terça-feira, 1 de outubro de 2024

O Caminho para a Vida Verdadeira

 

Jesus afirmou que veio para que todos tivessem vida e em abundância (João 10:10), referindo-se a uma vida espiritual e plena. Essa vida abundante implica em uma existência cheia de propósito, paz e uma relação íntima com Deus, mais do que apenas viver por mais anos.

A “vida abundante” mencionada por Jesus implica uma existência cheia de propósito, alegria, paz e uma relação íntima com Deus. Não se trata apenas de viver mais anos, mas de viver uma vida com significado.

Mesmo em meio às dificuldades, a presença de Deus traz uma paz que excede todo entendimento. Viver com um sentido claro e um propósito divino. Construir relacionamentos saudáveis; amar e ser amado, refletindo o amor de Deus nas relações com os outros. Ser liberto do pecado e das amarras que impedem uma vida plena. Portanto, a afirmação de Jesus sobre trazer vida abundante é uma promessa de uma vida transformada e enriquecida pela presença de Deus  e pelo Seu amor, que transcendem a existência física.

Moisés, antes da entrada dos hebreus na terra prometida, aborda a vida plena em Deuteronômio 30:19-20, enfatizando que escolher a vida significa amar a Deus e obedecer Suas leis, garantindo assim uma existência plena e longa na terra prometida

O capítulo 30 trata da renovação da aliança e da escolha entre a vida e a morte, a bênção e a maldição. No versículo 19, quando Moisés invocou os céus e a terra como testemunhas, ele usa uma linguagem jurídica, chamando os céus e a terra como testemunhas do compromisso que o povo está prestes a assumir. Em seguida diz que Coloca diante dos hebreus a vida e a morte, a bênção e a maldição, apresentando uma escolha clara e solene. A vida e a bênção estão associadas à obediência a Deus, enquanto a morte e a maldição estão associadas à desobediência.

Moisés aconselha para que escolham a vida, fazendo um apelo urgente para que o povo escolha seguir a Deus, garantindo assim a vida e a prosperidade para eles e suas futuras gerações.

No versículo 20 Moisés apela a que amem o Senhor, o seu Deus. O amor a Deus é central para a vida e a obediência. Este amor deve ser demonstrado através da obediência e fidelidade. Exorta para que ouçam a sua voz e se apeguem firmemente a Ele, pois a obediência e a fidelidade a Deus são essenciais. Ouvir a voz de Deus implica em seguir Seus mandamentos e direções, pois o Senhor é a sua vida. Deus é a fonte de vida e bênção. A verdadeira vida é encontrada em um relacionamento íntimo e obediente com Ele. Se isto for perseguido, então Ele lhes dará muitos anos na terra. A promessa de longevidade e prosperidade na Terra Prometida é condicionada à obediência e fidelidade a Deus. É um chamado à escolha consciente e deliberada de seguir a Deus.

 Moisés enfatiza que a vida verdadeira e a bênção estão enraizadas no amor, obediência e fidelidade a Deus. Escolher a vida significa escolher um relacionamento profundo e comprometido com Deus, que resulta em bênçãos e prosperidade

O que é a verdadeira vida?

A verdadeira vida, segundo a Bíblia, é uma vida em comunhão com Deus, caracterizada pela obediência e conhecimento Dele. João 17:3 e Deuteronômio 30:20 mostram que essa vida envolve conhecer a Deus e manter um relacionamento íntimo e obediente com Ele.

O salmista assegura que a verdadeira vida é encontrada na presença de Deus: “Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita” (Salmos 16:11). Já o profeta Miquéias indica que: “Ele te mostrou, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige de ti: que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus” (Miquéias 6:8). Estas condutas são componentes de uma vida verdadeira. O profeta avaliza que estes valores estão profundamente enraizadas nos princípios da lei: amor a Deus e ao próximo. Assim, vida refere-se a ter relacionamento com Deus e com os semelhantes, logo, quem não tem relacionamentos está morto.

Se Justiça, Misericórdia e Humildade são palavras-chave, então melhor será entender o querem significar.

Justiça (Mishpat, no hebraico) refere-se a agir de maneira justa e correta, conforme os mandamentos de Deus. João Calvino destaca que “fazer justiça” se refere à segunda tábua da Lei, que trata das relações humanas. Isso implica em tratar os outros com equidade e retidão, refletindo o caráter justo de Deus.

Misericórdia (Chesed) ou bondade amorosa é um termo hebraico que implica em amor leal, compaixão e fidelidade. Calvino também observa que “amar misericórdia” está relacionado à segunda tábua da Lei. Isso significa demonstrar amor e compaixão contínuos aos outros, refletindo a misericórdia que Deus mostra a nós.

Humildade (Hatznea Lechet) ou andar humildemente com Deus significa viver uma vida de submissão e reverência a Ele. Segundo o comentário de João Calvino, a humildade diante de Deus é essencial para uma vida verdadeira. Isso envolve reconhecer nossa dependência de Deus e viver de acordo com Sua vontade.

Tudo isto está conexo com a lei e os profetas (Mateus 22:37- 40). Miquéias 6:8 reflete esses princípios ao enfatizar a justiça, a misericórdia e a humildade como componentes essenciais de uma vida que agrada a Deus, ou seja, o que Deus espera de Seu povo: expressões práticas do amor a Deus e ao próximo.

Justiça, misericórdia e humildade são componentes da verdadeira vida porque refletem o caráter de Deus e os princípios fundamentais da Lei. Portanto, se temos coisas em comum  com Deus, aquele que tem vida em si mesmo, teremos consequentemente vida. Então, por que morremos?

A relação entre justiça, misericórdia, humildade e a ressurreição é profunda e central na teologia cristã. Justiça e ressurreição se tocam em Romanos 6:4: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.”  A justiça de Deus é satisfeita através da morte e ressurreição de Jesus. Viver uma vida justa, conforme os mandamentos de Deus, é um reflexo da nova vida que recebemos em Cristo.

Misericórdia e ressurreição estão claramente associadas em Efésios 2:4-6: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo quando ainda estávamos mortos em transgressões – pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”. A misericórdia de Deus é manifestada plenamente na ressurreição de Cristo. A vida eterna é um dom da misericórdia divina, e viver uma vida de misericórdia é um reflexo dessa graça recebida.

De outro lado a humildade e ressurreição se tocam em Filipenses 2:8-9: “E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz”. Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome. A humildade de Cristo, demonstrada em Sua obediência até a morte, é recompensada com a ressurreição e exaltação. Viver humildemente diante de Deus é seguir o exemplo de Cristo é, portanto, participar da promessa da ressurreição.

Viver uma vida pautada por justiça, misericórdia e humildade não é uma garantia automática da ressurreição, mas é um reflexo da transformação que ocorre em alguém que tem fé em Cristo. A promessa da ressurreição é garantida pela fé em Jesus Cristo e pela graça de Deus, como enfatizado em Efésios 2:8-9: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus”.

Justiça, misericórdia e humildade são virtudes que são evidências de uma vida regenerada pela fé em Cristo, que é a base para a promessa da ressurreição. A ressurreição é um dom da graça assegurado pela fé em Cristo, e virtudes como justiça, misericórdia e humildade manifestam essa fé viva.

Em João 5:28-29 lemos: “Não fiquem admirados com isso, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”.  Este versículo indica que aqueles que viveram de acordo com os mandamentos de Deus, evidenciando sua fé através de boas obras, ressuscitarão para a vida eterna. Tal promessa é ratificada em Romanos 6:5: “Se fomos unidos a ele na semelhança de sua morte, certamente o seremos também na semelhança de sua ressurreição”. Aqui claramente a união com Cristo na fé garante a participação na Sua ressurreição.

Viver uma vida que reflete essa fé é um sinal de que essa promessa se aplica a nós. O reflexo da unidade com a divindade é o binômio fé e obras, conforme Tiago 2:17: “Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta”. A fé verdadeira se manifesta em ações. As virtudes de justiça, misericórdia e humildade são evidências de uma fé viva e ativa, ou seja, de vida plena em relacionamentos aqui e agora. Porém, tais virtudes também apontam para o futuro.

Uma pessoa que viveu uma vida de justiça, misericórdia e humildade, demonstrando sua fé em Jesus, tem a promessa da ressurreição para a vida eterna. A Bíblia ensina que a fé em Cristo, evidenciada por uma vida transformada, assegura que essa pessoa não será mantida na sepultura, mas ressuscitará para a vida eterna.

Ter um relacionamento salvífico com Deus, o qual se cristaliza por uma vida regulada na justiça, misericórdia e humildade, é fundamental para a promessa da ressurreição. A base da salvação e da promessa da ressurreição é a fé em Jesus Cristo, nosso modelo. A Bíblia ensina que somos salvos pela graça, por meio da fé (Efésios 2:8-9). Assim, as virtudes acima referidas mostram que a pessoa está vivendo de acordo com os mandamentos de Deus e refletindo o caráter de Cristo. Como consequência, a ressurreição é uma promessa para aqueles que têm fé em Cristo e vivem de acordo com Seus ensinamentos. Como mencionado em João 5:28-29, aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida.

Portanto, possuir essas virtudes é um sinal de que a pessoa tem um relacionamento salvífico com Deus e está no caminho para a promessa da ressurreição.

O novo nascimento, conforme descrito na Bíblia, implica uma transformação profunda e espiritual que resulta em uma vida com um novo propósito, ou seja, transformação Espiritual. Em João 3:3 Jesus respondeu: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo.” O novo nascimento é uma obra do Espírito Santo que transforma a pessoa de dentro para fora, capacitando-a a viver de acordo com os princípios de Deus. Paulo confirma dizendo em 2 Coríntios 5:17: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” O arrependimento envolve abandonar os antigos caminhos e adotar uma nova vida em Cristo, com novos valores e propósitos.

