este conhecimento estimula
novas ciências tais como a genômica, a bioinformática, engenharia metabólica, agenciando
melhoria social e produção de riqueza. Na medida em que aumenta o interesse por
agregar valor à agricultura, ou seja, melhoramento genético, a biodiversidade
será o grande alvo, buscando-se diversificação de espécies, sistemas e
processos (Lopes et al, 2005). Mas, biotecnologia é a somatória de esforços em
disciplinas tais como ciências biológicas, química e engenharia (Fig. 1 )
Fonte: UFSC 2009
Figura 1. Esquema da interação entre Biologia,
Química e engenharia para formar a biotecnologia.
O desenvolvimento da biotecnologia pressupõe ainda a
união de três elementos: área governamental, setor acadêmico e setor produtivo.
A prospecção inicia-se com uma demanda do setor produtivo que, necessita
atendimento através de pesquisa. Esta é principalmente desenvolvida nas
universidades e instituições de pesquisa. O apoio governamental é
imprescindível, uma vez que o setor produtivo requer apoio no que tange à
legislação, incentivos e abertura de mercados. A academia, por seu turno,
demanda treinamento, infra-estrutura e manutenção, especialmente do governo,
mas o setor produtivo pode e deve apoiar a pesquisa fornecendo insumos e até
mesmo infra-estrutura. A sinergia requerida dos atores é o propelente da
biotecnologia e bioprospecção. Um forte exemplo desta sinergia são os parques
tecnológicos onde os três setores citados encontram-se formando o fluxo da
figura abaixo.
A Biotecnologia poderá ser, no caso amazônico, uma via de desenvolvimento
importante e que valorizará a floresta em pé, favorecendo a atividade fabril de
acordo com os protocolos ecológicos corretos.
SERVIÇOS AMBIENTAIS
Serviços
ambientais são definidos pela capacidade da natureza de fornecer qualidade de
vida e comodidades para a manutenção da vida e de seus processos. Exemplos de
serviços ambientais são a produção de oxigênio, a purificação do ar pelas
plantas, a estabilidade das condições climáticas com a moderação da
temperatura, as chuvas, a força dos ventos e das marés, o equilíbrio do ciclo
hidrológico, o controle das enchentes e das secas, etc.
A manutenção
da biodiversidade constitui um serviço ambiental de abrangência mundial, uma
vez que alguns benefícios são indispensáveis para a própria sobrevivência
humana, tais como o estoque do material genético que alimenta o sistema
agrícola, por exemplo. Por outro lado, a manutenção dos fluxos de energia em
florestas como a amazônica, depende da preservação da biodiversidade. O
desaparecimento de uma espécie causa solução
de continuidade na termodinâmica do ecossistema ao qual ela pertence. Tal perda
sempre diminuirá a eficiência de ecossistemas e, por conseqüência, dificuldades
nos serviços ambientais.
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