A explicação do que significam novos valores está em Efésios 4:22-24: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”. O novo nascimento resulta em uma mudança de mentalidade e comportamento, alinhando a vida da pessoa com a vontade de Deus. O novo nascimento implica em abandonar os comportamentos e valores mundanos que antes eram significativos. A vida agora é vivida com um propósito divino, buscando a justiça, a misericórdia e a humildade, conforme os ensinamentos de Deus.

O novo nascimento é uma transformação espiritual que resulta em uma vida com novos propósitos e significados, fundamentados no arrependimento e na fé em Jesus Cristo. Essa nova vida é caracterizada por uma busca contínua por justiça, misericórdia e humildade, refletindo o caráter de Deus.

A verdadeira vida, segundo a Bíblia, vai muito além da mera existência física. Jesus nos chama a uma vida abundante, repleta de propósito, paz e comunhão com Deus. Esta vida plena, contudo, não é medida pela quantidade de anos, mas pela qualidade de nosso relacionamento com o Criador e com os outros.

Através de exemplos bíblicos, como as instruções de Moisés e as lições de Jesus, vemos que a verdadeira vida é caracterizada por justiça, misericórdia e humildade. Essas virtudes, enraizadas no amor a Deus e ao próximo, são sinais evidentes de uma vida transformada pela fé. Mais do que meras ações, elas refletem o caráter divino e são expressões práticas do amor que nos une ao Criador.

Por meio da fé em Cristo, recebemos a promessa da ressurreição e a garantia de uma vida eterna. Viver de acordo com esses princípios não só molda nossa existência presente, mas também assegura nossa participação na vida futura. Assim, a verdadeira vida, conforme revelada nas Escrituras, é uma jornada contínua de transformação espiritual, onde somos chamados a refletir o caráter de Deus e a caminhar em novidade de vida.

Portanto, ao escolhermos viver segundo a justiça, a misericórdia e a humildade, estamos escolhendo a vida que Deus nos oferece – uma vida que transcende o tempo e nos conecta com o eterno.

 

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A Missão de Jesus nos centros de pesquisas científicas

 

A ordem de Jesus para seus discípulos: o evangelho deveria ser pregado em todos os lugares, em testemunho a todas as gentes (Marcos 16:15). No entanto, em alguns segmentos sociais é uma tarefa que exige perícia e conhecimento. Um destes segmentos é o da academia, onde os doutores convivem e o conhecimento somente pode enraizar-se se tiver base sólida em evidências que sobrevivam aos rigores dos testes da epistemologia científica.

Neste contexto, evangelizar acadêmicos não é trivial. Um cientista cristão, consciente da missão dada por Jesus, precisa ter conhecimento evangélico complementado por conhecimento científico para evangelizar colegas. Neste sentido, como um cientista discursaria sobre o uso simbólico, utilizado por Jesus, de fatos físicos do mundo natural para explicar verdades e noções sobre realidades espirituais e não fatuais. Assim, numa hipotética conferência (que poderia ser verdadeira) sobre aspectos filosóficos do conhecimento, um cientista botânico fez um discurso explicando que Jesus, em muitos casos, oferecia explicações em linguagem simbólica, mas carregadas de significados científicos, uma forma inteligente de evangelizar pessoas de formações distintas. Abaixo está o discurso:

Senhoras e senhores, estimados cientistas,

Quando Jesus declarou: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (João 15:1), Ele usou uma metáfora que, mesmo nos tempos modernos, possui um significado profundo tanto no âmbito espiritual quanto no natural. Essa imagem nos fala de interdependência, crescimento e frutificação, verdades que ressoam no coração da ciência e da fé.

Como cientistas, vocês estudam os mistérios da vida, as leis naturais que governam o cosmos e a estrutura das coisas vivas. E talvez se perguntem por que Jesus escolheria uma planta como a videira, e não outra planta, para simbolizar algo tão profundo quanto sua relação com a humanidade. Para responder a isso, precisamos primeiro compreender a natureza dessa planta.

A Natureza da Videira: Uma Ilustração da Dependência

Jesus, ao se declarar a “videira verdadeira”, estava nos ensinando que, assim como os ramos não podem sobreviver sem o tronco, nós não podemos prosperar espiritualmente sem Ele. É uma verdade que pode ser aplicada a muitos aspectos da vida, inclusive à ciência. Cada descoberta científica, cada avanço na medicina, biologia, ou física, é um ramo que cresce a partir de um tronco — o tronco da verdade.

No campo da ciência, assim como na fé, existe essa mesma necessidade de interdependência. Vocês sabem que nenhuma descoberta é feita em isolamento. Pesquisas se baseiam em décadas de trabalho acumulado, em colaborações entre cientistas, em dados e observações construídos ao longo do tempo. Da mesma forma, nossa vida espiritual é construída em nossa conexão com Deus. Sem essa ligação, estamos espiritualmente desnutridos, incapazes de crescer ou de produzir os frutos que Ele espera de nós.

A videira é uma planta especial, não só em sua aparência, mas em sua biologia. Ao contrário de outras plantas que vocês estudam, muitas das quais possuem ramos robustos, capazes de se regenerar ou sobreviver por algum tempo após serem cortados, a videira depende completamente de sua conexão com o tronco principal para se sustentar. Os ramos da videira não podem viver por si mesmos. Ao serem separados da videira, eles morrem rapidamente, porque não têm a capacidade de criar raízes, de buscar nutrientes ou de armazenar a energia necessária para a sobrevivência.

Na ciência, isso é uma verdade observável. Vocês sabem que algumas árvores, como o salgueiro ou o eucalipto, possuem ramos que podem se enraizar, regenerar-se e até formar novas plantas quando cortados e plantados no solo. Mas com a videira, a história é diferente. Seus ramos são frágeis, dependentes do tronco para obter seiva e nutrir seus frutos. Sem essa conexão, esses ramos são incapazes de sobreviver. E essa dependência completa da videira por parte dos ramos é exatamente o que Jesus quis nos ensinar sobre nossa relação com Ele.

A Estrutura Celular da Videira: Interdependência e Totipotência

A videira, como muitas plantas, possui características fisiológicas e citológicas únicas, que a tornam um símbolo poderoso para representar a verdade. Nosso objetivo aqui é entender por que a videira, e não outra planta, foi escolhida para simbolizar a verdade, especialmente com base em suas características citológicas e fisiológicas, incluindo o papel das células totipotentes.

A videira é uma planta com características notáveis, principalmente pela sua dependência fisiológica dos ramos em relação ao tronco. Para entendermos essa dependência, precisamos explorar o conceito de células totipotentes, que são aquelas com a capacidade de se diferenciar em qualquer outro tipo de célula. Em muitas plantas, essas células são abundantes nos meristemas (tecidos compostos por células indiferenciadas que têm a capacidade de gerar novos tecidos), permitindo que os ramos cortados regenerem raízes e formem novas plantas de maneira autônoma. No entanto, na videira, essa capacidade de regeneração é limitada.

As células totipotentes da videira estão concentradas em áreas específicas, como os meristemas apicais, mas os ramos da videira não possuem uma quantidade significativa dessas células em sua estrutura periférica. Isso significa que, ao contrário de plantas como o salgueiro, cujos ramos podem gerar novas plantas a partir de suas células totipotentes, os ramos da videira dependem quase exclusivamente do tronco para se sustentar. Sem o tronco, os ramos da videira perdem sua vitalidade rapidamente, pois não têm a capacidade de regenerar novas raízes ou manter suas funções biológicas por conta própria.

Essa limitação da videira em gerar novas plantas a partir de ramos cortados ilustra um princípio essencial sobre a verdade: o conhecimento verdadeiro, assim como os ramos da videira, não pode prosperar em isolamento. Ele precisa estar conectado a uma fonte central de vida, de nutrição, que alimenta e mantém sua autenticidade. Essa analogia é biologicamente precisa e simbolicamente rica, pois o tronco da videira (Cristo) representa a base sólida de onde se origina e se mantém o conhecimento verdadeiro.

O Transporte de Nutrientes e a Dependência Fisiológica

A videira depende de um sistema altamente eficiente de transporte de nutrientes, através do xilema e do floema (vasos onde a seiva corre), que distribuem água, minerais e produtos da fotossíntese para toda a planta. No entanto, a falta de células totipotentes nos ramos da videira faz com que sua capacidade de se manter viva, sem o tronco, seja praticamente nula. Essa dependência fisiológica extrema nos lembra que o verdadeiro conhecimento também precisa de uma base contínua de nutrição intelectual para sobreviver e frutificar.

O papel das células totipotentes nas plantas é crucial para o processo de regeneração. Em plantas com alta concentração dessas células nos ramos, como as árvores frutíferas que podem ser propagadas a partir de estacas, existe uma autossuficiência temporária. Esses ramos conseguem, graças às suas células totipotentes, desenvolver novas raízes e se tornar plantas independentes. Contudo, essa não é a realidade da videira, cujos ramos, sem o tronco, logo se tornam inúteis.

O conhecimento verdadeiro, como os ramos da videira, precisa estar conectado a uma base sólida — uma fonte de nutrição e verdade. Assim como os ramos da videira são dependentes do tronco para receber os nutrientes essenciais para sua sobrevivência, o conhecimento precisa estar enraizado em fatos, em princípios fundamentais e em uma compreensão mais ampla do universo. A verdade não se sustenta em fragmentos isolados, mas sim em uma conexão coesa com uma base maior. Entendam a razão de um livro chamado a Bíblia.

Além disso, a videira é uma planta que exige poda regular para manter sua produtividade. A poda remove os ramos improdutivos, permitindo que a planta canalize seus recursos para os ramos que são capazes de frutificar. Este processo fisiológico de remover o desnecessário para promover o crescimento do essencial é análogo ao progresso no conhecimento científico. Na ciência, teorias e hipóteses obsoletas ou incorretas são podadas, para que novos insights e verdades possam emergir. O conhecimento verdadeiro exige uma poda constante, um refinamento contínuo, para que o progresso real seja alcançado.

Comparação com Outras Plantas: Autossuficiência versus Interdependência

Agora, vamos considerar porque a videira, em particular, foi escolhida para simbolizar a verdade, em contraste com outras plantas. Muitas árvores e plantas possuem ramos que podem sobreviver e até se regenerar sozinhos após serem cortados do tronco principal. Tem uma alta capacidade de regeneração devido à presença de células totipotentes em seus ramos, permitindo que novas raízes sejam formadas a partir de uma simples estaca. Essa autossuficiência, observada em muitas espécies vegetais, não se aplica à videira.

A videira demonstra uma dependência muito maior de sua estrutura central. Sem as células totipotentes necessárias para permitir a propagação independente, os ramos da videira não têm como gerar novas raízes. A videira é, portanto, o exemplo perfeito de interdependência, onde a sobrevivência dos ramos depende completamente do tronco. Essa realidade biológica reflete um princípio filosófico profundo: o conhecimento verdadeiro não pode prosperar sozinho, sem uma conexão com sua fonte original.

O simbolismo da videira enfatiza que, embora algumas ideias e teorias possam parecer autossuficientes por um tempo, assim como algumas plantas conseguem sobreviver por meio de propagação vegetativa, a verdadeira frutificação e o verdadeiro crescimento dependem de uma conexão contínua com uma base sólida e central. O conhecimento desconectado de sua fonte, ou cortado de suas raízes, pode até prosperar por um tempo, mas logo perde sua vitalidade.

A Frutificação: O Resultado da Conexão com a Verdade

Finalmente, um dos aspectos mais simbólicos da videira é sua capacidade de frutificação, que é completamente dependente da manutenção de sua estrutura fisiológica integrada. A frutificação é o resultado de um sistema que trabalha em perfeita harmonia — raízes, tronco, ramos, folhas e frutos, todos interconectados e funcionando em uníssono. Sem essa interdependência, os frutos não se desenvolvem.

A frutificação da videira é um ponto crucial para compreendermos sua simbologia teológica. O floema transporta os produtos da fotossíntese para os ramos, permitindo a produção de frutos. No entanto, esses frutos só podem se desenvolver quando há uma conexão contínua entre os ramos e o tronco. A ausência de uma quantidade significativa de células totipotentes nos ramos da videira significa que, sem essa conexão, os frutos não podem se desenvolver.

Isso pode ser comparado ao processo científico, no qual o verdadeiro conhecimento surge quando há uma base sólida, uma conexão contínua com os dados e a verdade. A frutificação no conhecimento é o equivalente ao progresso científico e filosófico — um resultado de um sistema em equilíbrio, onde a verdade é nutrida e cuidada. Se a conexão com a fonte de conhecimento for interrompida, o progresso é interrompido, e o crescimento se torna impossível.

As células totipotentes, embora fundamentais para a regeneração em outras plantas, não são suficientes para explicar o processo de frutificação na videira. Na videira, o desenvolvimento de frutos está profundamente ligado à manutenção de sua estrutura fisiológica integrada. A poda regular, que remove os ramos improdutivos, garante que os recursos sejam alocados de maneira eficiente para os ramos produtivos, o que nos lembra que o conhecimento verdadeiro também precisa de poda contínua. Teorias obsoletas ou ideias erradas devem ser removidas para que a verdade possa crescer de forma saudável.

A videira, portanto, simboliza a verdade de maneira única por causa de sua dependência absoluta da conexão com sua fonte e da ausência de células totipotentes suficientes para uma regeneração autônoma significativa. Isso contrasta com muitas outras plantas que possuem a capacidade de regenerar-se de forma independente. O conhecimento verdadeiro, como os ramos da videira, não pode florescer em isolamento. Ele depende de uma base central, um tronco de sabedoria e verdade que o sustenta e alimenta.

A totipotência nas plantas nos ensina sobre a capacidade de regeneração, mas no caso da videira, essa capacidade é limitada, destacando a necessidade de uma conexão contínua com o tronco principal para a sobrevivência e frutificação. O progresso do verdadeiro conhecimento exige o mesmo tipo de dependência. Portanto, ao compreendermos a biologia da videira, também aprendemos uma lição valiosa sobre a natureza da verdade e como ela deve ser nutrida e mantida para produzir frutos que beneficiem a ciência e a sociedade como um todo.

Que nosso trabalho científico continue sempre enraizado nessa busca pela verdade, assim como os ramos da videira se mantêm conectados ao tronco, produzindo frutos saudáveis e significativos para o mundo.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Diálogo Fictício entre o Rei Salomão e um Jovem Pesquisador

 

Um Jovem pesquisador entra em uma máquina do tempo e empreende uma viagem ao passado, indo até o reino de Israel, na época em que Salomão era o venerável Rei, admirado por seus súditos, em virtude da sua excelente sabedoria. Conforme sabemos, máquinas do tempo colocam pessoas em cenários, portanto, o jovem aparece em um jardim lindo e tranquilo no palácio de Salomão, lugar onde Sua Majestade repetidamente abstrai-se para meditar e observar a natureza. Um pouco embaraçado por sua inexperiência diante de reis, o jovem pesquisador pede muitas escusas por não ter sido anunciado e sequer convidado. Pede clemência à Sua Majestade apresentando-se como um cientista do século XXI. Um pouco surpreso, o rei pede que o jovem explique como viagens no tempo podem acontecer. Depois de algumas explicações, o jovem expressa sua subida honra de estar na presença daquele de quem tinha tantas vezes lido e aprendido de sua sabedoria e excelência, se mostrando nervoso, mas, ansioso por estabelecer um diálogo para aproveitar o momento. Num gesto simpático, próprio de um rei, Salomão convida o jovem para sentar-se, oferecendo-lhe uma porção de chá, um costume real que identificava boa vontade. Era à tarde e a temperatura primaveril tranquilizou o jovem.

O jovem pesquisador, com grande reverência, começa um diálogo dizendo: conheço Vossa Majestade através da Bíblia, sou leitor dos textos de vossa autoria, portanto, sei de vossa excelente sabedoria. Minha intensão é ouvir vossos conselho sobre como posso educar-me para auferir conhecimento mais rico e influenciar minha época, quando voltar de minha viagem no tempo. Sei que Vossa Majestade sabe sobre todos os assuntos. Seus textos falam do mundo natural e do que é possível transcender a partir dele.  Como posso seguir um caminho que me permita descobrir verdades científicas sendo ético e moral?

O grande e majestoso Rei Salomão, não se furta em ser solícito dando oportunidade ao jovem. Inicia seu discurso informando que a busca pelo conhecimento é um caminho nobre e árduo, mas deve ser trilhado com prudência e humildade, não se deixando envolver por tradições humanas que são fantasias das mentes que não estão ancoradas no saber divino. Quando era jovem, disse o Rei, pedi a Deus sabedoria para governar meu povo. Não pedi riquezas, nem a vida dos meus inimigos, mas discernimento para entender o bem e o mal. Essa busca pelo entendimento me levou a observar a criação, a própria obra de Deus de maneira respeitosa e mais profunda. Cada planta, cada animal, cada fenômeno natural, me ensinaram algo sobre o Criador e sobre a essência da vida.

O jovem, como que confuso, pede ao rei que, por mercê, aprofunde o que acaba de explicar. Então, o rei se ajeita em sua confortável cadeira, toma um gole de chá, olha para o jardim e começa a descer em detalhes especiais.

Quando afirmo que "cada planta, cada animal, cada fenômeno natural, me ensinaram algo sobre o Criador e sobre a essência da vida, expresso uma visão intensa da natureza que é, na verde, um livro aberto e escrito pelo próprio Deus. Ali estão grafados evidências reveladoras sobre o caráter divino e os princípios inseridos no mundo natural e que conduzem a realidade aclarando sobre a existência e função de cada elemento.

Vamos a exemplos, porque olhando o mundo físico, poderemos compreender lições importantes. Por exemplo, as plantes nos dão lições de resiliência e sustentabilidade.

Salomão, conhecido por sua vasta sabedoria e conhecimento botânico, adverte que cada planta, desde a mais frágil até a árvore mais robusta e frondosa, oferece lições importantes.

Algumas plantas crescem em condições adversas, florescendo em desertos ou suportando ventos fortes em montanhas. Essa capacidade de adaptação e resistência reflete uma força interior que podemos associar à resiliência espiritual e emocional, sugerindo que o Criador valoriza a capacidade de se adaptar e prosperar mesmo em tempos e condições difíceis. As plantas também mostram a importância da sustentabilidade e da interdependência. Elas dependem da luz do sol, da água, dos nutrientes do solo e de interações com outros seres vivos, como polinizadores, para sobreviver. Isso revela um princípio divino de interconexão e harmonia no universo — nada existe isoladamente. Cada ser faz parte de um sistema maior dependente do equilíbrio e da cooperação.

No entanto, o Rei Salomão recomenda ao jovem cientista que nos animais também temos lições de instinto, ordem e diversidade, virtudes que Deus deu a cada ente. Cada animal possui um conjunto único de instintos que o guia na sobrevivência. A formiga, como Salomão menciona em Provérbios, é um exemplo de diligência e trabalho comunitário sem a necessidade de supervisão. Isso pode ser visto como um reflexo da ordem divina, onde cada criatura tem um papel específico, além de uma sabedoria instintiva para desempenhá-lo.

A vasta diversidade animal demonstra que o Criador valoriza a multiplicidade de formas de vida, cada uma com seu significado e propósito. De criaturas pequenas e aparentemente anódinas, a predadores poderosos, todos têm uma função no equilíbrio da biosfera e sua relação com a litosfera. Essa diversidade aponta para a infinidade de formas pelas quais Deus pode expressar Sua criatividade, cooperatividade e sabedoria.

A esta altura, o Rei muda o olhar do mundo vivo e chama atenção para os fenômenos naturais atmosféricos, como tempestades, para fenômenos geológicos como terremotos. Também fala sobre o ciclo das estações, o movimento das estrelas, entre outros, que oferecem insights sobre o caráter de Deus e as leis que Ele estabeleceu. Fenômenos como tempestades ou vulcões mostram o imenso poder de Deus sobre a criação. Eles são lembretes de que, apesar da beleza e harmonia da natureza, há uma força imensurável e incontestável que governa o cosmos. Salomão teria visto esses fenômenos como representações do poder soberano de Deus.

De outro lado, o Rei Salomão passa a demonstrar como o ciclo das estações e o movimento dos corpos celestes confirmam uma beleza matemática e uma precisão que apontam para um Criador meticuloso que calculou a dinâmica universal para que seja vertiginosamente precisa. A beleza intrínseca do universo, desde o micro ao macro, revela o apreço de Deus pela harmonia, pela ordem e pela beleza.  A regularidade dos fenômenos naturais, como o nascer do sol e as fases da lua, exemplificam a constância e a fidelidade de Deus. Assim como essas coisas ocorrem em seus tempos designados, Deus é fiel em Suas promessas e ordenanças.

É muito instigante sentir a sabedoria do Rei Salomão quando utiliza a observação da natureza para oferecer um vislumbre do caráter divino. Salomão chama atenção para a criatividade, poder, sabedoria e o amor de Deus pela diversidade e pela harmonia. Para Sua Majestade, a natureza não era apenas uma realidade física, mas um livro aberto que apontava para verdades transcendentes, obrigando ao observador um crescimento espiritual, ou seja, mental, que permite ver para além dos objetos: a operação dos sistemas e seus significados e suas leis. O Rei aprendeu que o Criador projetou o universo de uma maneira que reflete Sua natureza e intenções. A essência da vida, para Salomão, está enraizada na interconexão entre todas as coisas. Assim como as plantas, os animais e os fenômenos naturais são interdependentes e fazem parte de um todo maior, assim também é a vida humana — interconectada e dependente de Deus. Para entender a essência da vida, é necessário entender essa interdependência e reconhecer que a vida é sustentada por princípios de amor, serviço e cooperação.

O jovem pesquisador, passa a entender que esta visão salomônica, que aprende com a natureza, implica uma abordagem integrativa na ciência. Não se trata apenas de quantificar e qualificar, mas de perceber o "porquê" e o "para quê". A verdadeira pesquisa científica deve buscar entender não apenas os mecanismos da natureza, mas também o que esses mecanismos nos dizem sobre a ordem, a moralidade, a ética e o propósito subjacentes ao universo. Portanto, ao adotar uma postura de humildade, reverência e busca por significados mais profundos, o jovem pesquisador pode não apenas avançar no conhecimento científico, mas também contribuir para uma compreensão mais ampla e espiritual da vida, refletindo a sabedoria que Salomão encontrou em sua própria busca pelo conhecimento.

A despeito da sabedoria estonteante e envolvente do Rei Salomão, o jovem pesquisador se atreve a mencionar que a observação da natureza permite entender como toda a ordem natural se relaciona com o conhecimento ético e moral.

Sua Majestade indica que a observação da natureza nos ensina paciência e respeito pelos processos. Conduz o jovem de volta ao exemplo da formiga. Mesmo sem chefe, sem governador ou comandante, ela trabalha arduamente durante o verão, armazenando sua provisão para o inverno. Essa diligência e previsibilidade nos ensinam sobre a importância do trabalho diligente e do planejamento. Mais importante, porém, é a lição ética: a formiga não é motivada por ganância ou egoísmo, mas por um senso de dever natural. Assim, a observação do mundo físico pode nos levar a profundas verdades morais. A formiga é um exemplo de diligência, trabalho árduo e prudência. Ela ensina a virtude do trabalho constante e da preparação para o futuro, sem a necessidade de supervisão. Essa observação simples fornece uma lição moral sobre a importância do trabalho e da responsabilidade individual.

O Rei Salomão insiste que "a observação do mundo físico pode nos levar a profundas verdades morais", ele destacou a ideia de que o estudo atento da natureza e dos fenômenos ao nosso redor pode revelar princípios éticos e morais fundamentais. Em seguida, passa a explorar como isso ocorre.

Em outro exemplo, o Rei mostra o comportamento do leão, frequentemente citado como um símbolo de coragem e força. O leão ensina a importância da bravura e da liderança. A imagem desse animal pode inspirar uma pessoa a enfrentar seus desafios com coragem e confiança, refletindo a força de caráter necessária para liderar ou proteger.

O Rei Salomão demonstra sua crença de que as leis naturais, que governam o mundo físico, são um reflexo das leis morais estabelecidas por Deus. A lei natural de causa e efeito nos mostra que toda ação tem uma consequência. Este princípio é facilmente extrapolável para a moralidade: ações éticas e boas produzem frutos positivos, enquanto ações más ou antiéticas levam a resultados negativos. Assim, observar como certas ações na natureza geram resultados previsíveis ajuda a reforçar o conceito de responsabilidade moral.

O equilíbrio observado na natureza também reflete a ideia de justiça. O Rei aponta para o ciclo de vida, por exemplo, onde a morte de uma planta ou animal fornece nutrientes para outros, demonstrando que o equilíbrio que pode ser visto é como uma forma de justiça natural. Da mesma forma, a justiça moral envolve manter um equilíbrio entre direitos e deveres, recompensas e punições. A interdependência observada na natureza também ensina sobre a responsabilidade mútua e o cuidado comunitário.

No mundo natural, muitas espécies vivem em simbiose, uma relação mútua em que ambos os organismos se beneficiam. Esta observação pode ser traduzida em uma verdade moral sobre a importância da cooperação e da interdependência. Como seres humanos, somos interdependentes uns dos outros e também da criação, o que nos instrui sobre a importância do cuidado e da responsabilidade mútua.

Persistência e Esperança entram agora no foco da conversa. Sua Majestade aponta para os ciclos naturais que nos contam sobre a persistência. O ciclo contínuo das estações — inverno seguido de primavera, um tempo de dormência seguido de renovação — pode simbolizar a ideia de que após momentos de dificuldade (inverno), tempos de crescimento e renascimento (primavera) surgem. Essa observação natural pode transmitir uma lição moral de esperança e paciência, sugerindo que, mesmo em tempos difíceis, há potencial para renovação e crescimento.

Olhando para o belo jardim, Salomão discerne que o vasto e complexo mundo físico, deve levar uma pessoa a desenvolver maior humildade. Quando se contempla a imensidão do universo — desde as estrelas no céu até a vastidão dos oceanos — o ser humano é lembrado de sua própria finitude e das limitações do entendimento humano. Essa observação pode inspirar humildade, uma virtude moral importante que contrasta com o orgulho e a arrogância.

Para o jovem pesquisador, essas verdades morais reveladas pela observação do mundo físico servem como uma base ética para a prática científica. O pesquisador deve ser diligente e meticuloso em seu trabalho, reconhecendo que a ciência exige paciência e persistência. Assim como os seres na natureza dependem uns dos outros, os pesquisadores devem trabalhar em colaboração, compartilhando conhecimentos e recursos para o avanço do bem comum.

 Em resumo, Salomão sugere que a observação do mundo físico não é apenas um caminho para o conhecimento científico, mas também para a sabedoria moral, revelando verdades profundas sobre como viver de maneira justa, responsável e harmoniosa com o mundo ao nosso redor.

Iluminado pela beleza salomônica, o jovem pesquisador passa ver o valor transcendente dos objetos no mundo físico. Logo, o jovem pergunta como as coisas materiais podem nos ajudar a alcançar a verdade científica?

O Rei Salomão redireciona sua lógica e aclara que os objetos do mundo físico são, na verdade, reflexos das verdades maiores que estão além de nós. Quando observamos uma estrela no céu, por exemplo, não vemos apenas uma massa de gases. Vemos uma prova do imenso universo que Deus criou, um universo que segue leis precisas e que revela a majestade e a ordem de Seu plano. Cada objeto, por menor que seja, contém em si um pedaço da verdade divina. Como pesquisadores, devemos aprender a "ler" essas verdades nos objetos do mundo físico, usando nossos sentidos e nossa razão, mas sempre com humildade, sabendo que nosso entendimento é limitado. A concepção aqui é que o mundo físico é uma espécie de livro escrito por Deus, onde cada elemento, cada objeto, carrega consigo lições, princípios e verdades que apontam para algo além de sua mera existência material.

A ideia de que o mundo físico reflete verdades divinas está enraizada em muitas tradições filosóficas e religiosas, incluindo o pensamento de Salomão. O conceito é que Deus, ao criar o mundo, deixou vestígios de Sua sabedoria, poder, amor e justiça em cada elemento da criação. Assim, ao estudar e observar o mundo natural, podemos aprender mais sobre a natureza de Deus e os princípios que Ele estabeleceu para a vida.

Uma semente, por menor que seja, contém o potencial de se tornar uma planta grande e frondosa. A semente simboliza potencial e renascimento. Em sua forma mais simples, uma semente contém dentro dela todo o potencial de crescimento, transformação e vida. Ela precisa ser plantada, nutrida e cuidada para florescer, refletindo a verdade divina sobre o potencial humano e espiritual. Assim como a semente precisa do ambiente certo para crescer, os seres humanos precisam de um ambiente de amor, aprendizado e crescimento espiritual para atingir seu pleno potencial.  Ao ouvir as sábias palavras do Rei o jovem pesquisador entendeu que ao estudar sementes e plantas aprende-se sobre a importância de condições adequadas para o crescimento e desenvolvimento, tanto no sentido físico quanto espiritual. Também é uma lição sobre paciência e persistência, pois o crescimento leva tempo.

Ainda sobre a verdade transcendente, Salomão utiliza o mundo animal para aguçar a percepção do seu interlocutor. As abelhas vivem em uma estrutura social altamente organizada, onde cada abelha tem um papel específico, seja na coleta de néctar, na proteção da colmeia ou no cuidado das larvas. Essa organização reflete a verdade divina sobre a importância da comunidade, da cooperação e da interdependência.

O favo de mel, por sua vez, é uma obra de engenharia natural que mostra a eficiência e a beleza da criação de Deus. Observar abelhas desvenda ensinos sobre a importância do trabalho colaborativo e organizado. Em um laboratório ou em um grupo de pesquisa, cada membro tem um papel essencial que contribui para o sucesso coletivo. A cooperação e o trabalho em equipe são fundamentais para alcançar objetivos maiores.

As abelhas, borboletas e outros polinizadores visitam flores em busca de néctar. Enquanto coletam o néctar, eles “acidentalmente” transferem pólen de uma flor para outra, ajudando na reprodução das plantas. Este é um exemplo clássico de mutualismo, onde ambos os lados se beneficiam: as plantas se reproduzem, e os polinizadores obtêm alimento. Este processo é um serviço mútuo — cada ser cumpre uma função que beneficia o outro, e, em última análise, conservam a biosfera. O serviço aqui é feito sem expectativa de retorno pessoal ou glória, apenas como parte de um ciclo natural que sustenta a vida.

Fungos, bactérias e certos insetos atuam como decompositores, quebrando matéria orgânica morta e devolvendo nutrientes ao solo. Sem esses organismos, a matéria morta se acumularia e o ciclo de nutrientes seria interrompido. O trabalho dos decompositores é vital para a saúde do ecossistema, apesar de não serem vistos como criaturas gloriosas. Eles prestam um serviço essencial, reciclando nutrientes e permitindo que novas formas de vida floresçam. Este exemplo mostra que o serviço é muitas vezes invisível e ingrato, mas crucial para o equilíbrio e a continuidade da vida.

Salomão exibe sua capacidade cognitiva conduzindo o olhar do jovem à dinâmica da litosfera. Um riacho em constante movimento simboliza a renovação constante e a adaptação. A água corrente, ao mesmo tempo que se adapta ao terreno por onde passa, purifica-se em movimento, trazendo vida a tudo o que toca. Este é um reflexo do princípio divino de que a vida é dinâmica, sempre em movimento e transformação. O riacho ensina a importância de se manter flexível e adaptável, aprendendo a se moldar às circunstâncias sem perder o propósito ou o destino final. Com esse ensinamento, o jovem entende que na pesquisa, é crucial manter uma mente aberta, pronta para novas ideias e métodos, adaptando-se aos desafios e mudanças que surgem.

Sem tirar o foco da litosfera, Salomão aponta para a montanha que, com sua majestade e imobilidade, representa a estabilidade e a permanência das verdades divinas. Por mais que o tempo passe e os elementos a desgastem, a montanha permanece um símbolo de força e resistência.  A lição exata é que falhas e sucessos vêm e vão, porém, manter-se firme em princípios éticos e na busca pela verdade é fundamental. Assim como uma montanha resiste ao teste do tempo, um bom pesquisador deve resistir às pressões de compromissos éticos ou de integridade.

Em vez de apenas observar a aparência externa dos objetos, é necessário contemplar seu propósito, funcionamento e o que eles revelam sobre a ordem maior do universo. Qual é o propósito deste objeto? O que ele nos ensina sobre a vida, sobre o universo e sobre o Criador?

Integrar essas lições em sua própria vida e prática, buscando sempre atuar com integridade, respeito e reverência pela verdade, é a mais abrangente lição. Cada objeto no mundo físico, por menor que seja, é um pedaço do grande mosaico da criação divina, contendo dentro de si lições e verdades que vão além de sua existência material. Ao aprender a "ler" esses objetos, não apenas ganhamos conhecimento científico, mas também desenvolvemos uma compreensão mais profunda das verdades éticas, morais e espirituais que governam a vida. Isso significa adotar uma abordagem holística e integrativa na busca pelo conhecimento, reconhecendo que a ciência e a espiritualidade não são contraditórias, mas complementares na busca pela verdade.

O jovem pesquisador não conseguiu manter conversa mais longa com o Sua Majestade, por força das pressões das responsabilidades reais. Muitos outros ensinamentos ainda ficaram sem revelação, fato que deu ao jovem a visão de que deveria aproveitar a benção da vida para conhecer mais claramente a majestosa sabedoria de Deus.

Depois da excelente conversa, mesmo que desejoso de ficar mais um pouco, considerando que poderia ainda ter outro privilégio semelhante na presença de Sua Majestade, o Rei Salomão, o jovem foi alertado pelos sensores da máquina do tempo que era hora de regressar. Entrou na máquina e acionou o algoritmo de regresso. No entanto, iria regressar muitíssimo diferente de quando chegara.

 

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

A Materialidade como Caminho para a Transcendência

 

Na tradição judaico-cristã, os rituais , são exemplos claros de como elementos materiais são usados para promover uma formação espiritual profunda, para promover a razão. Rituais como a ceia e o Batismo, utilizam elementos materiais (pão, vinho, água) para transmitir informações da graça divina ocultos nos mesmos. A água do Batismo, por exemplo, não é apenas um símbolo de purificação, mas também atua como um meio concreto de ingresso na comunidade de fé e na vida cristã. Esse ato físico de imersão em água está intrinsecamente ligado a uma transformação espiritual e moral, que contribui para a construção da identidade religiosa do indivíduo. A ceia, por sua vez, utiliza o pão e o vinho como objetos físicos que são consumidos pelos fiéis. Este ato ritual repetido ao longo da vida é central para a formação espiritual, nutrindo não apenas a fé, confirmando a aliança com Cristo, mas também o entendimento teológico sobre a presença real de Cristo para se alcançar caracteres mais nobres, um comportamento consentâneo com as exigências da Torá. Além disso, os ritos ensinam sobre a comunhão dos santos, e a importância do sacrifício ao envolver os sentidos físicos (visão, paladar, olfato). Tudo isto facilita uma compreensão mais profunda dos mistérios divinos e da ciência celeste. 

Como afirma Santo Tomás de Aquino, “um sacramento é um sinal visível de uma realidade invisível” (Summa Theologiae, III, q. 60, a. 1). Isso reflete a crença de que a matéria pode tornar-se um meio pelo qual Deus comunica Sua presença e graça aos seres humanos.

Além dos rituais, os ícones são vistos não apenas como representações artísticas, mas como janelas que acessam realidades celestes. O teólogo ortodoxo Pavel Florensky destaca que o ícone não é apenas uma imagem, mas uma presença; ele nos conecta com a realidade celestial através de sua materialidade; a cruz é o grande icone do cristianismo (Florensky, *Theology of the Icon*, 1996).

Filosofia e a Transcendência Através do Mundo Sensível

No âmbito do conhecimento humanista, Platão, na sua teoria das Formas, sugere que as coisas materiais são sombras de realidades superiores e perfeitas. No diálogo “Fedro”, ele descreve a alma humana como um prisioneiro no mundo físico, que deve usar o intelecto para transcender o sensível e alcançar o mundo das Formas, onde reside a verdadeira sabedoria e conhecimento (Platão, *Fedro*, 248b-c). Platão sugere que a realidade física deve ser o trampolim para a complexidade dos conceitos.

No contexto bíblico, podemos ver um eco dessa ideia na carta de Paulo aos Romanos, onde ele afirma: “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas” (Romanos 1:20). Aqui, Paulo sugere que o mundo material revela aspectos do divino, sendo, portanto, um meio para transcender ao invisível e espiritual.

Immanuel Kant também explora a relação entre o material e o transcendente. Para Kant, os fenômenos que percebemos (o mundo sensível) são manifestações de algo que não podemos conhecer diretamente, o “noumeno” ou a “coisa-em-si”. Através da razão e da moralidade, os seres humanos podem vislumbrar a ordem moral transcendente, que existe para além do mundo material (Kant, *Crítica da Razão Pura*, 1781). Essa ideia ressoa com o ensinamento bíblico de que a fé é “a certeza das coisas que se esperam, a convicção dos fatos que se não veem” (Hebreus 11:1), indicando uma confiança em uma realidade transcendente que supera o que é visível.

Na Bíblia, vemos exemplos de como o contato com o material pode levar a experiências espirituais profundas, como na cura da mulher com fluxo de sangue que tocou as vestes de Jesus e foi curada (Marcos 5:27-29), ou na experiência de Jacó ao sonhar com a escada que ligava o céu à terra (Gênesis 28:12-17).

Como vemos, a razão humana se apodera da realidade transcendente intermediada pelos fenômenos físicos; as coisas, os objetos, tornam possível o pensamento abstrato, a compreensão conceitual, a realidade moral. A rotação física dos corpos, um ato material, permite à mente construir a dinâmica celeste, uma abstração somente possível mediada pelos movimentos dos astros.

O Cotidiano e a Busca pelo Transcendente

Mesmo no cotidiano, o uso das coisas materiais para alcançar valores espirituais pode ser observado. A prática da caridade, por exemplo, transforma recursos materiais em atos de amor e compaixão, que carregam um valor espiritual profundo. Como enfatizado por São Francisco de Assis, o desapego dos bens materiais em favor dos pobres é um caminho para viver de acordo com os valores do Reino de Deus (Celano, *Vita Prima*, 1228). Isso ecoa as palavras de Jesus em Mateus 25:40: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”, onde o ato material de dar se transforma em um ato espiritual de amor para com Cristo.

A utilização das coisas materiais para a obtenção de valores espirituais e cognitivos é uma prática que se entrelaça com a história da humanidade em suas diversas tradições religiosas e filosóficas. Seja através dos ritos cristãos e dos ícones, dos atos de caridade no cotidiano, a materialidade é frequentemente vista como um meio indispensável para a realização do transcendente.

Essa ideia é apoiada pelas Escrituras, especialmente na ceia, onde Jesus afirma: “Tomai, comei; isto é o meu corpo” (Mateus 26:26) e “Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:20). Essas palavras mostram como Cristo utiliza elementos materiais para estabelecer uma realidade espiritual mais profunda.

O uso de objetos materiais para lembrar e honrar a presença divina, também é visto no Antigo Testamento, onde a Arca da Aliança simbolizava a presença de Deus entre o povo (Êxodo 25:10-22). O uso das coisas materiais pode ser um caminho para a obtenção de valores espirituais e cognitivos.

Certamente, o uso de objetos físicos para a aquisição de conhecimentos complexos e o desenvolvimento cognitivo é uma prática comum em diversas áreas, desde a educação até a espiritualidade. A seguir, apresento alguns exemplos concretos dessa prática no processo de formação de uma pessoa.

Manipulativos Matemáticos na Educação Infantil

No campo da educação, especialmente na matemática, o uso de manipulativos físicos é fundamental para o desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas em crianças. Objetos como blocos, ábacos e cubos são usados para ensinar conceitos abstratos, como números, adição, subtração e até mesmo frações.

Por exemplo, ao utilizar blocos de construção para representar números, as crianças podem compreender a ideia de quantidade e como diferentes números podem ser combinados ou separados. Esse aprendizado concreto serve de base para o desenvolvimento posterior de habilidades matemáticas abstratas mais complexas. Estudos têm mostrado que crianças que aprendem usando manipulativos desenvolvem um entendimento mais profundo dos conceitos matemáticos e são capazes de aplicar esses conceitos de maneira mais eficaz em situações de resolução de problemas (Clements, D. H., & Sarama, J., *Learning and Teaching Early Math*, 2009).

Laboratórios Científicos e Experimentos

Na educação científica, os laboratórios e os experimentos são formas clássicas de utilizar objetos físicos para desenvolver o conhecimento complexo. Por exemplo, ao conduzir experimentos de química, os estudantes manipulam reagentes, observam reações, e analisam os resultados. Esse processo não só reforça o entendimento dos conceitos teóricos, mas também desenvolve habilidades cognitivas como o pensamento crítico, a análise de dados e a capacidade de formular hipóteses.

Um exemplo específico é o uso de modelos anatômicos em aulas de biologia. Estudantes de medicina ou biologia utilizam modelos físicos do corpo humano para entender a estrutura dos órgãos e sistemas. A manipulação desses modelos permite uma compreensão tridimensional que seria difícil de adquirir apenas por meio de textos ou imagens bidimensionais. Este aprendizado concreto é essencial para o desenvolvimento das habilidades necessárias na prática médica, como a cirurgia, onde o conhecimento anatômico detalhado é fundamental.

Um cientista, observando a realidade física, pode transferir essa realidade para sua mente, trabalhar espiritualmente e interferir na realidade física, transformando-a. Um exemplo disso é a nanotecnologia terapêutica uma área da ciência que utiliza partículas extremamente pequenas, na escala nanométrica, para desenvolver novas formas de tratamento médico. Essas nanopartículas podem ser usadas para transportar medicamentos diretamente para áreas específicas do corpo, permitindo uma liberação mais precisa e eficaz dos fármacos. Por meio da criação de nano robôs é possível desenvolver remédios e até mesmo drogas que veiculem no mercado e que sirvam para o tratamento de pacientes e seus problemas. Tudo isto se tornou possível porque existe uma realidade física, as moléculas químicas, que mediante o trabalho mental dos pesquisadores, foi operada uma transformação do original mediada pela razão.

Além disso, a nanotecnologia terapêutica pode ser aplicada em diagnósticos mais detalhados, desenvolvimento de materiais biocompatíveis e até mesmo em terapias gênicas. Essa abordagem tem o potencial de transformar o tratamento de doenças, tornando-o mais seguro e personalizado. O desenvolvimento de drogas artificiais, que não dependam de elementos do nosso organismo são algumas das principais aplicações dessa ciência. Trabalho mental a partir da realidade física.

Prática de Instrumentos Musicais

No campo das artes, especialmente na música, a prática de instrumentos musicais é um exemplo de como o uso de objetos físicos pode levar ao desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas. Aprender a tocar um instrumento envolve uma série de processos cognitivos, como a leitura de partituras, a coordenação motora fina e a memória auditiva.

Por exemplo, ao tocar piano, o músico deve coordenar as mãos de forma independente, seguir a partitura, e ao mesmo tempo prestar atenção ao ritmo e à dinâmica. Estudos têm mostrado que a prática de instrumentos musicais pode melhorar a memória, a atenção, e as habilidades espaciais (Patston, T. J., *The Cognitive Benefits of Learning Music*, 2014). Além disso, a música pode ter um impacto profundo no desenvolvimento emocional e na disciplina pessoal, contribuindo para a formação global do indivíduo.

A escrita musical, por seu turno, realmente possui uma riqueza de notações que permite capturar nuances interpretativas, acentuações e variações dinâmicas com uma precisão que a prosa, por sua natureza, não pode oferecer. Essa capacidade de detalhar os elementos performativos da música torna a partitura musical um meio especialmente poderoso para transmitir não apenas a sequência de notas, mas também as intenções expressivas e sensoriais do compositor.

É possível argumentar que a escrita musical possui uma superioridade em certos contextos, especialmente em termos de comunicação emocional, abstração matemática e precisão temporal.

Na partitura musical, existem várias notações que indicam como uma nota ou uma frase deve ser executada, em termos de volume (dinâmica), tempo (agógica), articulação (staccato, legato, etc.), e até mesmo emoção (espressivo, dolce). Por exemplo, as indicações de dinâmica como *piano* (suave) ou *forte* (forte) e suas variações (*crescendo*, *diminuendo*) ajudam o intérprete a entender a intensidade emocional que deve ser aplicada a diferentes partes da música. A prosa, por outro lado, depende de adjetivos e advérbios que, embora possam sugerir essas nuances, não possuem a mesma capacidade de instruir precisamente a execução de uma ideia.

O ritmo e o tempo na música são rigidamente controlados por notações como as figuras de tempo (semínima, colcheia, etc.) e marcações de tempo (*allegro*, *andante*, etc.). Esses elementos estruturam a experiência temporal da música de uma maneira que é muito mais precisa do que a prosa pode oferecer. A música pode manipular o tempo de forma quase matemática, criando padrões e variações que geram expectativas e surpresas sensoriais, enquanto a prosa, embora possa sugerir ritmo através da sintaxe e da escolha de palavras, não pode controlar o tempo de forma tão direta.

As notações de articulação, como *staccato*, *legato*, *accent*, *tenuto*, entre outras, indicam como as notas devem ser conectadas ou separadas, dando ao intérprete orientações sobre a textura e o caráter da performance. Essas indicações permitem uma variação de toque que é essencial para criar a expressividade musical. Em contraste, a prosa precisa confiar no contexto e na interpretação subjetiva do leitor para transmitir diferentes "tons" de leitura, e mesmo assim, esses tons não são tão claramente definidos quanto em uma partitura.

Comunicação Emocional

A música é frequentemente descrita como uma linguagem universal que pode transmitir emoções e estados de espírito com uma profundidade e uma complexidade que a palavra escrita pode não alcançar. A partitura musical, ao codificar essas emoções em notações específicas, permite que os compositores comuniquem sentimentos complexos sem a necessidade de palavras. O filósofo e musicólogo Theodor Adorno argumentava que a música, particularmente a música atonal, pode expressar nuances emocionais que não são possíveis de descrever com precisão em prosa.

A partitura musical, ao detalhar as nuances interpretativas, permite ao intérprete uma gama de possibilidades expressivas que podem ser diretamente vinculadas a resultados sensoriais específicos. A música pode provocar sensações físicas, como arrepio ou relaxamento, através da manipulação cuidadosa de suas dinâmicas e articulações, algo que é codificado diretamente na notação. Na prosa, essas sensações são evocadas mais indiretamente, através de descrições que dependem fortemente da interpretação pessoal e da imaginação do leitor.

Abstração e Precisão

A escrita musical é uma forma de notação que lida com a abstração matemática, particularmente em relação ao tempo e à frequência. A capacidade de uma partitura para representar com precisão a duração, a altura e a intensidade de uma nota permite uma reprodução exata da obra musical. Isso é algo que a escrita cursiva ou a prosa não podem fazer com a mesma exatidão. Por exemplo, a obra de Johann Sebastian Bach frequentemente é elogiada por sua complexidade matemática, que é intrínseca à sua estrutura musical e seria impossível de ser expressa da mesma maneira em prosa.

- Claude Debussy é um exemplo notável de um compositor que utilizou uma vasta gama de notações para capturar nuances sensoriais e atmosféricas em suas partituras.

- Igor Stravinsky, em obras como *Le Sacre du Printemps*, explora a complexidade rítmica e dinâmica que só a notação musical pode capturar com precisão.

- O livro *The Interpretation of Music* de Thurston Dart discute em profundidade como as notações musicais informam a interpretação e os resultados sensoriais.

Transcendência do Significado Literal

A música frequentemente transcende o significado literal. Enquanto a prosa está presa ao significado das palavras, a música pode evocar ideias e emoções que estão além do alcance da linguagem verbal. Isso foi explorado por compositores como Ludwig van Beethoven, cuja música muitas vezes transmitia ideias filosóficas profundas sem o uso de palavras. Richard Wagner também explorou a ideia da Gesamtkunstwerk, ou "obra de arte total", onde a música, o drama e a poesia se combinam para criar uma experiência estética mais completa.

Embora a escrita musical não possa substituir a escrita cursiva ou a prosa em muitos aspectos, ela oferece uma superioridade em termos de comunicação emocional, precisão abstrata e capacidade de transcender o significado literal, o que pode ser especialmente poderoso na expressão artística e filosófica.

No entanto, podemos entender a superioridade da escrita musical em termos de notação, pois a sua capacidade de capturar e transmitir uma vasta gama de nuances interpretativas e sensoriais que vão além do que a prosa pode descrever. A música, através de sua notação precisa e específica, consegue comunicar intenções expressivas e afetivas de forma direta e eficaz, tornando-se um meio poderoso de expressão que ultrapassa as limitações da palavra escrita.

Todas estas explicações sobre a música têm como sua base física os instrumentos. Sem essa base física não poderíamos transcender da forma como analisamos acima.

Qual a lição que temos a aprender?

Os objetos físicos funcionam como âncoras no mundo sensorial, conectando ideias abstratas à realidade concreta. Essa interação direta com o mundo físico é crucial para internalizar e compreender teorias complexas que, de outra forma, poderiam parecer demasiado distantes ou intangíveis. A complexidade do mundo muitas vezes é expressa através de conceitos abstratos, como números, fórmulas matemáticas, ou até mesmo valores morais e espirituais.

Os objetos físicos muitas vezes carregam simbolismos que transcendem sua mera materialidade. Uma cruz, por exemplo, é um objeto simples em termos de sua estrutura física, mas carrega um valor espiritual profundo em muitas tradições religiosas. Este valor simbólico permite que conceitos transcendentes e complexos sejam acessíveis e compreensíveis, criando uma ponte entre o mundo material e o espiritual. Assim, os objetos físicos não apenas facilitam a compreensão de complexidades tangíveis, mas também servem como portais para o entendimento de ideias e valores que vão além do físico.

Fixar-se exclusivamente nos objetos físicos, sem buscar os conceitos e valores que eles representam ou possibilitam, pode ser considerado uma forma de rebaixamento intelectual e espiritual, pois limita o potencial de entendimento e transcendência que esses objetos podem oferecer. Essa fixação pode levar a uma visão superficial do mundo, onde o significado profundo e a complexidade subjacente são negligenciados em favor de uma apreciação meramente materialista.

Focar-se nos objetos físicos pode levar a uma visão materialista da vida, onde o valor é atribuído principalmente ao que pode ser possuído ou acumulado. Isso pode criar um senso de apego aos bens materiais, obscurecendo a busca por valores mais elevados, como o conhecimento, a verdade, a beleza e a justiça. É nessa situação de rebaixamento que a humanidade pecadora está aprisionada. Jesus veio para nos libertar dessa carceragem. Na nova Terra o foco não será a realidade física, mas o reino de justiça onde os conceitos e seus valores serão vistos sem o ofuscamento dos objetos.

Referências

- Theodor W. Adorno, *Philosophy of New Music*.

- Leonard B. Meyer, *Emotion and Meaning in Music*.

- Douglas Hofstadter, *Gödel, Escher, Bach: An Eternal Golden Braid* – especialmente na relação entre música e matemática.

- Aquino, T. de. (1947). *Summa Theologiae*. Trad. Fathers of the English Dominican Province.

- Bíblia. (s/d). *Almeida Revista e Corrigida*.

- Celano, T. (1228). *Vita Prima*.

- Florensky, P. (1996). *Theology of the Icon*. St. Vladimir’s Seminary Press.

- Kant, I. (1781). *Crítica da Razão Pura*.

- Platão. (1995). *Fedro*. Trad. Robin Waterfield. Oxford University Press.

- Schimmel, A. (1975). *Mystical Dimensions of Islam*. The University of North Carolina Press.

- Teresa de Ávila, S. (1577). *O Castelo Interior*.

 

 

 

quarta-feira, 17 de julho de 2024

O Conflito dos Pressupostos: Humanismo e Iluminismo à Luz dos Princípios Bíblicos

 O texto abaixo, é uma continuação de um texto intitulado “O conflito: pressupostos”, o qual é parte do cervo deste blogue. Ali, analisamos o empenho satânico para represar o efeito causado pelo rio de informações nascido na Bíblia. Os movimentos que estão em análise no texto abaixo, são a inundação do vômito que saiu da boca do dragão (Apocalipse 12:15). Facilmente podemos discernir o grande conflito quando comparamos os pressupostos dos referidos movimentos com os propósitos bíblicos.

O humanismo e o iluminismo são dois movimentos intelectuais distintos, mas ambos tiveram um impacto significativo na história e na forma como as pessoas compreendem o mundo. O humanismo surgiu na Itália no século XIV, valorizando a antiguidade clássica e o conhecimento humano. Já o iluminismo foi um movimento cultural europeu dos séculos XVII e XVIII que buscava mudanças políticas, econômicas e sociais. As diferenças e convergências se dão nos seguintes aspectos:

O humanismo Defende o antropocentrismo, ou seja, a ideia de que o homem é a medida de todas as coisas e está no centro da natureza. Promove a educação e a razão como meios para atingir a grandeza humana.

Em razão da valorização do ser humano, o humanismo coloca o anthropos e suas capacidades no cerne do pensamento filosófico e cultural, enfatizando a dignidade e o valor intrínseco de cada pessoa (é evidente que estas ideias estavam no diálogo entre a serpente e Eva: “...serão como Deus...”). Neste caso, a racionalidade é a que leva ao livre arbítrio, este completamente alicerçado na capacidade humana de tomar decisões livres, o que promove a ideia de autodesenvolvimento e autoaperfeiçoamento, tendo como fundamento a valorização do estudo da literatura, filosofia, história e artes como meios para entender a condição humana e desenvolver virtudes. Essas noções são diametralmente opostas às instruções bíblicas. “Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia” (Salmos 25:5); “Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (João 3:21).

Embora não seja necessariamente antirreligioso o secularismo, separação entre o Estado e as instituições religiosas, próprio do humanismo, tende a enfatizar a importância das realizações humanas fora do contexto religioso.

Por seu turno, o humanismo foca na capacidade humana de atingir grandeza por meio da educação e da razão, enquanto o iluminismo defende a primazia da razão e da ciência para guiar a humanidade.

para o iluminismo, o racionalismo e a Ciência produzirão uma confiança profunda na razão humana e no método científico como ferramentas para compreender e melhorar o mundo, sendo assim assegurado o progresso contínuo da humanidade através do conhecimento, ciência, e inovação social e tecnológica.

Por outro lado, a tecnologia trará a valorização dos direitos e liberdades individuais, incluindo liberdade de expressão, religião e pensamento, bem como a defesa da igualdade perante a lei. Claramente isso pressupõe secularismo e laicidade, promovendo a ideia de que as questões religiosas não devem interferir nos assuntos públicos e políticos. Na verdade, estamos falando de uma crítica às autoridades tradicionais sejam elas políticas, religiosas ou sociais, em favor de uma sociedade mais justa e equitativa baseada na razão (cada ser humano possui impressões éticas e morais inatas) e na justiça originária na experiência humana e não em tradições religiosas. Para tal será necessária a crença de que a educação humanista e secularizada é fundamental para a emancipação do indivíduo e o desenvolvimento de uma sociedade esclarecida e informada.

Ambos os movimentos compartilham uma ênfase na razão e no potencial humano, mas o humanismo tende a focar mais na dignidade e valor individual, enquanto o iluminismo enfatiza o progresso e a aplicação prática da razão para melhorar a sociedade como um todo.

Se pudéssemos fazer uma mescla dos dois movimentos teríamos que o humanismo e o iluminismo, embora distintos em suas origens e ênfases, convergem em sua celebração do potencial humano e na crença no poder da razão. O humanismo, emergindo no Renascimento, coloca o ser humano no centro do universo, destacando a dignidade e o valor intrínseco de cada indivíduo. Este movimento ressuscitou o estudo das humanidades — literatura, filosofia, história e artes — como meios para entender a condição humana e desenvolver virtudes. A racionalidade e o livre-arbítrio são pilares fundamentais, promovendo a ideia de que os seres humanos têm a capacidade e a responsabilidade de se auto aperfeiçoar.

Por sua vez, o iluminismo, florescendo nos séculos XVII e XVIII, também coloca grande ênfase na razão, mas com um foco particular no progresso e na aplicação do método científico para compreender e transformar o mundo. A confiança na ciência e no racionalismo impulsionou inovações que moldaram a modernidade, fomentando uma visão de progresso contínuo. Os iluministas defendiam ardorosamente a liberdade e os direitos individuais, argumentando que a emancipação humana se baseia na liberdade de expressão, pensamento e religião (esta não baseada na Bíblia), bem como na igualdade perante a lei.

Ambos os movimentos compartilham uma valorização do secularismo. O humanismo, embora não necessariamente antirreligioso, defende que as realizações humanas podem ser celebradas independentemente do contexto religioso. O iluminismo, por seu turno, propôs a separação entre Igreja e Estado, sustentando que as questões religiosas não deveriam interferir nos assuntos públicos e políticos, posto que são tradições místicas, variando ao sabor das visões de mundo.

Essa convergência de ideias não apenas protestou as autoridades tradicionais, mas também promoveu uma nova visão de educação e ilustração. Para os humanistas, o estudo das humanidades era essencial para o desenvolvimento pessoal e moral. Já os iluministas viam a educação como a chave para a emancipação do indivíduo e para o avanço de uma sociedade mais esclarecida e justa, com indivíduos acessando livremente ter os mesmos objetos. Quanto mais educação, mais facilidade para acessar objetos, ou seja, a justiça abonará oportunidades iguais para aquisição de bens materiais. É importante lembrar que para o cristianismo, baseado na Bíblia, justiça tem a ver com possibilidades equitativas de crescimento moral em valores e seus significados, uma visão baseada na razão impressa na Torá judaica, sendo que os objetos são apenas pontos de inflexão para apoiar o crescimento em princípios e valores e mudanças de direção.

Assim, a fusão dos princípios humanistas e iluministas molda uma visão de mundo que celebra a capacidade humana de raciocinar, criar e progredir. Essa síntese promove um ideal de sociedade onde a dignidade humana é respeitada, a razão e a ciência são ferramentas essenciais para o progresso, e os direitos e liberdades individuais são fundamentais para a realização de uma vida plena e significativa. Em essência, esses movimentos combinados oferecem uma perspectiva otimista e progressista sobre o potencial humano e o desenvolvimento da civilização.

Ponderando que ambos os movimentos colocam o homem como sendo capaz de encontrar todas as soluções civilizatórias, e que é a razão humana a fonte de toda virtude, encontramos algumas incongruências entre os pressupostos do humanismo e do iluminismo e os propósitos bíblicos, especialmente no que diz respeito à visão sobre o ser humano, a fonte de moralidade e o papel da religião. Aqui estão algumas dessas incongruências:

Humanismo

1. Valorização do Ser Humano:

   - Humanismo: Coloca o ser humano no centro e valoriza a dignidade e o valor intrínseco de cada pessoa.

   - Bíblia: Embora a Bíblia também valorize a dignidade humana (criação à imagem de Deus), coloca Deus no centro de todas as coisas, e a dignidade humana é derivada do relacionamento com Deus.

2. Racionalidade e Livre-Arbítrio:

   - Humanismo: Acredita na capacidade humana de raciocinar e tomar decisões livres.

   -Bíblia: Afirma a importância do livre-arbítrio, mas também enfatiza a necessidade de orientação divina e a limitação da razão humana devido ao pecado.

3. Secularismo:

   - Humanismo: Promove uma visão secular, independente do contexto religioso.

   - Bíblia: Enfatiza a importância da fé e da submissão a Deus em todas as áreas da vida.

 Iluminismo

1. Racionalismo e Ciência:

   - Iluminismo: Confiança profunda na razão humana e no método científico como ferramentas principais para compreender e melhorar o mundo.

   - Bíblia: Reconhece o valor da razão e da observação do mundo natural, mas enfatiza que o verdadeiro entendimento e sabedoria vêm de Deus.

2. Progresso:

   - Iluminismo: Crença no progresso contínuo da humanidade através do conhecimento e inovação.

   - Bíblia: Embora a Bíblia não seja contra o progresso, ela coloca uma ênfase maior na transformação espiritual e na esperança de um futuro redentor através de Cristo.

3. Liberdade e Direitos Individuais:

   - Iluminismo: Valorização dos direitos e liberdades individuais.

   - Bíblia: Reconhece a importância da liberdade, mas ensina que a verdadeira liberdade é encontrada na obediência a Deus e em viver de acordo com Seus mandamentos. Não foca no indivíduo, mas na vida em coletividade e na cooperação com Deus e com os semelhantes, os dois princípios da Torá.

 

4. Secularismo e Laicidade:

   - Iluminismo: Defende a separação entre Igreja e Estado.

   - Bíblia: Embora haja passagens que reconheçam diferentes esferas de autoridade (como "dar a César o que é de César"), a Bíblia geralmente não promove uma separação estrita entre fé e vida pública. No entanto, admite que a mistura estado e religião sempre leva ao uso da força estatal na imposição de dogmas religiosos, um erro bíblico, pois o serviço a Deus é sempre por amor e não pela força.

As principais incongruências surgem do fato de que tanto o humanismo quanto o iluminismo tendem a enfatizar a autonomia e a capacidade humana, muitas vezes de forma independente ou até em oposição à dependência de Deus, central na cosmovisão bíblica. Além disso, o secularismo promovido por esses movimentos pode entrar em conflito com a perspectiva bíblica que contempla Deus como fundamental para o justo implemento de todas as áreas da vida. No entanto, é possível encontrar pontos de convergência em áreas como a valorização da dignidade humana e a busca por conhecimento, desde que estes sejam entendidos dentro de uma estrutura teológica que coloca Deus no centro.

Perspectiva Adventista do Sétimo Dia

Considerando que os movimentos humanista e iluminismo colocam o homem como a solução para seus próprios dilemas, ambos travam uma espécie de duelo com a Bíblia, onde a verdade não está na razão humana e no cientificismo, mas, na obediência aos princípios sagrados, os quais têm sua origem em Deus. Por essa razão, torna-se interessante verificar o que pensam, em particular os adventistas do sétimo dia, uma vez que estes não perfilam com os cristãos tradicionais ou católicos e evangélicos (são classificados de seita). 

Os Adventistas do Sétimo Dia são uma denominação cristã com crenças fundamentadas na interpretação literal e histórica da Bíblia. Algumas ideias do humanismo e do iluminismo podem entrar em contradição com essas crenças. Aqui estão algumas das principais áreas de conflito:

Humanismo

1. Valorização do Ser Humano:

   - Humanismo: Coloca o ser humano no centro e valoriza a dignidade e o valor intrínseco de cada pessoa.

   - Adventistas: Embora também valorizem a dignidade humana (criada à imagem de Deus), acreditam que a centralidade deve ser em Deus e em Seu plano para a humanidade.

2. Racionalidade e Livre-Arbítrio:

   - Humanismo: Enfatiza a capacidade humana de raciocinar e tomar decisões livres.

   - Adventistas: Reconhecem o livre-arbítrio, mas enfatizam a necessidade de orientação divina e a limitação da razão humana devido ao pecado.

3. Secularismo:

   - Humanismo: Promove uma visão secular, independente do contexto religioso.

   - Adventistas: Acreditam que a fé deve influenciar todas as áreas da vida e que Deus deve ser central em todas as decisões. Acreditam que a separação entre religião e estado é salutar à liberdade de consciência, sendo que, as leis deveriam estar baseadas na busca pela justiça, igualdade e proteção dos direitos humanos, refletindo os ensinamentos cristãos de amor ao próximo e compaixão.

 Iluminismo

1. Racionalismo e Ciência:

   - Iluminismo: Confiança profunda na razão humana e no método científico como ferramentas principais para compreender e melhorar o mundo.

   - Adventistas: Valorizam a ciência e a razão, mas acreditam que o verdadeiro entendimento vem de Deus. Eles sustentam que a Bíblia é uma fonte categórica de conhecimento e sabedoria (Jeremias 2:13; Jó 28:28; Provérbios 2:6).

2. Progresso:

   - Iluminismo: Crença no progresso contínuo da humanidade através do conhecimento e inovação.

   - Adventistas: Acreditam no progresso, mas colocam maior ênfase na transformação espiritual e na esperança do retorno de Cristo, que trará a verdadeira renovação (Isaías 55:11; Tessalonicenses 4:1).

3. Liberdade e Direitos Individuais:

   - Iluminismo: Valorização dos direitos e liberdades individuais.

   - Adventistas: Valorizam a liberdade religiosa e os direitos individuais, mas acreditam que a verdadeira liberdade é encontrada em viver de acordo com a vontade de Deus, conforme a lei dos dez mandamentos (Mateus 11:29; Efésios 4:13).

4. Secularismo e Laicidade:

   - Iluminismo: Defende a separação entre Igreja e Estado.

   - Adventistas: Apoiariam a separação em termos de evitar a imposição religiosa pelo Estado, mas acreditam que a fé deve influenciar a vida pública e pessoal.

Pontos de Convergência e Divergência

Convergências:

- Valorização da Educação: Ambos valorizam a educação, mas os adventistas enfatizam a educação que inclui formação espiritual.

- Dignidade Humana: Ambos valorizam a dignidade humana, embora os adventistas vejam essa dignidade como derivada de ser criado à imagem de Deus.

Divergências:

- Fonte da Moralidade: Para os humanistas e iluministas, a moralidade pode ser baseada na razão e no consenso social. Para os adventistas, a moralidade está fundamentada nos ensinamentos bíblicos.

- Centralidade de Deus: O secularismo e a ênfase na autonomia humana dos humanistas e iluministas contrastam com a visão adventista de que Deus deve ser central em todas as áreas da vida.

- Destino Humano: O progresso humano contínuo promovido pelo iluminismo contrasta com a visão adventista de que a solução final para os problemas da humanidade virá com o retorno de Cristo.

Em resumo, enquanto há áreas onde os adventistas podem encontrar pontos de concordância com os princípios do humanismo e do iluminismo, especialmente na valorização da dignidade humana e na educação, há também áreas de significativa divergência, especialmente no que se refere à centralidade de Deus e à fonte da moralidade e do entendimento humano.

Os pontos de concordância não são taxativos, mas algo evasivos, implicando que os movimentos humanista e iluminista têm distanciamentos irreconciliáveis com os adventistas. Isto indica que a fonte dos movimentos tem origem não bíblica. Ambos movimentos têm suas origens na árvore da ciência do bem e do mal.